A atividade de garimpo ilegal de ouro no Brasil tem impactos ambientais graves, incluindo a liberação de grandes quantidades de carbono e o aumento da concentração de mercúrio no solo. Em regiões mineradas, as emissões de carbono podem atingir até 3,5 toneladas por hectare, com um aumento de até 70% na presença de mercúrio, um metal altamente tóxico, especialmente durante períodos de seca. Esses efeitos têm implicações sérias para a saúde pública e o meio ambiente, principalmente para as comunidades que vivem nas proximidades dessas áreas.
Amostras de solo de garimpos ilegais em quatro biomas brasileiros
Em um estudo recente publicado na Science of The Total Environment, pesquisadores brasileiros analisaram amostras de solo de garimpos ilegais em quatro biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. Os resultados mostraram que, além da emissão de carbono, a concentração de mercúrio pode alcançar até 39 quilos por hectare, o que evidencia o risco de contaminação em áreas afetadas pela mineração ilegal.
Os cientistas usaram métodos avançados para estudar as flutuações sazonais desses elementos no solo, como espectroscopia e termogravimetria. Observou-se que a transição entre as estações chuvosa e seca pode aumentar a liberação de carbono em até 20%. “A matéria orgânica no solo tem um papel importante na retenção de mercúrio. A destruição causada pelo garimpo e pelo desmatamento não só aumenta as emissões de CO2, mas também contribui para o aumento da disponibilidade de mercúrio no solo”, explica Matheus Bortolanza Soares, pesquisador de pós-doutorado da Universidade de São Paulo (USP) e autor do estudo.
Impacto das mudanças climáticas
Além disso, o impacto das mudanças climáticas também foi destacado pelos pesquisadores. A alteração dos ciclos climáticos pode agravar a liberação de mercúrio, afetando a qualidade da água e do solo, e ampliando os riscos de contaminação para os ecossistemas e a saúde humana. O mercúrio, quando liberado no ambiente, pode ser convertido em compostos ainda mais tóxicos, como o metilmercúrio, que se acumula em organismos aquáticos e entra na cadeia alimentar, prejudicando a saúde de animais e seres humanos que consomem esses peixes contaminados.
A pesquisa também revelou que os garimpos ilegais no Brasil, particularmente na Amazônia, representam uma grande ameaça ambiental. Dados de 2022 indicam que o país tem cerca de 263 mil hectares de área minerada ilegalmente, com 92% dessa atividade concentrada na região amazônica, muitas vezes a menos de 500 metros de corpos d’água. O mercúrio utilizado na separação do ouro pode se acumular no solo de forma perigosa, com a estimativa de que esses solos minerados possam conter cerca de 10.200 toneladas de mercúrio.
Embora o estudo tenha sido pioneiro ao quantificar tanto a perda de carbono quanto o acúmulo de mercúrio, os pesquisadores destacam que ainda é necessário aprofundar a análise molecular para entender melhor como as interações entre esses elementos químicos ocorrem no solo e os impactos climáticos associados. “Nosso trabalho é um passo importante, mas precisamos continuar a investigar como as variáveis climáticas e a composição do solo influenciam esses processos”, comenta Soares.
Consequências diretas para a saúde humana
Além dos impactos ambientais, a mineração ilegal tem consequências diretas para a saúde humana. O mercúrio liberado nas águas e no solo pode afetar o sistema nervoso central, causar problemas renais, cardíacos e imunológicos, e até mesmo prejudicar o desenvolvimento cognitivo. A contaminação por mercúrio tem sido particularmente grave entre as populações indígenas da Amazônia, como o povo Yanomami, que sofre danos neurológicos devido à exposição ao metal.
Como solução para mitigar esses impactos, os cientistas sugerem fortalecer a fiscalização da mineração ilegal, promover a legalização das atividades e adotar práticas de remediação ambiental, como a fitorremediação, que utiliza plantas para remover ou neutralizar os poluentes do solo e da água.
O estudo também observa que áreas de mineração abandonadas há mais de 50 anos estão mostrando sinais de recuperação ambiental, com níveis mais baixos de mercúrio e maior retenção de carbono no solo, o que aponta para o potencial de restauração, embora esse processo seja lento.
Biocarvão e resíduos vegetai
Por fim, os pesquisadores estão desenvolvendo novas estratégias para reduzir a contaminação ambiental, como o uso de nanopartículas de biocarvão e resíduos vegetais. Essas abordagens buscam não apenas mitigar a contaminação por mercúrio, mas também melhorar a qualidade do solo e minimizar as emissões de carbono, ajudando a reduzir os danos causados pela mineração ilegal.
O artigo completo do estudo pode ser acessado na revista Science of The Total Environment para mais detalhes sobre as conclusões dos cientistas.