“Re-Amazonizar o Brasil” UFRJ lança debates sobre saberes ancestrais e futuro climático


Nos dias 4 e 5 de setembro, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) abrirá as portas do Festival do Conhecimento 2025, no Fórum de Ciência e Cultura, no Flamengo, zona sul da cidade. O tema escolhido para este ano, “Re-Amazonizar o Brasil: Saberes Ancestrais e Tecnologias”, reflete uma aposta ousada: recolocar os povos amazônicos e suas cosmologias no centro da reflexão sobre o futuro do país e do planeta.

Marcelo Camargo/Agência Brasil

O festival chega em sintonia com um dos maiores encontros globais do clima, a COP30, que será realizada em Belém do Pará em 2025. A ideia é antecipar, no Rio de Janeiro, parte dos diálogos que pautarão a conferência internacional. Para a pró-reitora de Extensão da UFRJ, Ivana Bentes, trata-se de um movimento estratégico: “É como se estivéssemos organizando uma pré-COP no Rio. Vamos receber algumas das lideranças que também estarão em Belém para debater os caminhos do clima e da Amazônia”.

O coração da Amazônia no Rio de Janeiro

O encontro reunirá indígenas, pesquisadores, artistas, ativistas e gestores públicos. Mais que um evento acadêmico, será um espaço de escuta e articulação de visões plurais. A abertura oficial, no dia 4, às 10h, contará com a apresentação do Manifesto Clima é Saúde, Saúde é Clima, documento do qual a UFRJ é signatária e que propõe integrar as agendas ambientais e de saúde pública em um mesmo eixo de ação.

Entre os convidados, estão nomes de grande relevância no cenário nacional e internacional. A liderança indígena Sinéia do Vale, representante do Brasil na COP30, levará ao festival a perspectiva dos povos originários nas negociações climáticas. Também estará presente o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, professor da UFRJ e referência mundial nos estudos sobre povos indígenas e suas cosmologias.

Outras presenças confirmadas ampliam a diversidade dos debates: Inara Nascimento, indígena Sateré-Mawé e professora na área de saúde coletiva e segurança alimentar; Dzoodzo Baniwa, ativista e educador comprometido com a formação escolar indígena dos povos baniwa e koripako; e Ethel Maciel, representante oficial da saúde do Brasil na COP30.

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Evento será realizado nos dias 4 e 5/9 | Arte: Pró-Reitoria de Extensão (PR-5)

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Saberes que atravessam tempos e territórios

A proposta de “Re-Amazonizar o Brasil” é tanto poética quanto política. Ao reunir ciência acadêmica, tecnologias contemporâneas e saberes tradicionais, o festival convida a pensar um futuro em que a Amazônia não é periferia, mas centro de soluções para crises ambientais globais.

Essa articulação entre mundos distintos reforça a vocação da UFRJ como espaço de diálogo e experimentação. “Ao reunir saberes ancestrais, ciência, arte e políticas públicas, reafirmamos o papel da universidade como articuladora de soluções para os grandes desafios do nosso tempo”, ressalta Ivana Bentes.

Na prática, os debates abordarão desde estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas até políticas de saúde coletiva e segurança alimentar. O encontro também deve projetar novas narrativas culturais sobre a Amazônia, abrindo espaço para artistas e comunicadores que atuam na região.

A proximidade com a COP30 transforma o festival em uma espécie de laboratório de ideias e práticas. Enquanto líderes globais preparam suas agendas para Belém, o Rio de Janeiro se torna palco de uma discussão essencial: como construir um país que reconheça a Amazônia não apenas como território de riquezas naturais, mas como guardiã de saberes e tecnologias de futuro.

Nesse sentido, “Re-Amazonizar” vai além de um tema de evento. É um convite para reconfigurar nossa relação com o território, valorizando vozes historicamente silenciadas e reconhecendo a centralidade da floresta nos desafios que atravessam o planeta inteiro.

O Festival do Conhecimento 2025, portanto, não será apenas um encontro acadêmico, mas um espaço de resistência, invenção e imaginação coletiva. Ao trazer a Amazônia para o centro das discussões, a UFRJ reafirma que o futuro climático e social do Brasil passa, necessariamente, pela escuta e pelo protagonismo de seus povos.