O minério é um recurso natural com algumas características próprias, como não ser renovável, possuir safra única e localização rígida; ter pouca distribuição geográfica; ser extraído, de um modo geral, próximo ao seu local de ocorrência; sua exploração ser de risco elevado e exigir alto investimento em capital; além de possuir retorno demorado.
Assim, projetos ligados à mineração, dentre eles os da Região Amazônica, têm marcado presença sistemática, pois grande parte deles se insere em locais com baixo poder aquisitivo, refletindo-se em reduzidos níveis de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Para suprir essas carências, há necessidade de ser desenvolvida a sustentabilidade desses empreendimentos, buscando sua interação nas comunidades de seus entornos.
Há um leque muito grande de questões sociais ao longo da cadeia produtiva da indústria mineral e nas suas relações com os sites produtivos. Os efeitos da mineração para a sociedade têm bastante peso, exigindo que se crie uma tríplice licença: licença de título minerário, licença ambiental e licença social. A última delas ainda por construir, portanto, requerendo, assim, processos de consulta, participação e um sólido diálogo empresa-governo-comunidade local, sem os quais o empreendimento mineral estará fadado ao fracasso, haja vista que a operação de um empreendimento de base mineral irá, necessariamente, exaurir o capital natural formado pela jazida.
Por outro lado, o futuro de qualquer região com vocação mineira passa pela mineração industrial, refletindo em geração de novos e bons projetos, cujo foco é sempre perseguido por todos envolvidos no fomento do setor. No caso específico da Amazônia, por ser região de fronteira, com largos desafios, há necessidade de sintonia com os cenários desenhados para o mercado de commodities, refletindo-se em flutuações no panorama mundial, atingidas por crises que afetam a economia global.
A indústria mineral, ao longo do tempo, possui relação direta com a evolução da humanidade, haja vista que o dia a dia da sociedade tem quase tudo a ver com os minerais, ou seus produtos de transformação.
A evolução da vida evidencia muito bem essa assertiva em processo constante. Com o tempo, o ser humano passou a fabricar vasilhas de barro, usadas para guardar comida e água, flechas e facas de pedra. Assim, o homem viveu as idades da pedra lascada e da pedra polida até que, alguns milhares de anos depois de dominar o fogo, fez uma nova e importante descoberta: o metal.
O processo para obtê-lo deveu-se ao momento em que se aqueceram substâncias que ocorriam na superfície da Terra e utilizá-las como substitutas para a pedra na fabricação de armas e objetos cortantes, assim como a produção de uma série de outros objetos de usos variados, inclusive adornos (brincos, colares, pulseiras etc.). Esse fato marcou a chegada do homem à idade dos metais.
Como a população mundial sempre está em crescimento, cada vez mais depende-se dos minérios e seus produtos de transformação para o dia a dia de todos. E essa demanda faz com que seja necessário levar em conta a urbanização humana, com ênfase ao fenômeno na China, pois ao se ter o crescimento da população nas cidades, quer grandes, médias ou pequenas, o consumo de mais minérios e seus produtos de transformação vai ser maior. E esse é um fenômeno cada vez mais marcante!
O processo da verticalização de qualquer minério implica em transformá-lo de sua forma in natura para um novo produto, agregando valor, logicamente, incluindo mais emprego, tributos e tornando sua região em lócus de maior importância econômica.
Vocação mineral no Pará
Este processo implica em alguns fatores, sendo o primeiro deles dispor de matéria prima minério, os outros passam pela vontade política, infraestrutura, além de atrativos fiscais e creditícios. No caso específico do Pará, há uma vocação mineral ímpar, inclusive já internalizando vários grandes projetos, dentre eles o minério de ferro de Carajás.
A infraestrutura tem evoluído, principalmente no eixo Carajás-Barcarena, com bastante energia disponível, o que, de certa maneira, incentiva novos projetos, incluindo nessa rota a verticalização, haja vista que nossos minérios são eletrointensivos, como por exemplo o cobre, o silício metálico e o alumínio.
Deve-se considerar, todavia, o preço das commodities que está bastante aquecido. Por exemplo, o minério de ferro está hoje cotado em torno de US$ 200 a tonelada; quando o Projeto Carajás foi implantado, seu preço era da ordem de US$ 20. O preço atual da tonelada do cobre em torno de US$ 10 mil; o do alumínio em torno de US$ 2.500; o do níquel, US$ 17.800; e o do estanho a US$ 33.400.
Porém, uma coisa precisa ser bem esclarecida, o perfil do comércio brasileiro é de mercado exportador, cujas principais lideranças são minérios, produtos agrícolas, petróleo e proteína animal.
Resgatando-se os dez principais países produtores de aço tem-se: China, Japão, Índia, Estados Unidos, Rússia, Coreia do Sul, Alemanha, Ucrânia, Brasil e Turquia. Deles, grande parte nem possui sua base econômica no minério, mas, entretanto, dispõe de boa logística e mercado eficiente.
No Brasil, as principais unidades produtivas desse segmento econômico estão no eixo Minas-Rio-São Paulo, onde há mercado consumidor dinâmico. E dentre os três estados, somente Minas Gerais detém base mineral significativa.
Há de se considerar, ainda, que o melhor modelo para esse segmento econômico destinado ao exterior, como é o caso do Pará, já que nosso mercado interno é incipiente, são plantas localizadas próximas aos portos. E por esse motivo uma aciaria em Marabá vai contra os princípios dos ditames econômicos, haja vista que, como já frisado, não há demanda forte de mercado interno e o transporte terrestre de placas é muito sensível às trepidações.
Dessa forma, o melhor caminho para o mercado seria prosseguir seguindo sua vocação de exportar minérios, a exemplo do modelo australiano, cuja balança comercial para o exterior soma US$ 273 bilhões, com a base mineral respondendo por um quarto do total. As exportações minerais brasileiras, com US$ 37 bilhões, têm no minério de ferro US$ 22 bilhões, representando 60% do total.
No Pará, a verticalização do segmento bauxita-alumina-alumínio tem suas plantas localizadas, uma em Oriximiná (Porto Trombetas), sendo o minério transportado via fluvial; e outra, em Paragominas, cuja matéria prima vem por meio de um mineroduto. Barcarena possui o porto que completa a logística do alumínio paraense.
Por: Geólogo Alberto Rogério Benedito da Silva