Saberes da floresta inspiram legado da COP30 em Belém


O caminho para a COP30 em Belém está sendo pavimentado não apenas por negociações diplomáticas e compromissos internacionais, mas também pela força dos saberes que emergem da floresta e de seus povos. Nesta sexta-feira (12), o ciclo Diálogos COP30 com Ciência chega à sua última edição com um tema que ressoa profundamente na Amazônia: “Povos da floresta e criação de paisagens amazônicas”. O encontro, realizado no Museu Paraense Emílio Goeldi, traz ao centro do debate as tecnologias ancestrais e os modos de vida que moldaram e continuam moldando a maior floresta tropical do planeta.

Divulgação - Museu Goeldi

A programação destaca algo que a ciência contemporânea vem reconhecendo com cada vez mais evidência: a Amazônia não é apenas fruto da natureza intocada, mas o resultado de séculos de interação humana com o território. Pesquisas arqueológicas conduzidas na região, como explica a arqueóloga e pós-doutoranda do Museu Goeldi, Erêndira Oliveira, revelam que as populações originárias desempenharam papel decisivo na conformação das paisagens amazônicas. Terras pretas férteis, aldeias erguidas em áreas alagáveis e a disseminação de espécies de valor medicinal, alimentar e construtivo mostram como os povos desenvolveram sistemas sofisticados de manejo sustentável, transmitidos de geração em geração.

Esses legados não pertencem apenas ao passado. Eles permanecem vivos no presente e podem ser decisivos para o futuro, oferecendo soluções para adaptação às mudanças climáticas e alternativas de convivência sustentável, tanto na floresta quanto nas cidades amazônicas. É nesse espírito que o evento reúne pesquisadores, comunicadores e lideranças indígenas, quilombolas e ribeirinhas, compondo mesas de diálogo que cruzam ciência e tradição.

floresta-amazonica-brasil-400x249 Saberes da floresta inspiram legado da COP30 em Belém
Ignacio Palacios/Getty Images

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Entre os convidados estão Carolina Levis, da Universidade Federal de Santa Catarina; Carlos Augusto da Silva, da Universidade Federal do Amazonas; Ana Carolina Melo, do Laboratório da Cidade; Artur Walipere Baniwa, da Universidade de Brasília; Glenn Shepard, pesquisador do Museu Goeldi; e Maria Páscoa Sarmento, liderança quilombola e docente da Universidade Federal do Pará. A mediação será das jornalistas Helena Palmquist e Cristina Serra, conectando o debate a uma audiência mais ampla e diversa.

As discussões tocam em pontos centrais para a agenda climática: como integrar conhecimentos tradicionais e científicos em políticas públicas para a Amazônia, como aplicar práticas culturais no planejamento urbano das cidades da região e de que forma os modos de vida de povos indígenas e comunidades locais podem inspirar modelos de desenvolvimento que conciliem justiça social e equilíbrio ecológico.

Para Erêndira Oliveira, coordenadora da edição, a expectativa é que o diálogo fortaleça a valorização dos conhecimentos tradicionais dentro da ciência e das estratégias de desenvolvimento. “As populações originárias foram protagonistas na construção da Amazônia e devem ser reconhecidas como protagonistas também no enfrentamento da crise climática. Suas tecnologias e modos de vida mostram que é possível viver em harmonia com a floresta, criando ecossistemas diversos e resilientes”, destaca.

O encontro também é simbólico porque antecipa a tônica da própria COP30: a ampliação da participação social. Povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e movimentos sociais estarão em posição de destaque no evento internacional em Belém, apresentando soluções que nascem nos territórios e que desafiam a lógica predatória que historicamente marcou a exploração da floresta.

A realização do ciclo de diálogos é uma iniciativa do Museu Goeldi, em parceria com o Centro de Pesquisa Florestal Internacional e o Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (CIFOR-ICRAF) e a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). A programação começa às 13h30, no Auditório Paulo Cavalcante, no Campus de Pesquisa do Museu Goeldi, em Belém, e será transmitida pelo canal oficial do museu no YouTube.

Mais do que encerrar uma série de encontros, o evento simboliza uma virada: reconhecer que a Amazônia, enquanto bioma, memória e espaço de resistência, só pode ser protegida a partir da escuta atenta de quem a habita e a molda há milênios. É nesse diálogo entre ciência e tradição que se desenham caminhos legítimos para enfrentar a crise climática e construir um futuro sustentável.