Mutirão ambiental no Amazonas conecta agricultores à conservação e ao futuro sustentável da floresta


No coração da Amazônia, agricultores familiares deram um passo decisivo para unir produção rural e preservação ambiental. Entre os dias 25 de agosto e 4 de setembro, um mutirão realizado em Manaus atendeu 251 produtores e registrou 85 novas inscrições no Projeto Floresta+ Amazônia, iniciativa que oferece pagamento por serviços ambientais a quem mantém a floresta em pé.

Ipaam - Divulgação

A ação, conduzida pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), aconteceu no Centro de Monitoramento Ambiental de Áreas Protegidas (CMAAP), em Manaus. O objetivo foi aproximar agricultores de políticas públicas que aliam regularização fundiária, segurança jurídica e incentivos econômicos à conservação.

Um dos principais serviços oferecidos foi a atualização do Cadastro Ambiental Rural (CAR), requisito fundamental para a participação em programas de incentivo, como o Floresta+ Amazônia. Para o diretor-presidente do Ipaam, Gustavo Picanço, o CAR representa muito mais do que um registro burocrático.

“O CAR é uma ferramenta de planejamento ambiental e econômico. Ele permite integrar informações sobre propriedades rurais e fortalece as estratégias de conservação e combate ao desmatamento”, explicou.

No Amazonas, o Ipaam atua como executor local do Floresta+ Amazônia, orientando os agricultores sobre o processo de inscrição e garantindo que famílias em diferentes regiões tenham acesso aos benefícios.

Pagamento por manter a floresta em pé

A coordenadora do projeto no estado, Júlia Linhares, reforça que a inscrição no programa é uma oportunidade de transformar a proteção da floresta em uma fonte de renda. “O agricultor passa a receber pagamentos pela manutenção da vegetação nativa em suas terras, o que estimula a conservação sem comprometer sua subsistência”, destacou.

Essa lógica de valorização da floresta como ativo econômico é essencial para enfrentar a pressão do desmatamento. Em vez de enxergar a derrubada de árvores como única alternativa de ganho, o agricultor é incentivado a preservar e, ao mesmo tempo, a melhorar sua qualidade de vida.

O impacto desse trabalho já é percebido em comunidades tradicionais. Pedro Maia, presidente da Associação de Agricultores e Agricultoras do Assentamento PA Água Branca do Uberê, vive há 25 anos na Gleba Puraquequara, uma área florestal que ainda se mantém bem conservada entre a Reserva Florestal Adolpho Ducke e uma área pertencente ao Exército Brasileiro.

“É uma satisfação trazer meus colegas para participar de um serviço tão importante. O registro dos lotes garante segurança e nos ensina a preservar e manter a floresta em pé”, disse Maia. Hoje, 38 famílias assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ocupam a área, aguardando a conclusão da regularização fundiária.

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Ipaam – Divulgação

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Políticas ambientais que fazem diferença

O Projeto Floresta+ Amazônia, criado pelo MMA em parceria com o Pnud e com recursos do Fundo Verde para o Clima (GCF), é um dos principais instrumentos de valorização da floresta no Brasil. Na modalidade Conservação, ele destina pagamentos diretos a pequenos produtores e proprietários de imóveis rurais de até quatro módulos fiscais que preservam vegetação nativa.

A proposta se insere em uma agenda global de combate às mudanças climáticas. O mecanismo de pagamentos por serviços ambientais (PSA) é reconhecido internacionalmente como ferramenta eficaz para reduzir emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, fortalecer comunidades locais.

A experiência do mutirão realizado em Manaus mostra como políticas públicas podem ganhar escala quando unidas ao engajamento comunitário. Mais do que números, os 251 agricultores atendidos representam famílias que agora têm maior acesso a direitos, segurança fundiária e renda vinculada à conservação.

Em um estado onde a pressão sobre a floresta é constante, iniciativas como essa são vitais para consolidar um modelo de desenvolvimento que respeite os limites ambientais. O mutirão evidencia que o futuro sustentável da Amazônia não será escrito apenas em gabinetes de Brasília ou em fóruns internacionais: ele nasce no campo, no diálogo com quem vive da terra e depende diretamente dela.