Duas jovens lideranças, uma da periferia carioca e outra do povo indígena Xipaia, articulam as demandas de seus territórios para garantir que a COP30 em Belém seja um marco de justiça climática e participação social.

No Dia Internacional da Juventude, a Organização das Nações Unidas celebra a criatividade e a liderança de uma geração que se recusa a ser coadjuvante na construção do futuro. Conforme destacou o secretário-geral António Guterres, os jovens estão “exigindo um futuro mais justo, verde e equitativo”, conectando a ambição global com a realidade local de forma inovadora. É exatamente esse espírito que duas jovens brasileiras, a representante da juventude na COP30, Marcele Oliveira, e a ativista indígena Rayane Xipaia, incorporam em sua luta diária. Elas estão empenhadas em garantir que a conferência em Belém, no Pará, seja um evento transformador, que ouça e valorize as vozes que historicamente foram silenciadas.
Para Marcele, uma jovem negra da periferia do Rio de Janeiro, a COP30 é mais do que um evento diplomático; é um palco para o debate sobre justiça climática. Ela enfatiza que são as periferias do Brasil e do mundo que sentem primeiro e de forma mais intensa os efeitos devastadores da crise do clima, como enchentes, secas e ondas de calor. “Lidar com as enchentes, com as secas, com as ondas de calor já faz parte do nosso dia a dia”, afirma ela, sublinhando que a pauta climática não pode ser desvinculada da realidade de quem mais sofre. Eleita campeã da juventude na presidência da COP30 por meio de um processo seletivo da Secretaria Nacional de Juventude, Marcele acredita no poder da cultura como uma ferramenta de conscientização e na capacidade das crianças e adolescentes de “reinventar o mundo” com soluções que partem de um olhar mais comunitário e solidário.

Diálogo entre ciência e ancestralidade
Enquanto Marcele traz a perspectiva das periferias urbanas, Rayane Xipaia, uma jovem indígena de 23 anos da região do Médio Xingu no Pará, reforça a importância da sabedoria ancestral. Ela elogia o trabalho de Marcele em abrir espaços de diálogo com os povos tradicionais, algo que tem sido crucial para a maior inclusão dos indígenas nas negociações internacionais. Rayane observa que esses espaços são essenciais para que as múltiplas cosmovisões dos povos originários sejam consideradas, construindo soluções que combinam o conhecimento ancestral com a ciência moderna. “Acredito que na COP30 essa juventude pode ser fortalecida considerando as movimentações que têm sido feitas para uma maior participação dos povos indígenas”, ressalta ela, cheia de otimismo.
Rayane, que é integrante do Fórum Internacional dos Povos Indígenas sobre Mudanças Climáticas, atua como uma ponte vital entre as realidades locais e os palcos globais de negociação. Sua fala ecoa uma busca crescente por educação entre a juventude indígena. Ela contesta a ideia de que a entrada na universidade signifique o abandono da identidade. “Um rio não deixa de ser um rio porque conflui com outro, pelo contrário, ele se torna mais forte”, poetiza ela, usando uma metáfora poderosa para ilustrar como a educação formal enriquece a identidade indígena em vez de diluí-la. Com uma bagagem técnica e científica aprimorada pela ancestralidade, os jovens indígenas estão ocupando escolas e pós-graduações, prontos para escreverem suas próprias histórias e desmistificarem narrativas que por muito tempo foram distorcidas.
Construindo um novo futuro com justiça social
Ambas as ativistas compartilham a visão de que a COP30 deve ser um ponto de virada, estabelecendo uma “nova forma de viver no mundo”. Marcele Oliveira destaca a necessidade de apoiar países que foram historicamente explorados e que precisam de financiamento para se adaptarem às consequências da crise climática. Ela fala de um legado que vai além das metas e promessas, com um debate de justiça climática que tenha “o pé no chão, o coração dentro da floresta, a consciência fluindo junto com os rios”. Para ela, o futuro não precisa de mais carros, mais prédios ou mais concreto, mas de reconexão com a natureza, educação climática e financiamento para que as periferias possam se adaptar.
A campeã da juventude aponta três iniciativas governamentais que estão mobilizando os jovens rumo à COP30. A primeira é o balanço ético autogestionado, uma proposta do presidente Lula e do secretário-geral da ONU que permite a participação de toda a população na discussão sobre o clima. A segunda, em parceria com a Unesco, é voltada para produtores de conteúdo que desejam combater a desinformação climática. A terceira iniciativa é o Mutirão da Juventude, uma plataforma online onde os jovens podem mapear suas ações e ideias para a crise do clima, especialmente em suas comunidades locais. Essas ferramentas digitais se juntam ao trabalho de campo das ativistas, fortalecendo a rede de engajamento e garantindo que as vozes jovens e plurais se tornem a força motriz da próxima Conferência do Clima.

A história de Marcele e Rayane é um lembrete inspirador de que as soluções para os maiores desafios do nosso tempo estão nas mãos das novas gerações, que combinam a força da ancestralidade com o conhecimento técnico, a sabedoria da periferia com a diplomacia global, e a paixão pela justiça com a esperança de um futuro mais justo. Elas são a prova viva de que a juventude brasileira não apenas participa do debate; ela o protagoniza, pautando o mundo com a força de suas realidades.
Fonte: ONU News




































