Príncipe William lança parceria inédita pela proteção de defensores da Amazônia no United for Wildlife Summit


Durante o United for Wildlife Global Summit, realizado no dia 4 de novembro de 2025, no Rio de Janeiro, o Príncipe William anunciou uma iniciativa histórica voltada à proteção dos povos indígenas e dos defensores ambientais da Amazônia brasileira. A ação une a The Royal Foundation’s United for Wildlife à Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), ao Fundo Podáali, à Rainforest Foundation Norway (RFN) e à Re:wild, num esforço coletivo para enfrentar a escalada de violência e destruição ambiental na região.

54902578576 359840be66 o 1024x688 1

A urgência de proteger quem protege

A Amazônia vive um duplo colapso: a devastação ambiental e o aumento da violência contra quem a defende. Só em 2024, mais de 1,7 milhão de hectares de floresta foram derrubados — um ciclo alimentado por crimes ambientais como o garimpo ilegal, a grilagem e a extração clandestina de madeira. Para os povos indígenas, cujos territórios ocupam cerca de 27% da Amazônia brasileira, essa destruição atinge dimensões espirituais e existenciais, corroendo modos de vida ancestrais e ameaçando comunidades inteiras.

Em seu discurso de abertura, o Príncipe William foi enfático: “Não podemos gerir nossas florestas enquanto seus protetores vivem com medo. E não podemos proteger defensores ambientais sem garantir os territórios que eles defendem. Devemos proteger quem protege — só assim haverá futuro para esses ecossistemas vitais.”

A mensagem sintetiza o propósito central da nova parceria: fortalecer os sistemas de proteção liderados pelos próprios povos indígenas, garantir apoio jurídico, criar redes de resposta emergencial e ampliar a segurança de lideranças ameaçadas em nove estados da Amazônia.

Território, ancestralidade e resistência

Para Toya Manchineri, coordenador executivo da COIAB, a iniciativa chega em um momento decisivo. “A segurança daqueles que defendem as florestas com suas próprias vidas deve ser central nas discussões globais. Para nós, o território é sagrado — é onde o espiritual e o material se encontram. Defender nossas terras é uma missão herdada dos nossos ancestrais”, declarou. Ele ressaltou que a parceria com a The Royal Foundation e os demais aliados significa “proteger as vidas de quem protege a Terra”.

Os números refletem a urgência dessa proteção. Entre 2023 e 2024, o Brasil registrou 393 casos de violência contra defensores ambientais, segundo dados de organizações da sociedade civil. Povos indígenas e comunidades afrodescendentes foram os mais atingidos — representando cerca de um terço dos assassinatos e desaparecimentos relacionados à defesa ambiental no período.

Apesar do cenário sombrio, há provas concretas do impacto positivo da gestão indígena: o desmatamento em terras indígenas é 83% menor do que em áreas desprotegidas. Essa diferença revela que a conservação da floresta não é apenas uma questão técnica, mas cultural, espiritual e política — enraizada em sistemas próprios de conhecimento e governança.

onca-pintada-400x239 Príncipe William lança parceria inédita pela proteção de defensores da Amazônia no United for Wildlife Summit
ICMBIO/divulgação

VEJA TAMBÉM: Lula afirma que extração de petróleo na Foz do Amazonas dependerá de novo aval ambiental

Parceria internacional com impacto local

A nova aliança entre United for Wildlife, COIAB, Fundo Podáali, RFN e Re:wild visa remover barreiras que impedem a segurança plena das lideranças indígenas. Entre as ações previstas estão a criação de um fundo emergencial de proteção, o fortalecimento de redes jurídicas de apoio e o desenvolvimento de uma plataforma compartilhada de dados para monitorar ameaças e respostas em tempo real.

O projeto também busca amplificar, no cenário global, a relevância dos povos indígenas como guardiões do clima. A COIAB representa cerca de 750 mil indígenas, distribuídos por mais de 110 milhões de hectares de território amazônico — uma das maiores redes de representação indígena do planeta.

Segundo Dr. Tom Clements, diretor executivo do United for Wildlife, “proteger as terras e os recursos das comunidades indígenas é uma das maneiras mais eficazes de proteger a natureza e combater as mudanças climáticas. Esta iniciativa é liderada por mecanismos de governança indígena e mostra como a comunidade global pode apoiar quem está na linha de frente da conservação”.

Um chamado global

O United for Wildlife Global Summit, fundado em 2014 sob a liderança do Príncipe William, reuniu em 2025 líderes de governos, empresas, cientistas e ativistas para discutir o aumento dos crimes ambientais e propor respostas conjuntas. O evento no Rio de Janeiro marcou o início de uma nova etapa para o programa — uma fase que combina diplomacia, ciência e justiça ambiental.

Mais do que um gesto simbólico, o anúncio reforça uma mudança de paradigma: a proteção da Amazônia só será efetiva se os povos indígenas forem reconhecidos como protagonistas, e não como beneficiários. Em um contexto de crescente violência ambiental e desinformação, a iniciativa propõe um caminho ético e colaborativo para garantir o futuro do maior bioma tropical do planeta.