Primavera começa com calor intenso e chuvas desiguais no Brasil


A primavera começa oficialmente no Brasil nesta segunda-feira, 22 de setembro, trazendo consigo uma combinação de cenários climáticos que prometem desafiar tanto agricultores quanto gestores públicos. A nova estação, tradicionalmente associada a temperaturas mais amenas e ao florescimento da natureza, chega em 2025 marcada por ondas de calor e baixa umidade em boa parte do país.

Tânia Rêgo/Agência Brasil

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as previsões indicam chuvas acima da média em áreas específicas do Centro-Oeste, do Sudeste e no litoral do Nordeste. Em contrapartida, regiões do interior nordestino e áreas ao sul da Região Norte devem enfrentar estiagens, com precipitações abaixo da média. Essa distribuição desigual reforça a importância de acompanhar, semana a semana, os boletins climáticos para reduzir riscos e organizar estratégias de adaptação.

O papel do La Niña

Um dos fatores que pode influenciar a dinâmica da primavera é a possível formação do fenômeno climático La Niña, conforme previsão da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA). O Inpe ressalta que, se confirmado, o fenômeno deverá ser de curta duração e intensidade fraca. Ainda assim, mesmo episódios de menor impacto podem modificar os padrões de chuva e temperatura, alterando desde o ritmo das plantações até a vulnerabilidade de áreas urbanas a alagamentos.

Historicamente, o La Niña está associado a alterações importantes no regime de chuvas na América do Sul, muitas vezes favorecendo secas em parte do Nordeste e chuvas intensas no Norte e Sul. A expectativa de que este episódio seja menos intenso não elimina a necessidade de atenção, especialmente em áreas que já sofrem com estiagens prolongadas.

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Foto: Marcelo Kuhlmann

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Prevenção e monitoramento

O Inpe reforça que a primavera exige vigilância constante sobre regiões de risco. Alagamentos, deslizamentos de terra e enchentes podem ocorrer em função de chuvas localizadas e intensas, mesmo em cenários de médias abaixo do esperado. O acompanhamento das previsões meteorológicas e a preparação de defesas civis locais tornam-se medidas fundamentais para minimizar impactos sobre a população.

As autoridades de diferentes níveis de governo são chamadas a integrar informações climáticas com ações práticas, como planos de evacuação, monitoramento de encostas e sistemas de alerta antecipado. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, a capacidade de resposta rápida pode significar a diferença entre tragédias e a preservação de vidas e infraestrutura.

A primavera como transição

Apesar dos alertas, a primavera carrega também o simbolismo da renovação. O próprio Inpe destaca que a estação funciona como ponte entre a seca do inverno e a estação chuvosa do verão, principalmente no centro do Brasil. Essa transição tem papel vital para a agricultura, já que o retorno gradual das chuvas ajuda a preparar o solo para o plantio e a recuperação de rios e reservatórios.

Além da função prática, a primavera é culturalmente celebrada por seu impacto visual. É o período em que árvores urbanas florescem, parques ganham novas cores e a natureza oferece um espetáculo que vai além da meteorologia. Mas mesmo essa beleza deve ser interpretada à luz das mudanças climáticas, que intensificam extremos como ondas de calor e secas fora de época.

Um retrato de contrastes

A chegada da primavera em 2025 reflete, portanto, os contrastes do clima brasileiro. Enquanto algumas regiões poderão comemorar chuvas acima da média, outras enfrentarão dificuldades com estiagens persistentes. O possível La Niña, ainda que fraco, adiciona uma camada de incerteza ao cenário.

Essa variabilidade mostra que a estação, muitas vezes vista apenas como um período de florescimento, precisa ser compreendida também como um momento crítico de preparação. A agricultura, o abastecimento de água e a própria saúde pública estão diretamente ligados à forma como a sociedade se adapta aos sinais emitidos pela natureza.

No fim, a primavera que começa não é apenas um convite ao encantamento com as flores, mas também um chamado à responsabilidade. O Brasil, diante da força e da diversidade de seu clima, tem na estação uma oportunidade de fortalecer práticas de prevenção, de valorizar a ciência climática e de reconhecer que viver em harmonia com a natureza exige mais do que contemplação exige ação.