O Brasil desponta como protagonista de uma agenda que poucos imaginaram ocupar com tanta visibilidade: a descarbonização do transporte marítimo. Sob os holofotes da COP30, a ser realizada em Belém, uma aliança liderada pelo Grupo Náutica, sob o comando de Ernani Paciornik, vem transformando essa visão em realidade com o ambicioso projeto JAQ Hidrogênio. Tecendo parcerias com nomes como Itaipu Parquetec, GWM, MAN, Artefacto, Café Orfeu e Heineken, o movimento reafirma que o futuro “Net Zero” pode começar nas águas brasileiras.

A primeira peça dessa jornada é o barco JAQ H1, com 36 metros de comprimento e uma área equivalente a cerca de 400 m², concebido como laboratório flutuante. A estreia deste navio está marcada para 9 de novembro, véspera da abertura oficial da COP30, com operação elétrica a baterias de lítio — uma medida temporária que mantém o sistema de hidrogênio verde pronto para uso. Conforme descrevem os idealizadores, trata-se de uma plataforma para pesquisa em biomas marinhos e fluviais e educação ambiental, com “hotelaria” a bordo preparada para funcionar com hidrogênio – um símbolo do Brasil assumindo protagonismo tecnológico e climático.
O projeto está organizado por fases. Na primeira, durante 2025, o barco H1 será apresentado oficialmente na COP30, com sistema de hotelaria pronto para funcionar com hidrogênio verde. Na segunda fase, em abril de 2026, o navio será equipado com motores híbridos (em parceria com a MAN) e passará a reduzir emissões de até 80% durante a navegação. A terceira fase, planejada para 2027, prevê o lançamento do barco H2, de 50 metros, com tecnologia de produção de hidrogênio a bordo a partir da água do mar — dessalinização, eletrólise e células de combustível, num ciclo fechado e 100% livre de emissões.
Por trás desse cronograma há parcerias fundamentais. A Itaipu Parquetec, braço tecnológico da Itaipu Binacional, garante a produção do hidrogênio através de eletrólise alimentada por energia renovável, colocando o Brasil não apenas como palco, mas como fornecedor de soluções tecnológicas de ponta. A GWM e a MAN participam com expertise industrial em tecnologia de propulsão e células de hidrogênio. A Artefacto cuida da hotelaria e design de alto padrão. Heineken e Café Orfeu, por sua vez, entram como apoiadores estratégicos voltados à sustentabilidade, ampliando a repercussão e o impacto social do projeto.

O acordo com o Porto do Açu, a partir de 2026, para realização de estudos de viabilidade comercial, ambiental, jurídica e contábil reforça essa escala de ambição. O Brasil assume, desta forma, um papel duplo: o de palco da COP30 e o de laboratório global de navegação sustentável. Como observou o professor Irineu Colombo, diretor-superintendente da Itaipu Parquetec, “colocamos o Brasil na vanguarda da descarbonização do setor náutico”.
Há várias camadas de significado nesse movimento. Primeiro, ele demonstra que a transição energética não está reservada apenas aos transportes terrestres ou à geração elétrica: o transporte marítimo, historicamente um dos modais mais difíceis de descarbonizar, entra na linha de frente. Segundo, ao incorporar tecnologia e design nacional com parcerias internacionais, o projeto reafirma a competência brasileira em inovação tecnológica e sustentabilidade — e o faz reunindo uma cadeia diversa: tecnologia, indústria naval, hotelaria, cafés, bebidas, design. Terceiro, o protagonismo do Brasil se dá numa sala global: apresentar a embarcação na COP30 em Belém torna o país mais do que um participante da conferência — o torna palco e ator de seu próprio percurso de inovação climática.
Mas, como toda ambição, há desafios. O abastecimento de hidrogênio verde ainda esbarra na escala, na infraestrutura logística e no custo. Na fase inicial o barco operará com baterias elétricas por conta das exigências logísticas em Belém, antes de atingir a operação plena com hidrogênio. Há de fato uma estratégia de mitigação de risco, que começa por um sistema híbrido — o que é prudente, mas também evidencia que a maturidade tecnológica ainda está por vir. Portanto, o modelo serve tanto como laboratório quanto como vitrine: testar, documentar, provar que funciona e escalar. O símbolo da COP30 é, portanto, tão importante quanto a prática diária que virá depois.
Esse tipo de iniciativa também sinaliza para mercados internacionais: investidores, operadores portuários, estaleiros, autoridades regulatórias, que o Brasil está pronto para entrar na cadeia global da navegação neutra em carbono. Isso pode abrir mercado de exportação de tecnologia, de financiamento, de produção nacional. Fugir do “Brasil exportador de commodities” para o “Brasil exportador de tecnologia e soluções limpas” — essa é a ambição embutida. Como disse Paciornik: “Encontramos o parceiro ideal e juntamos os conhecimentos náutico e de navegação com o deles em hidrogênio”.
Em resumo, o projeto JAQ Hidrogênio representa mais do que barcos movidos a hidrogênio: representa o Brasil em movimento, disposto a liderar uma era mais limpa sobre as águas. A COP30 será sua vitrine, Belém seu palco, mas o que está em jogo é muito maior: um modelo replicável de descarbonização, com impacto em biomas, comunidades, indústria e economia. Se tudo der certo, o futuro zero-emissões da navegação poderá emergir de águas brasileiras — um símbolo e um salto rumo ao horizonte do transporte limpo.








































