Vespas parasitoides da Amazônia protegem a agricultura com controle biológico natural


Aliadas Aladas da Amazônia Vespas Guardiãs das Lavouras

 

vespas

No coração da Amazônia, um estudo promissor da Universidade Federal de São Carlos UFSCar revela a importância pouco conhecida de pequenas aliadas aladas: as vespas parasitoides. Essas minúsculas guardiãs estão sendo investigadas por sua notável capacidade de atuar no controle biológico natural de pragas, especialmente nas lavouras de mandioca de pequenos produtores na região. A pesquisa não apenas lança luz sobre um elo vital na cadeia ecológica, mas também aponta para soluções sustentáveis na agricultura local.

 

Desvendando um universo oculto

 

A ecologia, ciência que investiga as relações intrincadas da vida, encontra na Amazônia um campo vasto e, em grande parte, inexplorado. Gabriela do Nascimento Herrera, doutoranda da UFSCar e líder desta pesquisa, ressalta a escassez de informações sobre insetos parasitoides, mesmo reconhecendo seu papel fundamental como agentes de controle biológico. Ela observa que, embora muitos desses insetos sejam cruciais para a agricultura, o conhecimento sobre eles, especialmente em relação à cultura da mandioca, é bastante limitado. A mandioca, vale lembrar, representa a principal fonte de subsistência para muitas comunidades na Região Norte do Brasil.

Screenshot-2025-07-31-173849 Vespas parasitoides da Amazônia protegem a agricultura com controle biológico natural

“A Amazônia é um dos biomas onde as informações sobre vespas parasitoides são mais limitadas”, explica Herrera. “Essa lacuna de conhecimento se estende tanto às dimensões verticais quanto horizontais, deixando grande parte da região inexplorada e desconhecida.” Essa falta de dados destaca a urgência e a relevância de pesquisas como a dela, que buscam preencher vazios e revelar a biodiversidade oculta do maior bioma tropical do mundo. O trabalho de Gabriela conta com o valioso apoio de um Projeto Temático da FAPESP, coordenado pela professora Angélica Maria Penteado Martins Dias, também da UFSCar, reforçando o caráter interdisciplinar e a importância científica do estudo.

 

Ichneumonoidea: A grande família protetora

 

O principal objetivo deste trabalho é aprofundar o conhecimento sobre a diversidade de Ichneumonoidea, uma superfamília de vespas parasitoides. Esses insetos pertencem à ordem Hymenoptera, um grupo vasto que inclui também as conhecidas abelhas e formigas. De acordo com a cientista, essa ordem abriga tanto espécies solitárias quanto sociais, desempenhando papéis ecológicos diversificados e importantes.

A Ichneumonoidea é, de fato, a maior superfamília dentro da ordem Hymenoptera. Sua relevância no contexto agrícola é inquestionável, pois muitas de suas espécies estão diretamente associadas ao controle de pragas em diversas culturas. Além de sua função como predadores naturais, algumas vespas também contribuem indiretamente para a polinização, adicionando mais uma camada à sua importância nos ecossistemas agrícolas e naturais.

 

Amazônia, o celeiro de mistérios

 

O foco do estudo em investigar a ação dessas vespas no bioma amazônico não é por acaso. A pesquisa compara sua diversidade, riqueza e abundância em diferentes estratos: solo, sub bosque e bosque, observando as variações ao longo das estações do ano. Essa estratificação vertical é crucial para entender como essas vespas se distribuem e interagem em um ambiente tão complexo como a floresta amazônica. “Escolhi buscá las na Amazônia por causa da lacuna de conhecimento nesse bioma e também das minhas origens de lá”, revela a doutoranda, mostrando uma conexão pessoal com o tema.

Segundo Herrera, a região da Amazônia Ocidental, particularmente o interior do Amazonas, é uma área pouco explorada por pesquisadores. Ela pontua que as pesquisas na região são escassas, muitas vezes devido ao difícil acesso a locais isolados, que podem ser vistos como desafiadores ou até perigosos. “Mas acredito que essa área seja importante do ponto de vista ecológico por ser uma área preservada”, afirma, sublinhando o valor inestimável dos ecossistemas intocados para a ciência e para o planeta.

 

Preservando tradições e o ambiente

 

A pesquisa vai além da mata nativa, traçando também as diferenças na ocorrência das vespas entre a floresta e as lavouras, buscando identificar espécies com potencial para o controle biológico na cultura da mandioca. Essa abordagem comparativa é fundamental para entender a dinâmica dessas vespas em diferentes cenários e como elas podem ser utilizadas em sistemas agrícolas. “A grande maioria dos agricultores da região são pequenos produtores e ainda há muitos hábitos conservadores de produzir, sem muito maquinário disponível e sem muito uso de defensivos agrícolas, o que ajuda ainda mais a manter um pouco das características originais da região”, destaca Herrera. Essa observação é chave, pois indica que as práticas agrícolas tradicionais, menos dependentes de insumos químicos, favorecem a presença e a ação desses controladores biológicos naturais.

Screenshot-2025-07-31-174255 Vespas parasitoides da Amazônia protegem a agricultura com controle biológico natural
imagem: Rafael Barbizan Sühs/Wikimedia Commons

Para o desenvolvimento prático do trabalho, estão sendo realizadas coletas mensais. Essas coletas ocorrem tanto em áreas de mata nativa quanto em lavouras de mandioca, no município de Guajará, no Estado do Amazonas. O período de estudo abrange de maio deste ano até fevereiro de 2026, garantindo um ciclo completo de observação e coleta de dados, essencial para a robustez das conclusões. Os resultados dessa pesquisa prometem não apenas expandir nosso conhecimento sobre a biodiversidade amazônica, mas também oferecer soluções práticas e sustentáveis para a agricultura de subsistência, beneficiando diretamente os pequenos produtores da região.

Agência FAPESP