A preparação para a COP30, que acontecerá em novembro em Belém, ganhou um novo capítulo com a decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) de ampliar o apoio financeiro aos países em desenvolvimento. A medida busca garantir que nações com menos recursos possam enviar delegações à conferência, considerada um dos marcos globais no enfrentamento às mudanças climáticas.

O anúncio foi feito por Simon Stiell, secretário-executivo do Bureau da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), após reuniões com representantes da presidência brasileira da COP30. O valor da diária paga aos delegados dos 144 países em desenvolvimento contemplados pelo programa passará de 144 dólares para 197 dólares. Trata-se de um reajuste significativo, motivado pelos altos custos de hospedagem e alimentação em Belém durante o evento.
Representatividade em risco
A pressão pelo aumento surgiu de uma preocupação central: a possibilidade de que muitas nações em desenvolvimento, sobretudo da África, Ásia e Caribe, fossem sub-representadas na conferência por não conseguirem arcar com os custos locais. Críticos alertaram que isso poderia comprometer a legitimidade dos debates, já que os países mais vulneráveis ao aquecimento global ficariam sem voz ativa justamente na conferência que discute estratégias para conter a crise climática.
O reajuste das diárias foi apoiado pelo governo brasileiro, que assumiu a presidência da COP30. Para o Brasil, ampliar a representatividade é fundamental para dar equilíbrio político às negociações e reforçar o caráter multilateral do encontro.
Alojamento em pauta
A questão da hospedagem tem sido um dos pontos mais sensíveis da preparação. Nesta quarta-feira (17), ocorreu uma reunião entre representantes da Presidência da COP30, da Secretaria Extraordinária para a COP30, do Ministério das Relações Exteriores, do Governo do Pará e do UNFCCC. O encontro buscou alinhar estratégias para receber as delegações.
De acordo com levantamento dos organizadores, Belém conta hoje com mais de 42 mil quartos disponíveis, distribuídos em hotéis, navios atracados, imóveis intermediados por imobiliárias locais e plataformas de hospedagem digitais. A cidade vem sendo preparada para receber dezenas de milhares de participantes, entre diplomatas, especialistas, lideranças sociais e representantes de organizações não governamentais.

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Força-tarefa de recepção
Desde agosto, uma força-tarefa foi montada para atender individualmente as delegações estrangeiras. O trabalho inclui a reserva de hospedagem, o planejamento de transporte e a garantia de serviços básicos de apoio. Até o momento, 79 países já confirmaram suas acomodações em Belém, enquanto outros 70 ainda estão em negociação.
Apesar desse avanço, os preços elevados de hotéis e alugueis temporários continuam sendo um obstáculo para muitas delegações. O Brasil sugeriu à ONU a criação de um reforço emergencial de recursos que permita cobrir integralmente os custos dos países mais frágeis economicamente.
Uma conferência com tensões logísticas
Grandes conferências internacionais sempre enfrentam desafios logísticos, mas a COP30 tem especificidades que tornam a organização mais complexa. Belém é a primeira cidade da Amazônia a receber um evento desse porte. Sua infraestrutura urbana, hoteleira e de mobilidade ainda está em processo de adaptação para comportar o fluxo de participantes.
A expectativa é que mais de 50 mil pessoas circulem pela capital paraense durante os dias do evento, número que inclui não apenas delegados oficiais, mas também jornalistas, organizações da sociedade civil e visitantes interessados nas programações paralelas.
Nesse contexto, o aumento da diária custeada pela ONU surge como medida emergencial, mas também simbólica. Representa o reconhecimento de que o sucesso da conferência não depende apenas das grandes potências ou de acordos financeiros bilionários, mas também da capacidade de garantir voz às nações mais vulneráveis, que vivem cotidianamente os efeitos da crise climática.
Inclusão como estratégia
Mais do que resolver um impasse prático, a decisão amplia a legitimidade da COP30. Ao assegurar a presença dos países menos desenvolvidos, a conferência evita distorções e amplia a diversidade de perspectivas. São justamente essas nações que trazem experiências diretas sobre desertificação, migrações forçadas, elevação do nível do mar e perda de biodiversidade.
Assim, o aumento da ajuda financeira é mais do que uma questão de hospedagem. É uma afirmação de que a transição climática precisa ser construída de forma coletiva e justa, em que todos os países tenham espaço para apresentar suas preocupações e soluções.
Com esse gesto, a ONU e o Brasil enviam um recado ao mundo: a COP30 deve ser não apenas um palco de negociações técnicas, mas também um espaço de inclusão, justiça climática e responsabilidade compartilhada.





































