Um estudo recente publicado no Journal of Adolescent Health alerta que adolescentes que passam mais de três horas por dia em atividades sedentárias, como jogar videogame, ler por lazer ou usar telas de forma recreativa, têm maior risco de desenvolver problemas psicológicos no futuro. A pesquisa, conduzida pelo Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King’s College London, analisou dados de 3.675 adolescentes do Reino Unido, acompanhados desde o início dos anos 2000.
O estudo destacou que o tempo moderado de exposição a telas (entre 60 e 119 minutos por dia) dedicado a atividades educacionais, como fazer lições de casa ou assistir aulas, foi associado a um menor sofrimento mental, atuando como um fator “protetor”. Por outro lado, o uso excessivo de telas para lazer, especialmente videogames, mostrou-se prejudicial à saúde mental.
Sedentarismo e saúde mental: uma relação preocupante
O comportamento sedentário entre adolescentes tem se tornado um problema global, com impactos significativos tanto na saúde física quanto mental. A falta de atividade física, aliada ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos, tem sido associada ao aumento de problemas como obesidade, doenças cardiovasculares e, mais recentemente, transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão.
A pesquisa analisou os hábitos dos participantes em dois momentos: aos 14 e aos 17 anos. Na primeira fase, os adolescentes registraram suas atividades diárias em um diário, categorizando-as em atividades físicas, tempo de sono, uso de telas para lazer, lazer sem telas e atividades educacionais sedentárias. Aos 17 anos, eles responderam a um questionário sobre seu estado psicológico, utilizando a escala de Kessler para medir sentimentos como nervosismo, desesperança e humor depressivo.
Resultados surpreendentes: até a leitura pode ser prejudicial
Os resultados mostraram que os adolescentes passavam, em média, quatro horas por dia em atividades educacionais sedentárias e cerca de três horas em atividades de lazer com ou sem telas. Aqueles que dedicavam mais de 180 minutos por dia a telas recreativas apresentaram maior sofrimento psicológico aos 17 anos.
Um achado inesperado foi que adolescentes que passavam mais de três horas por dia lendo por lazer (especialmente meninos) também relataram maior sofrimento psicológico. Segundo os pesquisadores, isso pode estar relacionado ao fato de que o tempo dedicado à leitura pode estar substituindo interações sociais ou atividades ao ar livre, que são benéficas para a saúde mental. Além disso, parte da leitura pode ser feita em dispositivos eletrônicos, o que também pode ser prejudicial devido à exposição à luz azul.
Videogames e isolamento: um risco maior
O estudo destacou que os videogames foram particularmente impactantes, com cada hora adicional de jogo associada a um aumento de 3% no sofrimento psicológico. Segundo Brendon Stubbs, professor do King’s College London e orientador do estudo, “os resultados sugerem uma relação clara entre o tempo excessivo de tela recreativa e problemas futuros de saúde mental”. Ele ressalta que o problema não é o uso da tela em si, mas o contexto em que ela é utilizada.
Como minimizar os impactos negativos
Com base nas descobertas, os pesquisadores sugerem algumas intervenções para reduzir os impactos negativos do sedentarismo na saúde mental dos adolescentes:
- Estabelecer limites: Limitar o tempo de tela recreativa a menos de três horas por dia, já que os riscos aumentam significativamente após esse período.
- Foco no contexto: Incentivar o uso de telas para atividades educacionais e estruturadas, que não apresentaram impactos negativos.
- Promover interações sociais: Estimular atividades de lazer que envolvam interação social ou atividades ao ar livre.
- Abordagens específicas por gênero: Considerar intervenções personalizadas, já que meninas e meninos tendem a usar telas de forma diferente.
- Apoio educacional: Garantir que os adolescentes se envolvam adequadamente em atividades acadêmicas, que foram associadas a menor sofrimento psicológico.
- Gerenciar o tempo de tela: Em vez de eliminar completamente o uso de telas, otimizar seu uso para atividades benéficas.
Comportamento sedentário: um desafio complexo
André Werneck, autor principal do estudo e doutorando na Universidade de São Paulo (USP), enfatiza que o comportamento sedentário é complexo e deve ser analisado em diferentes contextos. “Não se trata apenas de reduzir o tempo sedentário, mas de focar em atividades específicas que estão mais associadas ao sofrimento psicológico”, explica.
O estudo reforça a importância de equilibrar o tempo gasto em telas com outras atividades que promovam a saúde mental e física. Para os pesquisadores, intervenções bem direcionadas podem ajudar a mitigar os efeitos negativos do sedentarismo, especialmente em uma geração cada vez mais conectada.
O artigo completo, intitulado Prospective Association of Sedentary Behavior With Psychological Distress Among Adolescents, está disponível no site do Journal of Adolescent Health.
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