Recifes de corais do Caribe podem parar de crescer até 2040, alerta estudo


Os recifes de corais do Caribe, considerados um dos ecossistemas marinhos mais ricos e importantes do planeta, estão à beira de um colapso sem precedentes. Um estudo liderado por Chris Perry, professor da Universidade de Exeter no Reino Unido, alerta que mais de 70% dessas formações poderão deixar de crescer e começar a se deteriorar já em 2040, caso o aquecimento global siga o ritmo atual.

Edson Acioli/ICMBio

Mais do que paisagens exuberantes, os recifes exercem um papel vital: funcionam como barreiras naturais contra tempestades e ciclones, reduzindo a força das ondas antes que elas atinjam as áreas costeiras. Essa proteção é indispensável para milhões de pessoas que vivem em ilhas e zonas costeiras baixas. Para que mantenham esse papel, porém, precisam crescer em um ritmo capaz de acompanhar a elevação do nível do mar.

Hoje, essa capacidade está cada vez mais comprometida. Os recifes enfrentam uma combinação de ameaças: poluição, doenças marinhas, pesca predatória e, sobretudo, os efeitos da mudança climática. O aumento da temperatura da água provoca o chamado branqueamento dos corais, processo em que os organismos perdem as algas que lhes fornecem energia e podem morrer em seguida. Além disso, a maior concentração de dióxido de carbono na atmosfera torna a água do oceano mais ácida, dificultando a formação dos esqueletos calcários que sustentam as colônias de coral.

O resultado é uma degradação progressiva, que já vem sendo documentada nas últimas décadas em diferentes pontos do Caribe, incluindo os Florida Keys, a costa caribenha do México e a ilha de Bonaire, território especial dos Países Baixos. Nessas regiões, cientistas vêm registrando surtos de doenças, episódios de calor extremo e o declínio contínuo da saúde dos recifes.

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A pesquisa e suas conclusões

Para projetar o futuro dos recifes caribenhos, os pesquisadores recorreram a duas estratégias complementares. Primeiro, analisaram seções verticais de antigos recifes fossilizados, expostos por processos de soerguimento costeiro. Esses fósseis oferecem uma espécie de linha do tempo natural, mostrando como diferentes comunidades de corais cresceram e se adaptaram ao longo de milhares de anos.

Em seguida, cruzaram esse conhecimento histórico com dados ecológicos atuais, obtidos em mais de 400 recifes modernos espalhados pelo Caribe. Esse conjunto de informações permitiu calcular as taxas de crescimento hoje observadas. Por fim, os cientistas aplicaram modelos climáticos que simulam o impacto do aquecimento global até o final do século.

Os resultados são preocupantes: até 2040, a maioria dos recifes da região pode deixar de crescer. Em vez disso, começariam a se desgastar, incapazes de compensar a erosão natural. Se o aquecimento global atingir 2 °C acima dos níveis pré-industriais, quase todos os recifes estarão em processo de erosão até 2100. Segundo projeções atuais, baseadas nas políticas climáticas em vigor, o planeta caminha para um aumento ainda maior, de cerca de 2,7 °C até o final do século.

Reefs submersos e riscos crescentes

Outro dado revelador do estudo é que os recifes dificilmente conseguirão acompanhar o ritmo da elevação do nível do mar. A previsão é que, em alguns locais, as águas estejam de 30 a 50 centímetros mais altas até 2060, e entre 70 centímetros e 1,2 metro em 2100. Esse afogamento progressivo reduzirá drasticamente a capacidade dos recifes de dissipar a energia das ondas.

Isso significa que comunidades costeiras ficarão mais vulneráveis à erosão, ao avanço do mar e a enchentes durante tempestades. A perda dos recifes também comprometerá ecossistemas associados, como os campos de ervas marinhas e manguezais, além de afetar a pesca artesanal que sustenta milhares de famílias em toda a região.

Apesar do tom de alerta, os cientistas enfatizam que ainda há caminhos para evitar o pior. Manter o aquecimento global abaixo de 2 °C é fundamental para preservar a capacidade mínima dos recifes de resistir. Isso exige acelerar cortes nas emissões de gases de efeito estufa e proteger as áreas marinhas já existentes contra impactos locais, como poluição e sobrepesca.

Mais do que uma questão ambiental, trata-se de uma questão de segurança e sobrevivência para milhões de pessoas que dependem dos recifes para alimentação, renda e proteção contra eventos extremos. Se nada mudar, o Caribe pode perder até 2100 não apenas um de seus símbolos naturais mais icônicos, mas também uma das suas maiores defesas contra a crise climática.