As periferias brasileiras, muitas vezes marcadas pela ausência de infraestrutura e pela exposição às vulnerabilidades climáticas, começam a receber uma atenção inédita em termos de inovação urbana. O Ministério das Cidades lançou o Edital Periferias Verdes Resilientes, que direciona R$ 15,3 milhões a projetos de Soluções Baseadas na Natureza (SBN). O objetivo é transformar favelas e comunidades urbanas em territórios mais sustentáveis, resilientes e preparados para os impactos das mudanças climáticas.

O anúncio foi feito em Brasília pelo ministro das Cidades, Jader Filho, durante o seminário Cidades Verdes Resilientes. Foram apresentadas sete iniciativas selecionadas em diferentes regiões do país, que receberão apoio financeiro para implantar intervenções ambientais adaptadas à realidade de seus territórios.
Sete territórios contemplados
Em Belo Horizonte, o Instituto de Assessoria a Mulheres e Inovação foi contemplado com R$ 1,5 milhão para desenvolver ações na comunidade Izidora, uma das maiores ocupações urbanas da América Latina, formada por assentamentos informais no norte da cidade.
No Rio de Janeiro, a organização Redes da Maré receberá R$ 2,4 milhões para atuar no Complexo da Maré, conjunto de favelas onde vivem mais de 140 mil pessoas.
Em Santo André, na região metropolitana de São Paulo, o Movimento de Defesa dos Direitos dos Moradores de Favelas terá R$ 1,5 milhão para realizar intervenções na favela Nova Centreville, ampliando infraestrutura verde em um território historicamente marginalizado.
No Nordeste, em Fortaleza, o projeto da Taramela Assessoria Técnica em Arquitetura e Cidade receberá R$ 2,4 milhões para atuar na comunidade Afluentes do Rio Maranguapinho, região marcada por ocupações em áreas de risco de alagamento.
Em Olinda, a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educação (FASE) foi selecionada para investir R$ 2,3 milhões em intervenções na comunidade Beira do Rio Condor, ampliando soluções ambientais em uma área vulnerável a enchentes.
Na Região Norte, os bairros periféricos às margens da bacia do Tucunduba, em Belém, receberão um aporte de R$ 2,5 milhões por meio da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP). O projeto propõe restaurar áreas degradadas e reduzir o impacto das cheias que atingem milhares de famílias.
Já no Sul do país, em Colombo, município da Grande Curitiba, a Soylocoporti será responsável pela execução de intervenções no Jardim das Graças II, com um investimento de R$ 2,3 milhões.

SAIBA MAIS: “A COP que vem da periferia” O Evento que quer reiventar o debate climático
Mais do que infraestrutura, justiça climática
Esses projetos não se limitam a obras físicas. As Soluções Baseadas na Natureza se inspiram nos processos ecológicos para criar alternativas de drenagem, recuperação de áreas verdes, manejo de águas e mitigação de calor, entre outras medidas. O impacto esperado vai além da melhoria ambiental: trata-se de uma estratégia de justiça climática, que busca proteger justamente aqueles que vivem em territórios mais suscetíveis a enchentes, deslizamentos e poluição.
O ministro Jader Filho reforçou que a adaptação climática exige planejamento e investimentos permanentes em todas as esferas de governo. Para ampliar esse movimento, também foi lançado o Edital AdaptAção, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que apoiará 50 municípios na atualização de suas políticas públicas de resiliência.
Experiências em andamento
Além dos novos projetos, já existem cinco protótipos em execução pelo Programa SBN nas Periferias, em parceria com universidades federais. Eles recebem R$ 873,5 mil e estão sendo aplicados em comunidades de Ilhéus (BA), Ceilândia (DF), Palmas (TO), Fortaleza (CE) e Belém (PA). Esses casos servirão como laboratório de inovação para que soluções criadas em contextos específicos possam inspirar outras cidades brasileiras.
Um marco na política urbana
A primeira edição do Edital Periferias Verdes Resilientes já é considerada um marco. Voltado para organizações atuantes nos 41 territórios prioritários do Programa Periferia Viva, recebeu 91 propostas, superando em muito a previsão inicial de seis projetos contemplados.
A iniciativa reflete um compromisso do governo federal em articular sustentabilidade ambiental, justiça social e participação comunitária. Ao estimular o protagonismo de instituições locais, abre caminho para que favelas e bairros populares deixem de ser vistos como espaços de carência e passem a ser territórios de inovação climática.
Em tempos de eventos extremos cada vez mais frequentes, a transformação das periferias em áreas resilientes deixa de ser um desafio distante e passa a ser um imperativo do presente.







































