O Que Perdemos ao Não Proteger a Biodiversidade
A biodiversidade desempenha um papel crucial na manutenção da vida no planeta, mas um novo estudo liderado pelo WWF alerta para os impactos devastadores da perda de espécies na sociedade e na economia. Publicado na primeira edição da revista Nature Reviews Biodiversity, a pesquisa destaca que, embora o conceito de Contribuições da Natureza para as Pessoas (NCP) esteja consolidado na ciência e nas políticas ambientais, a importância da fauna na manutenção desses benefícios tem sido amplamente subestimada.
A Falha na Valorização da Fauna na Conservação
O estudo mostra que muitas políticas ambientais assumem que a proteção de habitats por si só garante a preservação dos serviços ecossistêmicos. No entanto, essa abordagem ignora o papel vital que os animais desempenham na regulação dos ecossistemas. Desde a polinização de plantas até o controle de populações de pragas, a fauna sustenta diversas funções essenciais que impactam diretamente a qualidade de vida humana.
Becky Chaplin-Kramer, cientista-chefe global de biodiversidade do WWF e autora principal do estudo, destaca um dado alarmante: “O Relatório Planeta Vivo do WWF mostra que as populações monitoradas de vertebrados diminuíram, em média, 73% desde 1970. Isso não é apenas uma perda numérica, mas uma redução da diversidade genética que compromete a resiliência da fauna contra mudanças climáticas, doenças e destruição de habitat.”
O Impacto Econômico da Perda da Vida Selvagem
A negligência na proteção da fauna pode ter implicações econômicas profundas. Relatórios recentes, incluindo a revisão do governo britânico sobre a economia da biodiversidade, reforçam a necessidade de integrar a contabilização dos serviços ecossistêmicos nas métricas econômicas nacionais.
Além disso, um estudo da Taskforce on Nature Markets de 2023 enfatiza a necessidade de precificar adequadamente a natureza nos mercados globais. A perda de espécies compromete setores que dependem diretamente da biodiversidade, como a pesca, o turismo ecológico e a agricultura sustentável.
A Importância das Espécies na Regulação dos Ecossistemas
O estudo revela que pelo menos 12 das 18 categorias de NCP estabelecidas pela Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos são diretamente sustentadas por espécies selvagens. Entre os benefícios invisíveis prestados pelos animais estão:
- Controle de pragas e doenças, como a predação de mosquitos por morcegos;
- Polinização e dispersão de sementes, fundamentais para a manutenção das florestas;
- Proteção contra erosão e melhoria da qualidade da água, exemplificada pelo trabalho dos castores na construção de barragens naturais.
Chaplin-Kramer enfatiza: “Se não reconhecermos todo o espectro de benefícios que a vida selvagem proporciona, corremos o risco de falhar em ações cruciais para protegê-la. Precisamos garantir que a conservação leve em conta a interdependência entre fauna e ecossistemas.”
Lições da História: O Caso das Lontras-Marinhas
Um exemplo claro dos impactos da perda de espécies ocorreu com as lontras-marinhas na América do Norte. No século XIX, a caça comercial reduziu drasticamente suas populações, levando à proliferação de ouriços-do-mar, que devastaram florestas de algas marinhas. A destruição desses habitats marinhos afetou a pesca, aumentou a vulnerabilidade da costa à erosão e comprometeu a subsistência de comunidades indígenas.
Nathan Bennett, cientista líder de oceanos do WWF e coautor do estudo, alerta: “A perda de fauna afeta não apenas os ecossistemas, mas também as comunidades que dependem desses serviços naturais para sua subsistência. A pesca, o turismo ecológico e até mesmo a segurança alimentar estão em risco.”
O Papel da Tecnologia na Conservação
A pesquisa destaca lacunas no monitoramento da fauna em larga escala. Entretanto, avanços tecnológicos podem ajudar a preencher essas deficiências. O uso de satélites, inteligência artificial, DNA ambiental e sensores acústicos tem o potencial de revolucionar a coleta de dados sobre biodiversidade, permitindo decisões mais eficazes para a conservação. No entanto, esses avanços exigem investimentos financeiros significativos.
Wendy Elliott, líder interina de biodiversidade do WWF, reforça a urgência de um compromisso financeiro global para viabilizar essas estratégias. “Desde a adoção do Marco Global da Biodiversidade na COP15, ainda falta um caminho claro para mobilizar os recursos necessários. O mundo precisa agir rápido para evitar consequências irreversíveis.”
COP16 e o Futuro da Biodiversidade
À medida que as nações se preparam para a COP16, que ocorrerá em Roma no próximo mês, o WWF reforça a necessidade de incluir a proteção da fauna nas políticas globais de conservação. As discussões sobre financiamento e precificação da biodiversidade serão fundamentais para garantir que os benefícios invisíveis da vida selvagem não sejam mais ignorados.
A conservação da biodiversidade não é apenas uma questão ambiental — é um investimento essencial na saúde econômica e social do planeta. Proteger a fauna é garantir um futuro mais equilibrado para a humanidade e para todas as formas de vida que compartilham este planeta.