Carajás guarda milhões de toneladas de carbono vital


As florestas do Mosaico de Carajás, no sudeste do Pará, revelam uma dimensão pouco visível a olho nu: elas guardam um verdadeiro tesouro climático. Com 800 mil hectares, o equivalente a 800 mil campos de futebol, essa imensa área abriga cerca de 600 milhões de toneladas de dióxido de carbono, armazenados tanto na vegetação quanto no solo superficial. É como se toda a frota de 140 milhões de carros populares movidos a gasolina ficasse um ano inteiro fora de circulação.

Florestas protegidas de Carajás retiram da natureza e armazenam um total de dióxido de carbono semelhante ao emitido por cerca de 140 milhões de carros populares. Credito: Ricardo Teles.

Esses números fazem parte do estudo “Inventário de emissões e remoções de carbono devido às mudanças de uso da terra”, conduzido por uma equipe multidisciplinar do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITV DS), reunindo engenheiros civis, florestais, biólogos e especialistas em computação.

Carbono oculto nas árvores gigantes

Um dos resultados mais impressionantes é a capacidade de cada hectare de floresta aberta, na Floresta Nacional de Carajás, armazenar até 1.100 toneladas de CO2. Metade do peso seco de uma árvore é carbono, e as florestas tropicais, ricas em árvores de grande porte, funcionam como cofres naturais que aprisionam esse gás.

O levantamento mostra que apenas 1% das árvores concentra até um terço de todo o carbono presente na vegetação. Entre essas espécies monumentais estão o cinzeiro (Erisma uncinatum), a timborana (Marlimorimia psilostachya) e a emblemática castanheira (Bertholletia excelsa), que podem ultrapassar os 40 metros de altura e mais de dois metros de diâmetro.

A pesquisa também revela o outro lado da história. Ao longo de 36 anos, a bacia hidrográfica do rio Itacaiúnas perdeu 40% de seus estoques de carbono em razão do desmatamento e do uso inadequado do solo. Isso significa mais de 1,2 milhão de toneladas de CO2 liberadas na atmosfera, ampliando os impactos do aquecimento global.

Essa bacia cobre 42 mil km² e inclui dez municípios do sul e sudeste do Pará: Água Azul do Norte, Canaã dos Carajás, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Marabá, Parauapebas, Piçarra, São Geraldo do Araguaia, Sapucaia e Xinguara.

Por outro lado, imagens de satélite mostram que as áreas que resistiram à devastação coincidem com zonas de proteção, como as unidades de conservação sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com a Vale, além de terras indígenas.

Essa proteção remonta ao Projeto Grande Carajás, lançado nos anos 1980, que previa a conciliação entre exploração mineral e conservação de florestas. Embora ocupem menos de um terço da bacia, essas áreas concentram mais da metade do carbono que ainda permanece estocado.

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Valor além do carbono

O estoque de carbono é apenas um dos muitos valores que a floresta em pé oferece. Mantê-la preservada significa também conservar a biodiversidade, proteger recursos hídricos, manter o solo fértil e reduzir o risco de desastres naturais.

No campo econômico, os ativos vão além do mercado de créditos de carbono. A floresta impulsiona a bioeconomia, o ecoturismo e a geração de emprego e renda, além de fornecer insumos fundamentais à alimentação e à cultura de povos originários e comunidades tradicionais.

“A pesquisa reforça a importância das florestas intactas para a mitigação das mudanças climáticas, mas também a urgência em recuperar ecossistemas degradados”, explica Rosane Cavalcante, pesquisadora do ITV DS. Segundo ela, a situação da bacia do Itacaiúnas funciona como um alerta para outras regiões da Amazônia, especialmente as que ainda enfrentam forte pressão de desmatamento.

Em outras palavras, preservar é fundamental, mas restaurar é igualmente urgente. Afinal, cada hectare protegido ou recuperado representa não só toneladas de carbono a menos na atmosfera, mas também um futuro mais resiliente para a Amazônia e para o planeta.