Enquanto a conferência global do clima se aproxima, o Brasil avança na promoção de uma ideia audaciosa: transformar a preservação florestal em investimento sustentável. O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), idealizado pelo governo brasileiro, representa um novo modelo para financiar a conservação de florestas tropicais, que vai além das doações tradicionais e aposta na solidez dos mercados de capitais.

A essência do TFFF é simples, ainda que inovadora. Em vez de depender exclusivamente de doações ou de financiamento filantrópico, ele combinará aportes diretos de países e instituições com a emissão de títulos no mercado financeiro. O capital levantado será aplicado em uma carteira de longo prazo, cujo rendimento cobrirá os investidores e, em seguida, financiará os pagamentos aos países que comprovarem conservação de suas florestas. O mecanismo já foi apresentado durante a COP28 e se prepara para seu momento de descolagem na COP30 em Belém.
Por trás dessa lógica está uma provocação: e se preservar um ecossistema valioso como as florestas tropicais deixasse de ser apenas um custo para nações em desenvolvimento e passasse a gerar receita — para elas e para investidores? O TFFF almeja captar cerca de US$ 100 a 125 bilhões e gerar pagamentos na ordem de US$ 4 bilhões por ano aos países que mantêm suas florestas de pé.

VEJA TAMBÉM: Pesquisa investe em sementes florestais para restaurar três biomas brasileiros
Entre os países que o Brasil espera ver como parceiros estão Alemanha, Noruega, Reino Unido, França, Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos — candidatos estáveis para realizar aportes significativos antes ou durante a COP30. Esse tipo de demonstração internacional é crucial para dar escala e credibilidade ao mecanismo.
O modelo funciona mais ou menos assim: países ou investidores aportam recursos; o fundo investe esses recursos no mercado; parte dos lucros retorna aos investidores como remuneração; o excedente, ou o “spread”, é direcionado para os países que protegeram suas florestas tropicais — não quando derrubarem árvores, mas justamente porque mantiveram a cobertura florestal. Em contrapartida, para os países que não cumprirem os requisitos — por exemplo, taxas de desmatamento elevadas — haverá cortes nos pagamentos, ou penalidades elevadas, como valores reduzidos por hectare perdido.
O TFFF difere dos modelos tradicionais, como o REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), porque valoriza a floresta existente em pé em vez de recompensar apenas o desmatamento evitado. Isso representa uma inversão na lógica de incentivo: manter o que já está, e não só evitar fazer novo mal.
Mas os desafios são grandes. Estabelecer aportes firmes, garantir que comunidades indígenas participem de forma justa (o modelo prevê que pelo menos 20% sejam destinados a povos indígenas e comunidades locais) e desenvolver sistemas de monitoramento via satélite e critérios robustos para verificar os resultados são apenas algumas das tarefas.
Para o Brasil, sediar a COP30 em Belém (PA) torna o momento ainda mais simbólico. O país assume a presidência da conferência e posiciona o TFFF como uma de suas principais apostas para transformar a agenda do financiamento climático. Se der certo, o mecanismo poderá pavimentar uma nova era em que a conservação das florestas tropicais seja vista como investimento e não apenas como custo — e em que os que mantêm a floresta em pé sejam recompensados por isso.
Em última análise, estamos diante de uma mudança de paradigma: não mais perguntar “quanto custa preservar?” mas “quanto podemos ganhar preservando?”. E o TFFF surge para traduzir essa pergunta em resultados. A curva de aprendizado ainda existe; a implementação está por vir. Mas se os aportes vierem, se os mecanismos técnicos se consolidarem, e se a vontade política se mantiver, o Brasil pode estar abrindo caminho para um novo modelo de justiça climática — em que a floresta em pé deixa de ser apenas símbolo e passa a ser ativo econômico, socioambiental e estratégico para o planeta.





































