No coração de Belém, entre os dias 2 e 6 de outubro, o Hotel Beira Rio se tornou palco da primeira Cúpula de Jovens Líderes da Amazônia Legal, encontro que reúne 27 representantes vindos dos nove estados amazônicos. A poucos meses da realização da COP30, em 2025, o evento marca um movimento inédito: colocar a juventude amazônida no centro das discussões sobre o futuro da região e a formulação de políticas públicas de alcance nacional.

A iniciativa é organizada pelo Instituto Cojovem
Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável, entidade fundada em 2020 que atua em advocacy, pesquisa e formação, sempre com foco na defesa dos direitos socioambientais da juventude amazônida. O objetivo principal da Cúpula é fortalecer a participação dos jovens como atores políticos ativos, capazes de influenciar os rumos do desenvolvimento sustentável da Amazônia e a inserção das suas demandas nas negociações internacionais.
Durante cinco dias intensos de programação, o encontro se estrutura em painéis, oficinas e plenárias. Desse processo coletivo nascerão três produtos centrais: a Agenda Comum de Políticas Públicas, Projetos e Programas para as Juventudes Brasileiras; a Declaração Unificada dos Jovens Líderes da Amazônia Legal; e uma série de Policy Briefs com recomendações técnicas direcionadas a negociadores do governo brasileiro e parceiros internacionais.
Juventude amazônida como protagonista
Na abertura, o tom foi de pertencimento e representatividade. Para a diretora-executiva da Cojovem, Karla Braga, a Cúpula representa um passo decisivo para mudar a lógica de como se pensa a Amazônia: “estamos construindo uma agenda voltada para a juventude amazônida nos eixos da transição justa, mitigação climática e cultura. Queremos fortalecer as bases para que os tomadores de decisão mudem suas formas de desenvolver a região, envolvendo os jovens, que são os mais impactados pela crise climática ao longo do tempo”.
Esse protagonismo também foi ressaltado por Tel Guajara, liderança indígena do Maranhão, de 25 anos, que destacou a importância da troca de experiências: “esta é uma oportunidade coletiva de trocar vivências e construir caminhos em conjunto. A juventude amazônica enfrenta muitas adversidades, e espaços como esse garantem não só voz e protagonismo, mas também direitos e presença em locais de onde normalmente estamos distantes”.
Já o coordenador de Advocacy da Cojovem, Aldrin Barros, classificou a iniciativa como histórica: “durante uma semana de imersão, os jovens construirão diretrizes para projetos e programas voltados à juventude nos estados amazônicos. Essas diretrizes visam orientar e promover a efetividade das políticas públicas na região”.

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Temas urgentes no debate
Ao longo da programação, os jovens discutem questões que atravessam tanto a vida cotidiana nos territórios quanto os grandes desafios globais. Entre elas, o financiamento de cadeias produtivas sustentáveis, o papel das tecnologias e da inovação no fortalecimento das comunidades e a intersecção entre justiça social e justiça climática. Cada dia termina em uma plenária, onde as propostas são consolidadas em um processo de construção coletiva que valoriza a diversidade de vozes presentes.
A expectativa é que as resoluções produzidas no encontro se tornem referência no posicionamento oficial das juventudes amazônicas durante a COP30, ampliando a visibilidade internacional da região e garantindo que jovens lideranças tenham papel ativo nas negociações.
Uma trajetória de engajamento internacional
Apesar de ser jovem, a Cojovem já acumula presença em fóruns internacionais relevantes. A organização participou das últimas três Conferências da ONU sobre Mudanças Climáticas — realizadas no Egito, Emirados Árabes e Azerbaijão —, da Conferência de Bonn, na Alemanha, da COP da Biodiversidade na Colômbia e da Conferência Climática Regional de Juventudes Latino-Americanas, em 2024, em Belém.
Naquele mesmo ano, a instituição promoveu a Cúpula de Jovens Líderes do Pará, evento preparatório para a COP30 que reuniu delegações estrangeiras e lideranças juvenis brasileiras em torno de pautas como combate à fome, mudanças climáticas e reforma da governança global. A edição de 2025 amplia essa experiência ao nível da Amazônia Legal, reforçando a importância da juventude como articuladora de soluções.
Juventude amazônida: futuro e presente
Mais do que um evento preparatório para a COP30, a Cúpula em Belém é um marco no fortalecimento da juventude amazônida como protagonista de sua própria história. Ao articular ciência, cultura, inovação e ancestralidade, os jovens reafirmam que a Amazônia não é apenas território de recursos, mas de gente, memórias e futuros possíveis.
O encontro mostra que as soluções para a crise climática não virão apenas de laboratórios ou gabinetes de negociação internacional, mas também de territórios onde se experimenta diariamente a resiliência. Ao propor políticas públicas e recomendações técnicas, os jovens da Amazônia Legal dão um passo firme para transformar sua realidade e contribuir para o futuro do planeta.










































