Hackathon “Crimes Climáticos na Amazônia” convoca inovação para defender floresta e direitos


Em 18 e 19 de novembro de 2025 a cidade de Belém vai se transformar em ponto de encontro de ideias, dados e propósito climático. A Centro de Análise de Crimes Climáticos (CCCA Brasil), em parceria com o Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA), abre inscrições gratuitas para o Hackathon “Crimes Climáticos na Amazônia”, uma maratona de inovação voltada a desenvolver soluções que articulem direito, ciências sociais, tecnologia e dados em prol da Amazônia. O evento será realizado no campus Umarizal do CESUPA (Av. Alcindo Cacela, 1523), com cerimônia de premiação marcada para o dia 20 de novembro no Climate Hub da CCCA em Belém.

A Amazônia já sente os efeitos da crise climática. Seca, calor extremo e incêndios ameaçam ecossistemas e modos de vida tradicionais.

O tema é urgente e multifacetado: como enfrentar os crimes climáticos — aquelas práticas ilícitas que contribuem para a crise climática — de forma preventiva, emergencial e informativa, a partir das realidades e desafios da Amazônia? Crimes climáticos aqui são entendidos como degradação ambiental relevante, emissão de gases de efeito estufa ou comprometimento de estoques de carbono, em especial quando associados a cadeias extrativas ou ao agronegócio em estado de opacidade.

Mais do que um desafio técnico, o hackathon quer conectar disciplinas: direito, ciências ambientais, engenharia de dados, geografia, jornalismo, políticas públicas e mais. Equipes multidisciplinares terão até seis integrantes para propor protótipos em software aberto que respondam a três eixos principais: Prevenção — detectar e mitigar riscos; Resposta Emergencial — agir rapidamente em situações críticas; e Mapeamento Informativo — oferecer visualizações e indicadores que mostrem o status ambiental de áreas vulneráveis.

A dinâmica prevê inscrição até 13 de novembro de 2025, seleção de até 40 participantes entre 18 e 30 anos, presença obrigatória nos dois dias do evento e entrega de solução final até 19 de novembro às 16h. No dia seguinte, as equipes apresentarão suas propostas perante Comissão Julgadora e a melhor será premiada com R$ 3.000,00. A própria titularidade intelectual dos protótipos permanece com as equipes, enquanto os organizadores recebem licença de cinco anos para fins educacionais e de divulgação.

Esse tipo de iniciativa revela uma mudança de paradigma: antes, a luta contra desmatamento ou extração ilegal era conduzida como desafio isolado; agora ela passa a ter formato de “maratona de inovação climática” onde dados, tecnologia, ciência jurídica e participação social se combinam. No contexto amazônico, isso faz enorme sentido: as florestas enfrentam pressões múltiplas — madeira, mineração, agronegócio — que não se limitam à superfície visível. A apropriação ilegal de recursos, a abertura de vias clandestinas, o transporte sem licenciamento, tudo isso coloca em risco não apenas a floresta, mas comunidades inteiras e o equilíbrio climático regional.

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Bruno Kelly/Amazônia Real/Wikimedia Commons

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Ao olhar para a Amazônia como laboratório de inovação e terreno de disputa, o hackathon propõe fazer algo além de monitorar — propõe agir. “Prevenir, responder e informar” são os três verbos que sintetizam a orientação da chamada pública. Situações emergenciais, como incêndios ou ocupações ilegais, exigem conectividade entre atores: comunidades locais, órgãos ambientais, Ministério Público, tecnologia, ciência de dados. Ferramentas de denúncia rápida, triagem automatizada, visualização geográfica, alertas comunitários: tudo isso está no escopo do desafio.

É tal vez aqui que a interdisciplinaridade se torna vital. Uma ferramenta de mapeamento não se sustenta apenas com dados geoespaciais: é preciso que o direito previsto (licenças, artes de fiscalização, responsabilidade penal) esteja estruturado para encaixar a resposta. E ainda que a ciência dos dados seja usada para antecipar riscos, ela precisa se conectar com conhecimento antropológico, local, histórico — quem vive na Amazônia sabe que os mapas nem sempre captam as nuances das ocupações tradicionais. Por isso equipes com economia, antropologia, comunicação ou geografia são tão bem-vindas quanto aquelas com computação pura.

O hackathon também traça um caminho simbólico: ao ser realizado durante o período da COP30 em Belém, o evento conecta a escala local (Amazônia) à escala global (mudança climática, responsabilidade internacional). Isso sinaliza que os “crimes climáticos” — ainda que muitas vezes invisíveis — são parte da agenda maior da justiça climática, da responsabilização ambiental, da governança global. A iniciativa não se limita a denunciar, mas a empoderar: participantes vão trabalhar em ambientes reais de prototipagem, com mentores, com comunidade local, prestando contas ao território.

Há, claro, desafios. Realizar uma maratona de inovação com software livre, em dois dias, que produza protótipos úteis e aplicáveis não é trivial. Exige estrutura tecnológica, mentoria, dados, conexão com comunidades, instrumentos legais, licenciamento de uso, acesso à internet, boas práticas de equipe. A exigência de originalidade — nada de reutilização de códigos já existentes — enfatiza a inovação, mas também eleva a barreira. Ainda assim, esse tipo de iniciativa está cada vez mais alinhado à lógica de “hackathons de impacto social/climático” que vemos emergindo no mundo.

Para os participantes, isso representa uma oportunidade singular: trabalhar no epicentro da Amazônia, num evento que atrai visibilidade, criar redes de contato, aprender e, possivelmente, ver sua solução ganhar escala ou continuar em pós-hackathon com parceiros. Para o Brasil, é um sinal de que é possível reunir tecnologia, direito, ciência e comunidades para enfrentar realidades complexas — em vez de tratar a Amazônia apenas como vítima, tratá-la também como fonte de inovação.

Em resumo: o Hackathon “Crimes Climáticos na Amazônia” é mais do que uma maratona de codificação ou análise de dados; é uma convocação para pensar e agir em rede, com ferramentas, comunidades e territórios. Ele coloca a Amazônia no centro da agenda tecnológica e climática, e chama jovens, recém-formados e profissionais a contribuir para que os crimes que degradam o clima e a floresta sejam não apenas monitorados, mas prevenidos, contestados e transformados em dados, ações e protótipos que façam diferença.