Um rio não existe sozinho: arte, ciência e ancestralidade em diálogo com a Amazônia


De outubro a dezembro, Belém recebe uma experiência inédita que transforma o Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi em território vivo de reflexão sobre a crise climática. A mostra coletiva “Um rio não existe sozinho”, realizada pelo Instituto Tomie Ohtake em parceria com o Museu Goeldi, convida o público a percorrer trilhas, clareiras e sombras da floresta, onde obras de nove artistas se integram ao ambiente como se fossem extensões do próprio ecossistema.

Divulgação

Aberta ao público de 3 de outubro a 30 de dezembro, a exposição não trata a floresta como cenário, mas como protagonista. Em vez de impor uma estética sobre o espaço, os trabalhos foram concebidos em diálogo direto com a biodiversidade local, respeitando seus ritmos, sons e cheiros. A proposta é reposicionar o visitante: em vez de espectador passivo, torna-se caminhante que respira a floresta, escuta seus sinais e reflete sobre os limites do planeta.

O projeto nasceu em 2024 como preparação para a COP 30, que acontecerá em novembro de 2025, em Belém. Desde então, artistas, mestres tradicionais, arquitetos, cientistas e ativistas participaram de encontros e seminários organizados pelo Instituto Tomie Ohtake, como os Diálogos São Paulo e os Diálogos Belém. Dessas trocas emergiram obras que agora ocupam o parque e propõem novas formas de imaginar a Amazônia em tempos de colapso ambiental.

A curadoria de Sabrina Fontenele, do Instituto Tomie Ohtake, e de Vânia Leal, convidada para a mostra, estruturou a exposição em torno de um princípio: a floresta é sujeito político, ativo e pulsante. Reconhecer isso, afirmam as curadoras, é também reconhecer a urgência da justiça climática e o papel histórico dos povos da Amazônia como guardiões desse território.

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Maquete virtual da obra 41ºC, de Mari Nagem, concebida para a exposição – Crédito: Instituto Tomie Ohtake

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Obras inéditas em diálogo com a floresta

Cada obra foi pensada como site specific, ou seja, criada especialmente para aquele espaço, respeitando a fauna, a vegetação e o contexto histórico de quase 130 anos do Museu Goeldi.

A artista Sallisa Rosa (GO) apresenta A terra esculpe a água, instalação em barro que evoca a relação ancestral entre terra e água. Rafael Segatto (ES), artista ligado ao mar, traz Enquanto correm as águas, que combina remos e cores simbólicas em uma cartografia poética de navegações e espiritualidades.

O paraense PV Dias propõe Paisagens commodities, videoprojeção que sobrepõe imagens do acervo do Museu Goeldi a registros atuais da destruição ambiental. Em Tela d’água, Noara Quintana (SC) recria espécies ameaçadas a partir de registros históricos. Já Elaine Arruda (PA) apresenta Entoar o vento e dançar marés, instalação que atravessa memórias femininas e ancestrais ligadas ao tempo e às águas.

A mineira Mari Nagem expõe 41°C, obra que transforma dados científicos da seca histórica de 2023 no Lago Tefé em paisagens visuais que alertam para a crise climática. Gustavo Caboco (RR/PR), do povo Wapichana, traz instalações que evocam a permanência indígena e a resistência às violências coloniais. Déba Tacana (RO) apresenta Luz que Ança, conectando ancestralidade e direitos humanos em cerâmica e vidro. Por fim, o escultor paraense Francelino Mesquita ergue instalações que resgatam o miriti e outros materiais naturais em um ativismo visual que clama pela proteção da Amazônia.

O percurso expositivo inclui ainda um pavilhão educativo projetado pelo Estúdio Flume, fundado pelos arquitetos Christian Teshirogi e Noelia Monteiro. Utilizando madeira e palha de ubuçu, o espaço integra técnicas tradicionais e sustentabilidade arquitetônica, reafirmando o compromisso do projeto com o impacto social e o fortalecimento comunitário.

Arte, ciência e responsabilidade coletiva

A mostra é viabilizada pelo Ministério da Cultura, via Lei de Incentivo à Cultura, e conta com apoio do Nubank como mantenedor institucional do Instituto Tomie Ohtake. Tem ainda patrocínio da AkzoNobel, da Aché Laboratórios Farmacêuticos e da PepsiCo, que também apoia o Instituto Tomie Ohtake por meio do ProAC, programa da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.

Mais do que exposição, “Um rio não existe sozinho” é convite ao engajamento. Ao unir arte, ciência e saberes tradicionais, a mostra desperta para a urgência da preservação ambiental e reforça que imaginar futuros possíveis exige tanto precisão científica quanto abertura poética.

Serviço:
Exposição coletiva Um rio não existe sozinho
Curadoria: Sabrina Fontenele e Vânia Leal
Pré-abertura: 2 de outubro de 2025 (convidados), 10h
Em cartaz de 3 de outubro a 30 de dezembro de 2025
De terça a domingo, das 9h às 17h
Ingresso: R$ 3,00 (Bilheteria aberta até às 16h)
Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi
Centro de Exposições Eduardo Galvão
Av. Gov Magalhães Barata, 376 – São Braz, Belém – PA
Fone: 91 3211-1700
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201 (Entrada pela Rua Coropé, 88) – Pinheiros SP
Metrô mais próximo – Estação Faria Lima/Linha 4 – amarela
Fone: 11 2245 1900