Indústria brasileira quer que COP30 gere ações concretas e resultados mensuráveis


A menos de um mês da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em Belém (PA), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reforçou que a conferência precisa ir além das declarações políticas e entregar resultados concretos para o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, social e ambiental. A mensagem integra o documento “Visão da Indústria sobre a COP30”, apresentado durante o evento “Pré-COP30: O Papel do Setor Privado na Agenda do Clima”, realizado em Brasília.

Crédito: Gilberto Sousa.

O encontro, promovido pela CNI, reuniu representantes do governo federal, da Sustainable Business COP (SB COP) — coalizão global lançada pela própria confederação —, do setor empresarial e de instituições internacionais. O documento será levado oficialmente à COP30 como contribuição da indústria brasileira às negociações climáticas.

O setor produtivo como agente da transição

O presidente da CNI, Ricardo Alban, afirmou que o setor produtivo precisa assumir um papel de protagonismo e corresponsabilidade no combate às mudanças climáticas. “Todas as definições de uma COP são implementadas pelo setor produtivo. Por isso, precisamos ser cúmplices do processo. A economia e o ser humano devem estar no centro das decisões — não há desenvolvimento social sem desenvolvimento econômico”, declarou.

Alban dividiu a abertura do evento com Ricardo Mussa, chair da SB COP; Dan Ioschpe, high-level climate champion da COP30; e Hailton Madureira, secretário-executivo do Ministério das Cidades.

Para Mussa, a SB COP30 demonstra como o setor privado pode ir além do discurso e contribuir com entregas concretas. “Queremos falar de resultados e ação. As entregas da SB COP mostram que é possível alinhar o setor produtivo e o poder público em torno de soluções reais”, destacou. Já Ioschpe reforçou que as metas do Acordo de Paris só serão alcançadas se governos e empresas atuarem juntos. “Temos tecnologias e engajamento. A SB COP é um exemplo prático dessa cooperação.”

Madureira, representando o governo federal, lembrou que as cidades são fundamentais na adaptação às mudanças climáticas. “Não haverá justiça climática sem justiça urbana”, afirmou, destacando políticas e fundos que o ministério está estruturando para sustentabilidade urbana.

Financiamento climático e adaptação: os pilares do avanço

Entre as propostas apresentadas pela CNI para a COP30, o financiamento climático ocupa posição central. O Roadmap Baku-Belém, plano de ação que detalhará como mobilizar a Nova Meta Coletiva Quantificada (NCQG) — estimada em US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 —, é visto pela indústria como essencial para destravar recursos e garantir apoio aos países em desenvolvimento.

A CNI propõe a simplificação de processos em bancos multilaterais, a revisão das restrições associadas ao endividamento e incentivos ao financiamento de projetos de alta integridade ambiental. A entidade alerta que o déficit de recursos para adaptação pode chegar a US$ 359 bilhões anuais.

Outro ponto de destaque é a definição dos indicadores da Meta Global de Adaptação. A confederação defende que sejam flexíveis e mensuráveis, garantindo transparência e responsabilização, e sugere uma implementação gradual, com período de teste. “Os indicadores devem orientar políticas reais, atrair investimento e fortalecer os planos nacionais de adaptação”, diz o documento.

bfeffcc-400x267 Indústria brasileira quer que COP30 gere ações concretas e resultados mensuráveis
Crédito: Gilberto Sousa.

VEJA TAMBÉM: IPAM propôs ampliação de áreas protegidas para COP30 amazônica

Mercado de carbono: oportunidade estratégica para o Brasil

A CNI enxerga no mercado de carbono uma das maiores oportunidades para o país. O Brasil tem potencial para gerar créditos de alta integridade ambiental, com impacto direto na atração de investimentos.

A entidade defende que a regulamentação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) garanta integração entre o mercado nacional e os mecanismos internacionais previstos no Artigo 6 do Acordo de Paris. Essa articulação, segundo a CNI, é crucial para posicionar o Brasil como líder global na precificação de carbono.

Transição justa e comércio internacional

A transição para uma economia de baixo carbono deve respeitar a autonomia dos países, destaca a CNI. A entidade alerta que instrumentos como o Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono (CBAM), criado pela União Europeia, não podem se transformar em barreiras comerciais disfarçadas.

“A transição justa precisa levar em conta as realidades locais, sem criar novos entraves ao comércio global”, observa a confederação.

cacec-400x267 Indústria brasileira quer que COP30 gere ações concretas e resultados mensuráveis
Crédito: Gilberto Sousa.

SB COP: o protagonismo empresarial em escala global

Durante o evento, a SB COP apresentou resultados expressivos: recebeu mais de 670 propostas de empresas de 60 países e selecionou 48 iniciativas de destaque, 19 delas brasileiras. Os projetos contemplam desde a restauração de manguezais até a reciclagem de 5,5 bilhões de garrafas PET por ano.

A América do Sul teve protagonismo na seleção, com quase 60% dos cases vindos da região. A premiação ocorrerá durante a COP30, em Belém.

A SB COP também entregou ao presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago, um conjunto de 23 prioridades para acelerar a descarbonização global, entre elas a meta de triplicar a capacidade instalada de energia renovável até 2030.

Aliança pela ação climática

A participação da CNI na COP30 conta com a correalização do SENAI e do SESI, além do apoio institucional da ABEEólica, Amcham Brasil, CCAB, Sistema FIEPA, Instituto Amazônia+21, U.S. Chamber of Commerce e First Abu Dhabi Bank.

Entre os patrocinadores estão Schneider Electric, JBS, CPFL Energia, Suzano, Vale, Braskem, Hydro, Ambev, Syngenta, Itaúsa, IBRAM e PepsiCo.

“Com a COP30 no Brasil, temos a chance de transformar o discurso em investimento e competitividade”, concluiu Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.