Apesar de ser um dos doces mais populares globalmente, o chocolate tem um histórico marcado por sérios problemas socioambientais.

O lado amargo do chocolate
Cerca de 70% do cacau mundial vem de apenas três países: Indonésia, Gana e Costa do Marfim, o restante é majoritariamente cultivado na América Latina e Caribe. No entanto, o cultivo tradicional dessa cultura altamente lucrativa tem gerado inúmeros desafios:
Desde os anos 2000, denúncias de trabalho infantil e forçado em plantações de cacau, causadas principalmente pelos preços baixos pagos aos produtores, colocaram marcas sob escrutínio. Só na África Ocidental, estima-se que 1,5 milhão de crianças trabalham nessas plantações.
Processos convencionais de colheita e secagem do cacau têm sido associados à presença de metais pesados como chumbo e cádmio em chocolates de marcas de todo o mundo.
Secas, ondas de calor e enchentes frequentes nas regiões produtoras de cacau têm prejudicado plantações, provocando um aumento de até 400% nos preços do chocolate nos últimos anos — e ameaçando a capacidade futura de atender à demanda global.
Com vendas globais que ultrapassaram US$ 130 bilhões em 2024, a indústria do chocolate está buscando com urgência formas de garantir a sustentabilidade do setor.

Tornando o chocolate à prova das mudanças climáticas
Embora algumas descobertas recentes possam aumentar a resiliência climática das plantações de cacau, muitos inovadores estão tentando resolver o problema eliminando o próprio cacau da equação. Estão surgindo “chocolates” sustentáveis, produzidos a partir de ingredientes como fava, semente de girassol, cevada e alfarroba.
Outras startups, como a California Cultured, estão cultivando alternativas ao cacau diretamente em laboratório, a partir de células da planta, sem contaminantes e com menor impacto ambiental.
“A escravidão infantil piorou nos últimos 20 anos, e os eventos climáticos extremos estão devastando as plantações. Estamos desenvolvendo uma plataforma para produzir esses ingredientes tropicais de forma mais sustentável e eficiente”, explica Alan Perlstein, CEO da empresa.
Segundo Perlstein, o atual modelo de produção e transporte do cacau é insustentável sob as perspectivas social, climática e econômica, tanto para produtores quanto para marcas.

Pressão crescente sobre as marcas
As mudanças climáticas devem tornar a produção de cacau cada vez mais imprevisível e cara, afetando diretamente os lucros das empresas.
Apesar da popularidade constante do chocolate, os produtores continuam vivendo na pobreza, e certificações como Fair Trade ainda têm impacto limitado.
Consumidores e órgãos reguladores estão exigindo mais transparência e responsabilidade das marcas quanto a impactos sociais e ambientais.
O apoio da indústria do chocolate
Diferente do que acontece com substitutos da carne ou laticínios, a indústria do chocolate tem se mostrado receptiva às inovações de empresas como a California Cultured.
“Estamos sentindo uma enorme demanda do setor. Todo mundo quer isso o mais rápido possível”, afirma Perlstein. “Isso mostra que a indústria está preocupada com o fornecimento e a qualidade do chocolate, e quer estar na vanguarda da inovação.”
Entretanto, nem todos concordam que alimentos cultivados em laboratório sejam sustentáveis. Há preocupações com as emissões durante a produção, e o avanço dessas tecnologias pode ameaçar o sustento de pequenos agricultores e enfraquecer iniciativas que mostram que cadeias sustentáveis são possíveis.
Perlstein acredita que a produção local será o futuro da alimentação, com melhores práticas ambientais e trabalhistas.
Escalando alternativas viáveis
A expectativa da California Cultured é obter aprovação da FDA nos próximos meses, permitindo a venda de seu “cacau cultivado” nos Estados Unidos. Um acordo recente com a gigante japonesa Meiji pode levar o produto às prateleiras do Japão já no próximo ano.
Ainda assim, o grande desafio é escalar a produção mantendo qualidade e reduzindo custos. A incapacidade de fazer isso foi um dos fatores que levaram à estagnação das vendas de carnes vegetais. No caso do cacau, no entanto, os impactos climáticos tornam a busca por alternativas ainda mais urgente.
“Há mais doenças do que nunca e o clima está piorando rapidamente”, conclui Perlstein. “É por isso que estamos nos dedicando tanto a criar uma nova cadeia de suprimentos para um dos alimentos mais amados do mundo.”




































