Em média anual, a população brasileira gera 77,1 milhões de toneladas de resíduos, e aproximadamente metade desse volume é despejado em lixões, córregos urbanos e terrenos baldios, sem a devida gestão adequada. Isso resulta na falta de aproveitamento de materiais recicláveis, além de representar sérios problemas para a saúde pública e o meio ambiente.
Essas informações provêm do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, um levantamento elaborado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema). Segundo a entidade, em 2022, prefeituras e setor privado destinaram R$ 31,2 bilhões para a limpeza urbana, um aumento de 4,2% em relação a 2021. Em média, as prefeituras gastam R$ 11,96 por habitante/mês nesse tipo de serviço, incluindo desde a varrição de ruas até a coleta e transporte de lixo, abrangendo diversas atividades relacionadas.
Entre os dados que evidenciam a quantidade de resíduos descartados e o ritmo de consumo, um aspecto relevante é a responsabilidade da população. Adelina Gomes de Sousa, presidente de uma associação de moradores em Brasilândia, há 26 anos, observa que, em períodos de chuvas intensas, o lixo se acumula nas áreas mais baixas do bairro, sendo arrastado pela água e invadindo residências. Ela atribui a culpa aos próprios moradores, destacando que os caminhões de coleta passam regularmente, mas o problema persiste devido aos focos de lixo comumente criados pela comunidade.
A falta de pontos de entrega voluntária (PEVs) para recicláveis também é uma questão destacada em bairros como Brasilândia, classificado em 91º lugar no Mapa da Desigualdade. Esses pontos são fundamentais para a coleta seletiva, mas a falta de conscientização da população contribui para índices sociais ruins. O distrito de Marsilac, por exemplo, ocupa a 94ª posição nesse ranking. Apesar das equipes de coleta agirem com frequência, a separação adequada do lixo ainda é um desafio.
Edmilson Afonso da Silva, agricultor residente em Marsilac, destaca a importância de todos separarem corretamente o lixo, iniciando pela educação nas escolas. No entanto, ele observa que muitas pessoas não adotam essa prática, resultando em problemas como a presença de animais nos resíduos. A falta de conscientização é apontada também por Simone Carvalho, do Movimento Plástico Transforma, que ressalta a necessidade de a população se responsabilizar pelo que produz de resíduo e destaca o impacto negativo da falta de triagem adequada nos catadores de recicláveis e na cadeia produtiva como um todo.
Em São Paulo, a Secretaria Executiva de Limpeza Urbana destaca a realização de mais de 600 ações de educação ambiental no primeiro semestre de 2023. No entanto, Simone Carvalho enfatiza que a conscientização individual é crucial, destacando a responsabilidade do cidadão desde a compra do produto até a correta disposição da embalagem. Essa abordagem educativa, exemplificada pelo Museu Catavento, visa envolver as crianças na promoção de práticas mais sustentáveis. Em São Paulo, os habitantes têm à disposição o portal de serviços 156, que conta com uma seção específica para questões relacionadas ao lixo.