Imagine caminhar à noite por um quintal na zona rural, ouvindo o coaxar característico que ecoa no silêncio, e de repente cruzar com um sapo-cururu. Para muitos, a cena pode parecer apenas parte da natureza, mas esse animal guarda segredos que o tornam um dos mais temidos nas áreas de campo e beira de rios. Embora essencial no equilíbrio ecológico, o sapo-cururu carrega riscos escondidos que podem afetar tanto animais domésticos quanto seres humanos.

Esse medo não é à toa: sua pele grossa e glândulas venenosas guardam defesas potentes, e seu contato pode causar desde intoxicações até acidentes sérios. Ao mesmo tempo, sua presença ainda alimenta lendas populares, o que reforça sua fama de criatura perigosa.
Sapo-cururu: o anfíbio que inspira respeito
O sapo-cururu (Rhinella marina) é considerado um dos maiores anfíbios encontrados no Brasil, chegando a medir até 25 centímetros. Muito comum em áreas alagadas, pastagens e quintais úmidos, ele é mais ativo durante a noite, quando caça insetos, aranhas e pequenos animais.
Embora exerça um papel importante no controle de pragas, sua presença desperta preocupação por causa de sua principal arma: as glândulas parotoides, localizadas atrás dos olhos. Essas glândulas liberam uma substância tóxica chamada bufotoxina, altamente perigosa para outros animais e, em alguns casos, para humanos.
Segundo o Instituto Butantan, acidentes envolvendo secreções do sapo-cururu são frequentes no Brasil, principalmente em regiões rurais, onde crianças e cães acabam manipulando ou mordendo o animal.
1. O veneno que ameaça pets e crianças
O primeiro risco do sapo-cururu está justamente na toxina que expele. Quando cães ou gatos tentam caçá-lo, acabam em contato direto com a substância. Em segundos, podem apresentar sintomas como salivação intensa, vômitos, convulsões e, em casos mais graves, parada cardíaca.
Crianças também estão vulneráveis, especialmente em áreas onde o sapo é abundante. O simples contato das mãos com a pele do animal e depois com olhos ou boca já pode causar irritações sérias.
2. Irritação ocular grave
Outro risco escondido no sapo-cururu é a reação que sua toxina provoca quando entra em contato com os olhos. O veneno pode causar inflamações intensas, dor aguda e até risco de lesões permanentes na córnea. Casos registrados pelo Ministério da Saúde relatam a necessidade de atendimento médico imediato para evitar complicações.
Por isso, especialistas recomendam nunca manipular o animal diretamente, mesmo que esteja aparentemente inofensivo.
3. Perigo de contaminação em fontes de água
Em áreas rurais, onde cisternas e pequenos reservatórios ainda são comuns, o sapo-cururu pode se tornar um problema extra. Ao entrar em caixas d’água ou poços destampados, pode liberar secreções que contaminam a água consumida por moradores. Isso representa risco de intoxicação, especialmente para comunidades que não tratam a água adequadamente.
De acordo com estudos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a contaminação de fontes por animais silvestres é uma das principais causas de surtos gastrointestinais em regiões afastadas.
4. Impacto no equilíbrio ecológico
Embora ajude a controlar insetos, o sapo-cururu também pode desequilibrar ecossistemas quando sua população cresce demais. Em algumas regiões, a ausência de predadores naturais permite que ele se espalhe rapidamente, competindo com outras espécies por alimento.
Na Austrália, por exemplo, onde foi introduzido de forma artificial, o sapo-cururu virou praga ambiental. O relatório da National Geographic mostra como sua presença levou à morte de predadores nativos que não resistem ao seu veneno.
5. Mitos e preconceitos que aumentam os riscos
Na zona rural, o sapo-cururu é cercado de lendas. Muitos acreditam que ele “cospe veneno” ou transmite doenças apenas pelo olhar, o que não é verdade. O perigo está no contato direto com suas secreções. Mas esses mitos contribuem para atitudes perigosas: pessoas tentam matar o animal de forma imprudente, entrando em contato com a toxina sem proteção.
Além disso, ao tentar eliminar o sapo, muitas vezes acabam destruindo o equilíbrio natural, já que ele ajuda a reduzir populações de insetos que transmitem doenças.
6. Risco para agricultores e trabalhadores rurais
Quem trabalha no campo também está entre os mais expostos ao sapo-cururu. Ao manusear ferramentas deixadas no chão ou mexer em pilhas de folhas úmidas, é comum se deparar com o animal escondido. O contato acidental com a pele ou o veneno pode gerar queimaduras e irritações.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) reforça a importância do uso de luvas e botas como medida preventiva para agricultores e trabalhadores que lidam diariamente em áreas suscetíveis à presença do sapo-cururu.
Prevenção é a chave
Saber identificar o sapo-cururu e entender seus riscos é fundamental para conviver com ele sem acidentes. Algumas orientações práticas incluem:
Manter caixas d’água sempre tampadas.
Ensinar crianças a não tocar em sapos.
Vigiar cães durante passeios noturnos no quintal.
Usar luvas ao manusear folhas e galhos em áreas úmidas.
Essas medidas simples reduzem significativamente a probabilidade de acidentes.
No fim, o sapo-cururu não é um vilão, mas sim um animal de defesa poderosa que merece respeito. Ele é parte essencial do ecossistema, ajudando a controlar insetos e equilibrar ambientes. O problema surge quando desconhecemos seus riscos e nos expomos a acidentes evitáveis.
Reconhecer os perigos escondidos nesse anfíbio é também reconhecer a importância de conviver em harmonia com a natureza, sabendo respeitar seus limites e valorizar seu papel na biodiversidade.
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