Na movimentada Praça Princesa Isabel, em Belém, surge um novo equipamento que propõe virar jogo na relação entre resíduos e renda. Nesta quarta-feira (12), será inaugurada a primeira unidade no Pará da Estação Preço de Fábrica — um ponto de coleta que remunera diretamente em Pix quem entregar vidro, papel ou plástico para reciclagem. A iniciativa conecta economia circular, tecnologia e cidadania à urgência de tratar os desafios ambientais da Amazônia.
A dinâmica é simples e audaciosa. O projeto — fruto da parceria entre o Grupo Boticário e a startup Green Mining — convida qualquer pessoa a baixar o aplicativo da Green Mining, cadastrar-se, levar os materiais aceitos (papel branco, papelão, papel cartão, plástico PET verde/azul/transparente e vidro) ao ponto de entrega e, a partir de um peso mínimo acumulado, receber crédito via Pix na sexta-feira. Segundo o anúncio, o pagamento será acima dos valores de mercado tradicionais.
Por que essa iniciativa importa? Em primeiro lugar, porque transfere valor direto a quem separa resíduos — catadores autônomos, pessoas com pouco acesso à renda extra, quem quer colaborar com o ambiente e ainda ganhar por isso. A proposta se articula num cenário onde a logística reversa no Brasil enfrenta falhas históricas, intermediários fazem a diferença e os resíduos acabam em aterros ou rios. Com a Estação Preço de Fábrica, o valor é repassado ao individuo que entrega, enquanto o material segue para beneficiamento industrial.
Além disso, o projeto amadurece o conceito de economia circular na Amazônia — região marcada por desafios únicos de infraestrutura, coleta e destinação. Ao instalar o equipamento em Belém durante a COP30, o símbolo é duplo: conecta o discurso global ao território local, e materializa a ideia de que “resíduo é recurso”. O diretor de ESG do Grupo Boticário, Luis Meyer, afirma que o momento fortalece “ações sustentáveis … especialmente em uma região com desafios únicos”. O CEO da Green Mining, Rodrigo Oliveira, reforça que “queremos levar dignidade aos catadores autônomos e fortalecer uma rede colaborativa de reciclagem”.

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Na prática, o usuário faz o cadastro, informa o material, leva até o local e recebe um recibo. Quando o valor acumulado atinge R$ 10, o sistema deposita automaticamente o montante via Pix — às sextas-feiras. A iniciativa menciona que, em outras localidades onde já foi aplicada, o modelo já contribuiu para fortalecer a cadeia de reciclagem e gerar renda para comunidades vulneráveis.
O ponto de coleta aceita vidro, papel branco, papelão, papel cartão e plástico PET verde, transparente e azul. Além do Grupo Boticário e da Green Mining, o projeto conta com apoio da Electrolux Group América Latina e da Prefeitura de Belém, que ampliam o escopo para eletrodomésticos e fortalecem a cadeia local de resíduos sólidos.
Do ponto de vista estratégico, a implantação em Belém representa um ensaio de economia circular adaptada à Amazônia — com logística, remuneração direta, tecnologia de cadastro e pagamento, e articulação entre iniciativa privada, startups, governo local e população. O modelo sugere que o futuro dos resíduos pode estar em valorizar quem vive da coleta, em vez de somente penalizar quem gera resíduos.
Mas há desafios à vista. A replicação exige infraestrutura — transporte dos materiais, separação adequada, beneficiamento industrial, mercado para as recicláveis e educação para o descarte correto. A ação durante a COP30 ajuda a dar visibilidade, mas para que o impacto seja sustentável será preciso acompanhamento, escala e vinculação ao desenvolvimento local. Ainda assim, é um passo concreto que demonstra como um ponto de coleta pode virar pivô de transformação social e ambiental.
Em síntese, a Estação Preço de Fábrica em Belém une três vetores: remuneração imediata, circulação de materiais recicláveis e articulação territorial. Num cenário onde a economia do descarte quase sempre beneficia intermediários ou gera fragilidade para os coletores, esse modelo propõe que o valor flua para quem entrega. Se funcionar bem, pode se tornar referência para outras cidades amazônicas e regiões com desafios similares.
À medida que o planeta discute neutralidade, descarbonização e economia verde nos fóruns internacionais, iniciativas como essa demonstram que a ação também pode (e deve) começar na praça da cidade — com vidro, papel e plástico virando renda, e pessoas virando agentes da mudança.






































