Lula e a missão de reduzir o metano: um serviço histórico à Terra


O planeta já não está apenas em alerta — está em colapso. O aquecimento global avança em ritmo acelerado, provocando recordes sucessivos de temperatura, enchentes devastadoras e secas extremas. A crise climática, que durante décadas parecia uma ameaça distante, agora se impõe como realidade cotidiana em todos os continentes.

Luiz Inácio Lula da Silva , Presidente do Brasil

O Relatório Global de Pontos de Não Retorno 2025, elaborado por 160 cientistas de 23 países, confirma o que a comunidade científica vem advertindo: a humanidade ultrapassou um limiar perigoso. Os recifes de corais de águas quentes — que sustentam um quarto da vida marinha e garantem alimento e renda a quase um bilhão de pessoas — já colapsaram devido ao aquecimento dos oceanos.

O documento alerta também para novos riscos iminentes, como a morte progressiva da Floresta Amazônica e o derretimento irreversível das calotas polares. Trata-se de uma constatação científica, não de alarmismo. A humanidade está à beira de um ponto sem retorno climático, e apenas uma ação rápida e coordenada poderá evitar o pior cenário: o de uma “Terra Estufa”, onde a vida, tal como conhecemos, se tornaria insustentável.

O poder de agir agora: o metano como chave

Entre as medidas mais eficazes para frear esse processo está a redução das emissões de metano, um gás de efeito estufa 84 vezes mais potente que o dióxido de carbono nos primeiros 20 anos após ser liberado na atmosfera. Cortar essas emissões em 45% até 2030 poderia reduzir o aquecimento global de forma imediata, ganhando o tempo necessário para que outras ações — como a proteção da Amazônia e a transição energética — produzam efeito.

Essa é uma oportunidade que o Brasil, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode e deve abraçar. O país possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e um papel estratégico na governança ambiental global. A COP30, que será realizada em Belém, representa o momento ideal para Lula propor uma Aliança de Chefes de Estado pela Redução do Metano, unindo países em torno de metas comuns e medidas concretas.

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Imagem: Tatiana Grozetskaya / Shutterstock.com

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Lições e compromissos globais

O esforço internacional já tem bases sólidas. Em 2020, a Comissão Europeia propôs um acordo vinculante sobre o metano, reforçado pelo Parlamento Europeu no mesmo ano. No ano seguinte, durante a COP26, os Estados Unidos e a União Europeia lançaram o Compromisso Global do Metano (Global Methane Pledge), que hoje conta com o apoio de 159 países. O objetivo: reduzir as emissões globais em 30% até 2030, tomando 2020 como base.

O movimento se fortaleceu em 2024, quando 55 empresas de petróleo e gás — responsáveis por 45% da produção mundial — aderiram à Oil and Gas Decarbonization Charter, um pacto para eliminar a queima rotineira de gás e limitar a intensidade de metano a 0,2%. A China criou sua própria Aliança do Metano no Setor de Petróleo e Gás, e países como México e Colômbia adotaram padrões obrigatórios para controlar as emissões.

Apesar dos avanços, o desafio permanece gigantesco. Estima-se que apenas o setor de petróleo e gás desperdice, por vazamentos e queimas, uma quantidade de metano suficiente para suprir todo o consumo anual de gás da Europa. Esse desperdício não é apenas ambientalmente catastrófico — é também economicamente irracional.

Um pacto à altura do Protocolo de Montreal

Os especialistas Durwood Zaelke e Romina Picolotti, autores do artigo original, lembram que a mobilização global precisa ter a mesma força do Protocolo de Montreal, que nos anos 1980 salvou a camada de ozônio. O tratado foi o único da história a alcançar ratificação universal e é considerado o acordo ambiental mais bem-sucedido já assinado.

O Brasil, ao assumir protagonismo na pauta do metano, poderia escrever um novo capítulo dessa história. A liderança de Lula em temas ambientais, reconhecida desde o Acordo de Paris, dá ao país legitimidade para impulsionar um pacto global que una ciência, economia e política em torno de um mesmo objetivo: desacelerar o colapso climático antes que seja tarde demais.

As tecnologias para capturar e reaproveitar o metano já existem. Os benefícios econômicos são comprovados. O que falta é a decisão política — e, nesse ponto, o papel de Lula pode ser decisivo.

Ao lançar a Aliança de Chefes de Estado pelo Metano durante o segmento de alto nível da COP30, o Brasil não apenas consolidaria sua liderança ambiental, mas também prestaria um serviço histórico à Terra — um gesto capaz de redefinir o futuro do planeta e das próximas gerações.