Por: Geólogo Alberto Rogério Benedito da Silva
Apesar da exploração do ouro no Pará ter iniciado nos idos de 1600 na região do Gurupi, nordeste paraense, o Tapajós que começou sua trajetória na década de 1950, com a chegada do, então, garimpeiro Nilçon Pinheiro, no Garimpo do Cuiu Cuiu, ainda perdura até hoje, já tendo passado por diversas fases. A primeira delas pela garimpagem mais tradicional de cuia e bateia, depois, na década de 1970, na região do Rio Marupá, com balsas ou dragas, retirando ouro do leito ativo do rio. Depois mais recentemente, as empresas de mineração intensificaram a pesquisa na região e algumas tiveram sucesso, tendo como exemplo a Serabi, no garimpo do Palito.
O verdadeiro retrato do Tapajós
O verdadeiro retrato do Tapajós é representado por cerca de 350 pistas de pouso que apoiaram o auge da garimpagem na década de 1970, mas que sempre emergem com maior ou menor pujança, em função da cotação do ouro. Falando nisso, vale lembrar que a onça do ouro (equivalente a 31 g) está cotada nas Bolsas de Londres e Nova York a cerca de US$ 2.500. mas já custou US$ 35 na década de 1960. Em 1980 quando houve o grande boom do ouro e o Brasil necessitava de vender ouro para comprar petróleo, a onça era cotada a US$ 480.
E entre altos e baixos o Tapajós viveu praticamente incólume a tudo isso, até mesmo o boom de Serra Pelada não afetou a sua performance, fazendo de Itaituba, na década de 1970, ser o aeroporto mais movimentado em termos de pousos e decolagens do mundo, pois contava com cerca de 350 aviões de pequenos portes, a maioria monomotores, que decolavam pela manhã e pousavam a tarde, tudo para dar suporte logístico ao garimpo, de forma que certa vez, devido ao alto fluxo aéreo, dois aviões pousaram um sobre o outro.
Estima-se que desde o início até o presente, a produção oficial da região tenha ultrapassada a 300 t, todavia, como a maioria da comercialização era feita de maneira
informal, esse valor pode até triplicar.
Ao longo do tempo, muito se tem feito para avançar e organizar a produção e a comercialização do ouro, todavia, foi em 1989 que houve o melhor avanço, a partir de uma iniciativa-conjunta do Governo do Pará, via da, então, Secretaria de Indústria Comércio e Mineração (Seicom) e Governo Federal (Ministério de Minas e Energia, DNPM e Banco Central). Nesse ano foram criadas as Leis n0 7.805/89 e 7.766/89, respectivamente, produção-via PLG e comercialização do ouro. Também no mesmo ano surgiu a AMOT-Associação dos Mineradores do Tapajós, que deu suporte técnico administrativo ao Sindicato dos Garimpeiros, possibilitando visibilidade à produção aurífera da região.
O mesmo esforço conjunto formatou o mercado do ouro, dando respaldo para que o metal
amarelo produzido pudesse ser comercializado na Bolsa de Mercadorias de São Paulo, tentando eliminar sua venda informal.
O período coincidiu com um evento que havia anualmente em Miami-USA, denominado de
Investing in the America, preceptor do PDAC (Prospectors Development Association of Canada), que ocorre anualmente em Toronto.
No evento de Miami, houve os primeiros contatos envolvendo líderes da Amot e do governo
paraense para atrair empresas de mineração a virem investir em parcerias com garimpeiros na região do Tapajós, em que a Serabi, no Garimpo do Palito, pode ser o melhor exemplo de case de sucesso.
Todavia, o grande legado do Tapajós é como uma atividade extrativista pode evoluir para
empresarial, dentro dos preceitos empresariais, econômicos, ambientais e sociais.