Suíça debate saída do Acordo de Paris por pressão de partido populista e influência de Trump

Autor: Redação Revista Amazônia

Após a decisão de Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris em 2017, o maior partido político da Suíça, o Partido Popular Suíço (SVP, na sigla em alemão), de orientação populista e direitista, está pressionando para que o país siga o mesmo caminho. A proposta surge após a rejeição, por ampla maioria, de uma iniciativa ambiental em um referendo realizado em fevereiro. Mas até que ponto essa exigência é viável, e quais seriam as consequências para a política climática suíça?

O contexto da polêmica

No dia 9 de fevereiro, os eleitores suíços rejeitaram, com mais de 60% dos votos, uma “iniciativa de responsabilidade ambiental” que buscava impor medidas mais rigorosas para combater as mudanças climáticas. O SVP celebrou o resultado, classificando a proposta como uma tentativa de “lançar a Suíça de volta à Idade da Pedra”. Em comunicado, o partido afirmou que a iniciativa traria restrições excessivas à habitação, aquecimento, alimentação e vestuário, além de aumentar os preços, destruir empregos e ampliar a pobreza.

Acordo de Paris 1

Aproveitando o momento, o SVP defendeu a saída da Suíça do Acordo de Paris, chamando as metas climáticas de “utópicas” e alertando para os custos financeiros e as supostas proibições que viriam com o cumprimento do tratado. Marcel Dettling, líder do partido, criticou a ratificação do acordo pelo governo suíço em 2017, alegando que foi feita sem consulta ao parlamento ou à população.

A viabilidade de uma saída

Apesar do discurso do SVP, a saída da Suíça do Acordo de Paris não seria simples. O tratado foi ratificado pelo Conselho Federal suíço em 2017, após aprovação parlamentar, e passou por um referendo opcional de 100 dias, durante o qual não houve contestação significativa. Isso sugere que, na época, a decisão contou com apoio tácito da população.

Para que o país deixe o acordo, seria necessário um decreto federal aprovado pelo parlamento, seguido de um referendo popular. Sébastien Duyck, advogado sênior do Centro de Direito Internacional do Ambiente, ressalta que tal movimento seria um “autogol diplomático”, já que a Suíça perderia influência nas discussões globais sobre o clima, sem se livrar de suas obrigações legais de combater as mudanças climáticas.

O que dizem os eleitores suíços?

Apesar da retórica do SVP, a maioria dos suíços parece apoiar a ação climática. Em junho de 2023, 60% dos eleitores aprovaram uma nova lei climática que estabelece metas ambiciosas, incluindo a neutralidade de carbono até 2050 e a aceleração da transição para energias renováveis. Albert Rösti, ministro do Meio Ambiente e membro do SVP, rejeitou as críticas de seu partido ao Acordo de Paris, afirmando que a população suíça está comprometida com os objetivos do tratado.

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ministro do Ambiente da Suíça, Albert Rösti – Imagem: AP Photo/Peter Dejong

“O ‘não’ no referendo não foi um ‘não’ à proteção do ambiente”, disse Rösti em coletiva de imprensa. Ele destacou que a Suíça apresentou recentemente seu plano climático nacional, comprometendo-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 65% até 2035.

Efeito Trump e o cenário global

A decisão de Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris inspirou outros líderes populistas a questionarem o tratado. Na Argentina, o presidente Javier Milei, aliado de Trump, já expressou ceticismo em relação aos esforços climáticos globais, chamando-os de “mentira socialista”. Na Indonésia, o comissário para o clima, Hashim Djojohadikusumo, questionou por que o país deveria cumprir o acordo se os EUA, um dos maiores emissores de carbono, não o fazem.

No entanto, até agora, os EUA são o único país que iniciou formalmente o processo de saída do Acordo de Paris. A pressão do SVP na Suíça reflete uma tendência global de questionamento das políticas climáticas, mas, no caso suíço, a forte tradição de participação popular e o apoio à ação climática sugerem que a saída do tratado não é iminente.

Especulações e expectativas

Enquanto o SVP tenta capitalizar o sentimento anti-regulação e o exemplo de Trump, a maioria dos suíços e seu governo parecem manter o compromisso com o Acordo de Paris. A discussão, no entanto, evidencia a tensão entre populismo e políticas ambientais, um debate que deve continuar a ganhar destaque no cenário global.


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