Vale e prefeito de Parauapebas travam embate em plena COP30


A tensão entre o prefeito de Parauapebas e a Vale ganhou novo capítulo durante a COP30, quando Aurélio Goiano afirmou publicamente que a mineradora “mente” e “deve bilhões” ao município. As declarações ecoaram entre autoridades, empresários e ativistas presentes no evento e rapidamente entraram na pauta nacional. Horas depois, a empresa respondeu de maneira firme, defendendo sua atuação e divulgando números destinados a sustentar sua versão dos fatos.

Foto: Marcelo Lelis / Ag. Pará

Segundo a mineradora, todas as acusações são infundadas. Em nota enviada ao portal Minera Brasil, a companhia afirmou cumprir rigorosamente suas obrigações fiscais e ressaltou que todos os processos relacionados ao recolhimento de impostos e royalties seguem a legislação brasileira e passam por escrutínio administrativo e judicial quando necessário. A empresa destacou especialmente os repasses de ISS e CFEM, duas das principais fontes de receita dos municípios mineradores.

A Vale informou que, entre 2020 e agosto de 2025, transferiu ao município cerca de 6 bilhões de reais em ISS e CFEM. Para a empresa, esse volume de recursos demonstra de forma inequívoca o peso econômico que suas operações têm para Parauapebas e para a região de Carajás. Ela reforça que o pagamento desses tributos é essencial para financiar áreas como educação, saúde, infraestrutura e habitação, que dependem diretamente da receita advinda da atividade mineral.

No campo econômico, a companhia também apresentou outros dados. De acordo com o comunicado, mais de 30 mil trabalhadores atuam nas operações da Vale em Parauapebas, somando empregos diretos e indiretos. Apenas no primeiro semestre de 2025, a empresa movimentou 4,5 bilhões de reais em compras realizadas junto a fornecedores locais, consolidando uma cadeia produtiva que, segundo ela, tem ajudado a ampliar a renda e fortalecer negócios da cidade.

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Foto: Vale/Divulgação

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Além do impacto fiscal e econômico, a mineradora buscou enfatizar ações sociais, culturais e de responsabilidade comunitária. Entre as iniciativas mencionadas estão o Centro Mulheres de Barro e eventos como o festival Bufalo’s Gourmet, o Toca Carajás e o projeto Orquestra Vai à Praça. A Vale afirma ter investido 72 milhões de reais em projetos sociais nos últimos cinco anos, somando ainda repasses por meio das leis de incentivo, como os 4,4 milhões de reais destinados ao Conselho do Idoso em 2021 e outros 4,4 milhões ao Fundo da Infância entre 2021 e 2024.

Em um momento em que a empresa busca reforçar sua presença institucional diante de pressões sociais e ambientais no território amazônico, esse tipo de investimento é apresentado como parte de um compromisso de longo prazo com o desenvolvimento local. A mineradora reitera que mantém canais institucionais de diálogo com o poder municipal e afirma que, apesar das declarações do prefeito, não houve qualquer recusa em abrir conversas formais.

A nota também menciona um ponto-chave para a narrativa da Vale: a assinatura, em setembro deste ano, de um termo de compromisso com a Prefeitura de Parauapebas, avaliado em 100 milhões de reais. O acordo, firmado publicamente, prevê aportes em infraestrutura, saúde, economia e serviços essenciais. A empresa cita esse documento como evidência de que suas relações com o município seguem estabelecidas de maneira institucional e transparente.

O embate expõe um cenário mais profundo do que a troca de farpas num evento internacional. Parauapebas é um dos epicentros da mineração no Brasil e tem sua dinâmica econômica, urbana e social diretamente moldada pela presença da Vale. Críticas recorrentes, vindas de setores da sociedade e da política local, apontam que os repasses financeiros e programas socioeconômicos não compensam os impactos ambientais e a dependência econômica que o modelo extrativista impõe. Já a empresa procura se posicionar não como antagonista, mas como protagonista do desenvolvimento regional, destacando tributos, empregos e investimentos sociais.

A COP30, dedicada a discutir caminhos globais para a descarbonização e a justiça climática, tornou-se palco de uma disputa por narrativas que atravessa economia, política e território. De um lado, a gestão municipal que reivindica mais recursos, mais diálogo e mais responsabilidade da mineradora. Do outro, a Vale reafirmando sua conformidade legal e seu peso econômico como pilares de sua legitimidade.

O resultado não encerra o conflito, mas revela a crescente pressão sobre grandes empresas a operar com transparência ampliada e com maior responsabilidade social. No caso de Parauapebas, cidade construída e transformada pela mineração, o debate sobre quem deve o quê — e quem entrega o quê — está longe de terminar.