Estudo Promete Impulsionar o Desenvolvimento de Antibióticos Menos Tóxicos

Pesquisadores da USP identificam enzima crucial no processo de produção da gentamicina, abrindo portas para versões mais seguras do antibiótico

Autor: Redação Revista Amazônia

Pesquisadores do Laboratório de Biologia Estrutural Aplicada da Universidade de São Paulo (ICB-USP) deram um importante passo na busca por formas mais seguras do antibiótico gentamicina, amplamente utilizado no tratamento de infecções bacterianas. Esse estudo inovador, conduzido em colaboração com o Centro de Pesquisa em Biologia de Bactérias e Bacteriófagos (CEPID B3), identificou o papel essencial da enzima GenB2 na formação dos componentes ativos do fármaco. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de versões da gentamicina com menor toxicidade, um avanço significativo na medicina.Os resultados da pesquisa foram publicados na revista ACS Chemical Biology e representam uma oportunidade promissora para o desenvolvimento de medicamentos antibacterianos que ofereçam menos riscos aos pacientes. A gentamicina, conhecida por sua eficácia no combate a infecções graves, tem o uso limitado em alguns tratamentos devido à sua toxicidade, especialmente em relação a danos nos rins e ouvidos. A possibilidade de criar versões mais seletivas e seguras do fármaco surge como uma solução para esse problema persistente.

A Gentamicina: Um Antibiótico Poderoso, Mas Potencialmente Perigoso

A gentamicina é um antibiótico utilizado há décadas para tratar uma ampla gama de infecções bacterianas, especialmente aquelas causadas por bactérias resistentes a outros medicamentos. Ela é extremamente eficaz em sua função, sendo amplamente utilizada em ambientes hospitalares para tratar infecções graves, incluindo pneumonia, infecções do trato urinário e infecções sanguíneas. No entanto, o uso da gentamicina, especialmente em tratamentos sistêmicos, tem sido limitado por sua toxicidade.

Estudo promete revolucionar a segurança dos antibióticosOs principais efeitos colaterais associados à gentamicina incluem nefrotoxicidade (danos aos rins) e ototoxicidade (danos aos ouvidos), que podem levar à perda auditiva permanente. Esses riscos são particularmente altos quando o medicamento é administrado em doses elevadas ou por longos períodos de tempo. Devido a essas limitações, o desenvolvimento de formas menos tóxicas do antibiótico tornou-se uma prioridade para a comunidade científica e médica.

A gentamicina é composta por cinco moléculas diferentes, chamadas de congêneres, cada uma com diferentes níveis de eficácia antibacteriana e toxicidade. A pesquisa da USP foca no estudo dessas moléculas e de como elas podem ser manipuladas para produzir versões mais seguras do antibiótico.

O Papel Crucial da Enzima GenB2

O professor Márcio Dias, líder do estudo, explica que a enzima GenB2 desempenha um papel fundamental no processo de biossíntese da gentamicina. A enzima é responsável por converter a gentamicina C2 em gentamicina C2a, um dos cinco componentes que constituem o medicamento. Esse processo de conversão é extremamente importante, pois mesmo pequenas variações na estrutura dessas moléculas podem ter um impacto significativo na eficácia e toxicidade do fármaco.

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A enzima GenB2 utiliza a vitamina B6 para catalisar suas reações, um processo que a diferencia de outras enzimas epimerases. Além disso, a GenB2 contém um aminoácido raro, a cisteína, que não é encontrado em outras enzimas da mesma classe. Esse conhecimento permite que os cientistas manipulem a atuação da GenB2 para controlar a produção seletiva de componentes da gentamicina, reduzindo os riscos associados ao uso do antibiótico.

Implicações do Estudo: A Redução da Toxicidade

Uma das principais motivações por trás desse estudo é a necessidade de reduzir a toxicidade associada ao uso da gentamicina. Embora a gentamicina seja altamente eficaz como um antibiótico tópico, seu uso sistêmico é limitado pelos efeitos colaterais graves. Com a compreensão do funcionamento da GenB2, é possível manipular o processo de produção da gentamicina para obter formas mais puras e menos tóxicas.

O professor Dias destaca que, no futuro, será possível ajustar a atuação da GenB2 para produzir apenas a gentamicina C2 ou C2a, o que representaria um avanço significativo no tratamento de infecções bacterianas graves com menos efeitos adversos.

O Impacto no Tratamento de Infecções Resistentes

O desenvolvimento de antibióticos menos tóxicos também pode ter um impacto profundo no tratamento de infecções bacterianas resistentes, um problema crescente em todo o mundo. A gentamicina tem sido uma das principais opções para tratar essas infecções, e o desenvolvimento de uma versão mais segura do antibiótico garantiria que ele continue a ser uma ferramenta valiosa no combate a bactérias resistentes a outros medicamentos.

A resistência bacteriana é uma das maiores ameaças à saúde global, e o desenvolvimento de novos antibióticos seguros e eficazes é crucial para enfrentar esse desafio. A pesquisa sobre a GenB2 oferece novas oportunidades para o desenvolvimento de antibióticos personalizados que minimizam os riscos para os pacientes, ao mesmo tempo em que mantêm sua eficácia.

Próximos Passos e Perspectivas Futuras

Os próximos passos da equipe de pesquisa incluem testar as novas versões da gentamicina em modelos animais e, eventualmente, em ensaios clínicos em humanos. O objetivo é garantir que essas versões do antibiótico mantenham sua eficácia no combate às infecções, enquanto reduzem os efeitos colaterais adversos.

Além disso, os pesquisadores pretendem aplicar o conhecimento adquirido sobre a GenB2 em outros antibióticos aminoglicosídeos, uma classe à qual a gentamicina pertence, para desenvolver uma nova geração de antibióticos mais seguros.

O apoio financeiro contínuo de instituições de pesquisa, como o programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs), será essencial para o avanço dessas investigações. A pesquisa também contou com a contribuição de Priscila dos Santos Bury, orientanda do professor Dias, que recebeu uma Bolsa de Doutorado Direto.

A Importância do Financiamento de Pesquisas Científicas

Esse estudo exemplifica a importância do financiamento contínuo para a pesquisa científica. Sem o apoio de programas como o CEPID e de bolsas de estudo, descobertas como a da GenB2 e suas implicações para a gentamicina não seriam possíveis. O financiamento também é essencial para a formação de novos pesquisadores e para a colaboração entre instituições.

Essa pesquisa abre novas possibilidades não apenas para o desenvolvimento de novos antibióticos, mas também para a produção de medicamentos mais eficientes e sustentáveis no futuro.

A descoberta do papel da enzima GenB2 na produção de gentamicina representa um grande avanço no desenvolvimento de antibióticos menos tóxicos. Ao entender como essa enzima funciona, os cientistas podem criar versões mais seguras e eficazes desse antibiótico essencial, o que poderia transformar o tratamento de infecções bacterianas graves.

Além de melhorar a segurança dos medicamentos, essa pesquisa abre portas para inovações na produção de antibióticos de próxima geração, capazes de combater bactérias resistentes de forma mais eficaz e segura. O apoio contínuo à pesquisa científica será fundamental para que esses avanços cheguem aos pacientes.

Para mais informações, acesse o artigo completo publicado na ACS Chemical Biology.


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