COP30: presidente André Corrêa do Lago alerta para desafios de infraestrutura e pede foco na adaptação climática


A menos de dois meses da Conferência do Clima em Belém, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, reforçou que o Brasil ainda está distante de cumprir suas metas de desenvolvimento sustentável. Segundo ele, o principal gargalo é a infraestrutura urbana, insuficiente para preparar cidades diante de secas, enchentes e outros eventos extremos que se tornam cada vez mais frequentes.

Carol Custódio/SOS MG

Mitigação e adaptação lado a lado

Historicamente, as conferências climáticas deram mais espaço às metas de mitigação, voltadas à redução de emissões de gases de efeito estufa. Desta vez, Corrêa do Lago afirmou que a adaptação às mudanças do clima terá o mesmo peso e estará no centro das discussões da COP30. A prioridade será garantir mais recursos para governos locais investirem em obras de infraestrutura, especialmente em áreas com populações vulneráveis — as mais atingidas pelos desastres ambientais.

Ele lembrou que o financiamento climático global continua sendo um desafio. Enquanto se pleiteava a arrecadação de 1,3 trilhão de dólares anuais em recursos, o montante acordado na última conferência ficou em 200 bilhões. “A responsabilidade histórica da mitigação recai sobre os países industrializados”, destacou, acrescentando que a pauta climática deve ser tratada também como uma questão econômica, capaz de gerar empregos em cidades mais resilientes.

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Embaixador Andre Correa do Lago é o presidente da COP 30

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Pressão por hospedagem em Belém

Paralelamente às discussões técnicas, a logística da conferência segue como ponto de tensão. O aumento nos preços de hospedagem em Belém preocupa países em desenvolvimento e ameaça a participação de algumas delegações. Para evitar ausências, o governo federal e o governo do Pará confirmaram subsídios para garantir estadia a nações com menos recursos.

Segundo a Secretaria Extraordinária da COP30 (SeCOP), até a última semana 71 países já tinham hospedagem garantida. Ainda assim, algumas delegações europeias reclamam dos custos elevados e avaliam a possibilidade de reduzir o número de participantes. Apesar das dificuldades, a presença de representantes de 140 países já está confirmada.

A Defensoria Pública do Pará também acionou judicialmente plataformas de hospedagem que não atenderam às recomendações contra cobranças abusivas. A medida busca coibir preços três vezes acima da média praticada na alta temporada.

Participação da sociedade brasileira

Além da logística, avança o processo de credenciamento de representantes da sociedade civil, setor privado e governos subnacionais para compor a delegação oficial do Brasil na COP30. As inscrições ficam abertas até 30 de setembro no Portal do Brasil Participativo, com resultado previsto para a primeira quinzena de outubro. A etapa final de credenciamento será conduzida pela UNFCCC.

O governo federal reafirma que a delegação deve refletir a diversidade social do país, garantindo espaço para organizações, coletivos, povos tradicionais, sindicatos, além de empresas e representantes de estados e municípios. O objetivo é consolidar o Brasil como voz ativa na justiça climática e na defesa da Amazônia.

O desafio da COP30

A COP30 será a primeira conferência climática realizada na Amazônia. Para Corrêa do Lago, o evento precisa deixar como legado não apenas novos compromissos de mitigação, mas também avanços concretos na adaptação urbana e no financiamento climático. Belém será palco de uma discussão que combina ciência, economia e justiça social, e que definirá como o Brasil e o mundo podem responder aos impactos da crise climática já em curso.