O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender, em visita a Belém, a escolha da capital paraense como sede da 30ª Conferência do Clima da ONU (COP30), marcada para novembro. A menos de 40 dias do evento, Lula reagiu às críticas sobre a infraestrutura da cidade, em especial à rede hoteleira e aos preços de hospedagem, atribuindo parte das objeções a preconceito contra a Amazônia.

“Queremos garantir ao mundo que ninguém vai dormir pior aqui do que em qualquer lugar do mundo”, afirmou, em tom desafiador, durante cerimônia de inauguração do Parque Linear da Nova Doca. Para ele, o que falta em luxo será compensado pela hospitalidade da população paraense, capaz de abrir suas casas e oferecer aconchego às delegações internacionais.
A escolha de Belém e o debate sobre hospedagem
Desde o anúncio, a realização da COP30 em Belém gerou controvérsias. Diplomatas e organizações da sociedade civil apontaram limitações da rede hoteleira local, insuficiente para receber as mais de 50 mil pessoas esperadas. Além disso, os preços inflacionados pela alta demanda levantaram queixas de delegações estrangeiras, sobretudo de países africanos.
Lula reconheceu as dificuldades, mas destacou soluções já em curso. Uma delas é o programa de hospedagem alternativa, com famílias locais abrindo suas residências. Outra medida envolve o aluguel de dois cruzeiros de grande porte, capazes de abrigar cerca de 8 mil pessoas, ancorados no porto de Belém durante o evento. “Fomos atrás de navios desses que a gente só vê em novelas e filmes. Pois aqui vai ter dois para quem quiser dormir”, disse.
Além disso, o governo federal e o Governo do Pará prometeram assegurar hospedagem gratuita às delegações de países africanos, em parceria que também deve contemplar alimentação e transporte. O gesto busca reforçar o compromisso de solidariedade com o Sul Global, muitas vezes excluído das grandes negociações climáticas por restrições econômicas.

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Entre críticas e simbolismos
Para Lula, os questionamentos sobre a viabilidade de Belém como sede da COP não se limitam a questões logísticas. Segundo ele, há um componente de preconceito contra a Amazônia, vista por parte da comunidade internacional como incapaz de sediar um evento de porte global. O presidente, contudo, enxerga na conferência uma oportunidade de inversão simbólica: colocar a floresta, seus povos e suas cidades no centro das discussões climáticas.
“Esta COP não é um desfile de moda. Quero que as pessoas conheçam a Amazônia, os rios, as copas das árvores, o nosso povo, os indígenas brasileiros”, afirmou. O tom deixa claro que, para além da agenda diplomática, o governo pretende transformar a conferência em uma vitrine da diversidade amazônica e de sua centralidade no debate ambiental.
O apoio político local
Ao lado de Lula, o governador Helder Barbalho destacou o papel do presidente em manter Belém como sede, mesmo diante de pressões externas para a mudança. “Se essa COP não saiu de Belém, só devemos a uma pessoa: Luiz Inácio Lula da Silva. Eu sei o quanto a ONU tentou constranger e o quanto países tentaram constranger. Mas o senhor foi resiliente e corajoso”, declarou.
A fala de Barbalho reforça a leitura de que a COP30 também se tornou uma questão política doméstica. Para o Pará, a conferência representa oportunidade de investimentos em infraestrutura e visibilidade internacional. Para o governo federal, trata-se de afirmar protagonismo climático e projetar o Brasil como mediador entre países desenvolvidos e emergentes.
Comitiva ministerial e mobilização nacional
A visita presidencial contou com ministros de pastas estratégicas: Rui Costa (Casa Civil), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Jader Filho (Cidades), Margareth Menezes (Cultura), Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Celso Sabino (Turismo). Sabino, inclusive, marcou presença em sua última agenda no cargo, após decisão de deixar o governo a pedido do partido União Brasil.
A presença de ministros sublinha o caráter transversal da preparação da COP30, que envolve obras de mobilidade, saneamento, segurança, turismo, cultura e diplomacia. Em Belém, Lula também inaugurou a nova estação de tratamento de esgoto, reforçando o discurso de que a COP deve deixar legados concretos para a população.
Um palco global na Amazônia
A COP30, programada para ocorrer entre 10 e 21 de novembro, será a primeira conferência climática da ONU realizada na Amazônia. O evento não apenas reunirá chefes de Estado e negociadores, mas também milhares de ativistas, pesquisadores, representantes indígenas e movimentos sociais.
Ao insistir em Belém, Lula aposta que a visibilidade internacional ajudará a reverter estigmas históricos e a projetar uma imagem do Brasil como liderança climática. Para além das dificuldades logísticas, o desafio é garantir que a experiência amazônica se converta em força política no debate global sobre justiça climática.





































