É da borda do mundo que vem o grito mais urgente e desta vez ele chega na voz de jovens que não aceitam mais serem retratados apenas como vítimas. Partindo de realidades marcadas pela seca de rios, pelos incêndios que consomem florestas, pelas comunidades que sobrevivem na linha de fogo da crise climática, uma delegação de 16 jovens da América Latina, África e Ásia se dirige à COP30 (outubro de 2025). Eles não carregam apenas dados ou discursos; trazem histórias de vida, territórios vulneráveis, saberes ancestrais, memórias de resistência.
Essa mobilização nasceu de um processo coletivo muito mais amplo: mais de dez mil jovens participaram do programa “Caminho para a Democratização do Sul”, promovido pela Life of Pachamama. Durante seis meses, estes jovens se debruçaram sobre diplomacia climática, liderança comunitária, comunicação estratégica e resistência territorial, não como um treinamento tecnocrático, mas como um gesto político de formação: capacitar agentes de mudança que dialoguem com as estruturas de poder global sem renunciar à radicalidade de suas origens.
O ponto culminante desse percurso é a chamada “Declaração do Sul Global”: um manifesto polifônico que reúne os anseios de crianças, adolescentes e jovens de territórios historicamente ignorados. Não se trata apenas de uma lista de reivindicações: é um reposicionamento simbólico e estratégico. A declaração exige que a juventude participe plena e vinculantemente da governança ambiental, que os defensores de territórios sejam protegidos, que as estruturas decisórias sejam descentralizadas e que o acesso à informação seja aberto e irrestrito.

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Durante muito tempo, o Sul foi representado como vítima das mudanças climáticas. Hoje, esses jovens afirmam: “somos território, proposta e potência política”. A COP30 se torna assim não apenas um espaço de protocolo, mas um palco de disputa por sentido. Eles chegam munidos de planilhas e de vivências, cada rio contaminado, cada mata ameaçada, cada comunidade em estado permanente de alerta faz parte da bagagem.
O termo “Sul Global” aparece aqui como uma categoria política, não apenas geográfica. Designa populações que foram marginalizadas no sistema internacional, mas que são as primeiras a sofrer os impactos ambientais. São, ao mesmo tempo, fonte de soluções comunitárias, saberes ancestrais e modos sustentáveis de estar em relação com a Terra. Neste contexto, a mobilização desses jovens representa um desafio direto à lógica vertical que domina o sistema global: eles propõem outro idioma, outro pacto. Onde “natureza” não é recurso estimado por lucro, mas parente digno de respeito. Onde “desenvolvimento” não é sinônimo de extração desenfreada, mas de reciprocidade entre seres humanos e meio ambiente.
A jornada rumo à COP30 é mais do que uma viagem diplomática. É um movimento simbólico: mostrar que o futuro do planeta não pode se construir sem ouvir quem, com menos, sempre fez mais. É reconhecer que nos cantos longínquos do mundo germina a resistência e talvez ali esteja também uma única saída para o impasse climático global.
Porque quando a borda do mundo fala, ela traz impulso, vigor e urgência. E se quisermos mesmo redesenhar as estruturas que comandam a vida em comum, será preciso escutar essa voz.









































