Brasil assume liderança global em soluções climáticas


O Brasil voltou a ocupar o centro das discussões climáticas internacionais. Durante a 3ª Conferência Internacional sobre Clima e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (Icid III), realizada em Fortaleza, Marcelo Behar, enviado especial da COP30 para a área de Bioeconomia, afirmou que o país reúne as melhores condições para oferecer soluções ao mundo no enfrentamento da crise climática.

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Behar, que também coordena o Fórum de Governança Climática e Desenvolvimento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destacou que a Conferência da ONU em Belém será histórica por reunir os três grandes tratados ambientais nascidos da Rio-92: o da mudança do clima, o da biodiversidade e o da desertificação. Para ele, o Brasil não apenas sofre os impactos do aquecimento global, mas também se apresenta como protagonista na criação de alternativas sustentáveis.

Entre o desenvolvimento e o bioenvolvimento

O debate ganhou fôlego com a fala de Sérgio Xavier, coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC). Xavier defendeu que a regeneração de biomas e bacias hidrográficas deve se tornar eixo central de qualquer modelo econômico. Ele apresentou o contraste entre dois paradigmas: o “desenvolvimento” que exclui comunidades e degrada a natureza, e o “bioenvolvimento”, que coloca as pessoas no centro das soluções, com inclusão social, regeneração ambiental e saúde coletiva.

Segundo Xavier, os ciclos naturais devem servir de referência para políticas públicas e estratégias de mercado. Negócios, portanto, não podem se impor sobre os limites da natureza, mas sim dialogar com eles.

Ana Euler, diretora de Inovação e Negócios da Embrapa, reforçou que a soberania alimentar e climática precisa nortear a atuação global. Para ela, alianças entre governos, empresas e sociedade civil são indispensáveis. Como exemplo, citou os projetos desenvolvidos pela Embrapa para a Caatinga, que demonstram como pesquisa científica pode ser aplicada diretamente às realidades locais.

Euler destacou ainda que o Brasil já tem soluções em curso em diferentes estados e que a COP30 deve funcionar como vitrine dessas experiências, inspirando cooperação internacional.

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A voz das regiões semiáridas

A conferência também buscou dar protagonismo às chamadas “terras secas”. Antônio Rocha Magalhães, presidente do Icid III, lembrou que o semiárido costuma ter pouca visibilidade nos debates globais. Para ele, é fundamental que suas especificidades estejam refletidas nos acordos internacionais que sairão de Belém.

Karina Leal, secretária-executiva de Meio Ambiente do Governo do Ceará, reforçou a urgência da proteção da Caatinga, que cobre 92% do território do estado. Segundo ela, ações contra a desertificação não podem mais esperar.

A perspectiva de colaboração esteve também no discurso de Sônia da Costa, da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do MCTI. Ela apontou que o ministério vem apostando em grandes missões voltadas para comunidades resilientes e destacou a importância de tecnologias sociais, como o trabalho com sementes crioulas em parceria com a Embrapa. Para Sônia, investir em ciência só faz sentido quando conectado aos arranjos produtivos locais.

Agenda da bioeconomia brasileira

Marcelo Behar detalhou os três objetivos principais que a bioeconomia brasileira levará à COP30:

  1. Agricultura regenerativa – ampliar práticas agrícolas que recuperem solos e florestas, reduzam o desmatamento e fortaleçam a biodiversidade.

  2. Socioeconomia – garantir recursos e protagonismo para comunidades tradicionais e povos indígenas, abrindo mercados globais para produtos da sociobiodiversidade.

  3. Biotecnologia – expandir investimentos em biocombustíveis, incluindo combustível sustentável de aviação (SAF) e bio-bunker para transporte marítimo.

Essas metas apontam para um modelo econômico que se ancora na diversidade biológica do país e que pode servir como exemplo para outras nações.

O evento fez parte dos “Diálogos pelo Clima”, série promovida pela Embrapa dentro da Jornada pelo Clima, iniciativa que busca aproximar ciência, agropecuária e sociedade. A jornada tem apoio de diversas instituições, como o Senar, OCB, Nestlé, Bayer, IICA, Caixa Econômica Federal, Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), Morfo e OCP Brasil.

Ao reunir diferentes vozes, de cientistas a gestores públicos, de agricultores familiares a executivos de multinacionais, o encontro mostrou que o futuro climático não será construído de forma isolada. Para o Brasil, a COP30 é mais do que um palco: é a oportunidade de provar que sua combinação de biodiversidade, ciência e participação social pode inspirar caminhos globais para um futuro sustentável.