A Europa tem avanรงado no quadro regulatรณrio de normas de sustentabilidade e lanรงou recentemente mais um modelo de relato com o objetivo de incluir grupos de empresas que estavam de fora do calendรกrio da CSRD. A Voluntary Sustainability Reporting Standard for non-listed SMEs (VSME), ou em portuguรชs, Norma Voluntรกria de Relatรณrios de Sustentabilidade para micro, pequenas e mรฉdias empresas nรฃo listadas, รฉ uma versรฃo bastante reduzida de uma norma de relatรณrio de sustentabilidade, com uma linguagem acessรญvel e abordagem simplificada, alรฉm de juridicamente nรฃo vinculativa.
Divulgaรงรฃo de informaรงรตes de sustentabilidade
Este modelo foi concebido com base numa perspectiva de โpensar pequenoโ, e considera caracterรญsticas fundamentais das micro, pequenas e mรฉdias empresas. O objetivo foi desenvolver um padrรฃo que pudesse apoiar essas organizaรงรตes na divulgaรงรฃo de informaรงรตes de sustentabilidade ร s principais contrapartes comerciais, sendo elas bancos ou grandes empresas.
A norma, que nรฃo faz parte da CSRD, abrange as mesmas questรตes que as Normas Europeias de Relatรณrios de Sustentabilidade (ESRS) para grandes empresas, mas de forma proporcional. O seu principal diferencial em relaรงรฃo ร ESRS, para alรฉm de ser uma norma voluntรกria e a quantidade de requisitos de relato, estรก na exclusรฃo da necessidade do princรญpio de materialidade, por considerar o tema complexo para este perfil de empresa.
Mรณdulos
O modelo รฉ dividido em dois mรณdulos, o bรกsico e o abrangente. O Mรณdulo Bรกsico รฉ direcionado especialmente ร s micro e pequenas empresas. Possui 11 solicitaรงรตes de divulgaรงรฃo, com enfoque nas informaรงรตes sobre o negรณcio, a conduta empresarial e as mรฉtricas ambientais e sociais.
Jรก o Mรณdulo Abrangente รฉ direcionado ร s empresas mais robustas, e deverรก ser utilizado de forma incremental ao mรณdulo bรกsico. O mรณdulo abrangente deve ser um alargamento dos conteรบdos B1 ao B11, do mรณdulo bรกsico, cobrindo uma divulgaรงรฃo mais ampla. Este mรณdulo foi pensado para dar resposta aos parceiros interessados nessas informaรงรตes, como os usuรกrios de relatรณrios, bancos, investidores e grandes empresas, devido ร necessidade desses perfis de gerir a cadeia de fornecimento para responder ร s suas prรณprias obrigaรงรตes de relatรณrio. Ao todo, a VSME cobre 20 divulgaรงรตes, sendo 11 do Mรณdulo Bรกsico e 9 do Abrangente.
Desafios
Apesar da norma ser bastante simplificada e atender a critรฉrios mรญnimos para uma divulgaรงรฃo de sustentabilidade, alguns aspetos ainda podem ser desafiadores para esta categoria de empresas, especialmente no que diz respeito ร cultura dessas organizaรงรตes. O relato de sustentabilidade requer alguma maturidade na identificaรงรฃo dessas declaraรงรตes, para alรฉm do aprendizado necessรกrio para a produรงรฃo do documento (com atenรงรฃo especial para nรฃo correr o risco de greenwashing). Alรฉm disso, para investir na criaรงรฃo de um relatรณrio de sustentabilidade, especialmente para as empresas nรฃo exportadoras, รฉ necessรกrio um conhecimento adequado para avaliar os benefรญcios da produรงรฃo e divulgaรงรฃo desse documento, sem contar a implementaรงรฃo da sustentabilidade no negรณcio.
Nesses รบltimos anos, o que temos observado รฉ um avanรงo expressivo do interesse das empresas exportadoras que fazem parte da cadeia de abastecimento das grandes empresas por relatar ESG, alรฉm de empresas de paรญses terceiros que exportam para a Europa. De acordo com o EFRAF, โespera-se que a VSME padronize as atuais solicitaรงรตes de dados ESG mรบltiplos (que representam um custo significativo de preparaรงรฃo para PMEs nรฃo listadas), reduzindo o nรบmero de solicitaรงรตes descoordenadas que recebemโ, entretanto, sem maturidade para desenvolver, mesmo que de forma simplificada, os temas materiais das organizaรงรตes e alguma noรงรฃo de impacto, essas questรตes continuarรฃo latentes.
VSME
A VSME รฉ o padrรฃo โmรญnimo do mรญnimoโ para um relato de sustentabilidade e, por isso, as empresas que nรฃo forem capazes de cumprir a este padrรฃo simplificado certamente terรฃo muita dificuldade para prestar declaraรงรตes de sustentabilidade que possam ser solicitadas no futuro, seja por seus clientes ou pelo setor financeiro.
Como mencionamos no artigo anterior, o arcabouรงo regulatรณrio em matรฉria de sustentabilidade nos รบltimos 5 anos foi bastante expressivo, mas ainda exige um aumento na curva de aprendizado, no desenvolvimento de habilidades multidisciplinares e transversais, alรฉm da criaรงรฃo de guias prรกticos que facilitam a sua aplicabilidade. ร necessรกrio conhecimento รฉtico, tรฉcnico e estรฉtico para que as empresas possam aproveitar as oportunidades de forma eficaz, algo sobre o qual tenho constantemente alertado.
Por fim, na minha opiniรฃo, a nova norma abre uma janela de oportunidade significativa para empresas de paรญses terceiros, especialmente do Brasil, mas pretendo abordar este assunto em um prรณximo artigo.
Por Yone Macedo Gomes
Yone Macedo Gomes รฉ doutoranda em Ambiente e Sustentabilidade na NOVA School of Science and Technology, alรฉm de estar matriculada na Pรณs-Graduaรงรฃo em Direito Europeu na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Possui um Mestrado em Comunicaรงรฃo e Cultura pela Universidade do Minho e um MBA em ESG pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC). Yone fundou o Grupo de Trabalho e Pesquisa em ESG e tem se dedicado ร investigaรงรฃo das normativas de sustentabilidade em organizaรงรตes e indรบstrias, com รชnfase nas diretivas CSRD, CSDDD e na Lei Antidesmatamento da Uniรฃo Europeia (EUDR).
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