ONU Mulheres pede ação climática com igualdade de gênero na COP30


Na COP30, em Belém, a ONU Mulheres transformou o debate climático em uma pauta de justiça e equidade. A organização chamou governos e negociadores a fortalecer o elo entre políticas ambientais e igualdade de gênero, defendendo que o combate à crise climática só será efetivo se incluir as mulheres em todas as suas dimensões — da mitigação ao financiamento.

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No centro das discussões está o novo Plano de Ação de Gênero (GAP), marco da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) que orienta como a perspectiva de gênero deve ser integrada à governança climática global. O documento, criado em 2017 e atualizado em 2019, será revisado durante a conferência para definir metas e compromissos da próxima década.

A ONU Mulheres alerta que, diante do agravamento da emergência climática e da crescente resistência a direitos das mulheres em várias partes do mundo, o novo GAP precisa ser transformador, inclusivo e dotado de recursos reais. Mais do que uma diretriz, o plano deve funcionar como ferramenta de responsabilização e transparência — um instrumento capaz de garantir que cada decisão climática considere também os impactos sociais e de gênero.

Igualdade de gênero como eixo da transição climática

A mensagem central da ONU Mulheres é clara: a igualdade de gênero não é uma questão acessória, mas estratégica. Sem a plena participação das mulheres, especialmente aquelas que vivem nas regiões mais vulneráveis, não haverá justiça climática nem eficácia nas metas do Acordo de Paris.

A organização defende que o novo GAP reconheça e apoie a diversidade das mulheres que sustentam a resiliência climática: indígenas, quilombolas, agricultoras familiares, trabalhadoras rurais, defensoras ambientais e jovens lideranças. São elas que, em seus territórios, preservam saberes e práticas ancestrais fundamentais para a conservação de ecossistemas e a adaptação às mudanças do clima.

Um GAP robusto deve, portanto, garantir recursos financeiros específicos, dados desagregados por gênero, metas mensuráveis e mecanismos claros de monitoramento. O objetivo é transformar compromissos políticos em resultados concretos — desde o acesso das mulheres ao crédito e à terra até sua presença nos espaços de decisão e formulação de políticas climáticas.

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Uma ferramenta para medir o progresso

Durante a COP30, a ONU Mulheres e o Kaschak Institute for Social Justice for Women and Girls lançam o Gender Equality and Climate Policy Scorecard, ferramenta inédita que avalia o grau de integração de gênero nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de cada país.

A primeira edição da análise examinou 32 NDCs apresentadas até setembro de 2025, observando seis dimensões: segurança econômica, trabalho de cuidado não remunerado, saúde, violência de gênero, participação e liderança, e transversalização da perspectiva de gênero. O resultado é um retrato global das lacunas e dos avanços nessa agenda.

O Scorecard revelou que a maioria dos países ainda trata a questão de gênero de forma limitada, restrita à adaptação e a ações pontuais. Áreas cruciais, como mitigação de emissões, perdas e danos ou financiamento climático, seguem sem incorporar plenamente o papel e as necessidades das mulheres. Para a ONU Mulheres, esses dados mostram a urgência de políticas mais estruturadas e orçamentos com recorte de gênero — um passo essencial para transformar intenções em impacto.

Mobilização e protagonismo feminino

Além do campo técnico, a COP30 também se tornou um palco de mobilização social. A ONU Mulheres vem apoiando a participação de redes feministas, organizações de base e lideranças de comunidades tradicionais em todo o processo preparatório e nas negociações. O objetivo é ampliar vozes, conectar experiências e fortalecer a incidência política das mulheres nas decisões sobre o futuro climático.

Em um contexto global de retrocessos em direitos humanos e aumento da polarização, o engajamento da sociedade civil é visto como um escudo democrático. As mulheres, que historicamente estiveram à margem dos espaços de poder, agora ocupam um lugar estratégico na definição das soluções. Elas trazem visões de mundo, prioridades e práticas que tornam a transição ecológica mais justa e sustentável.

Ao unir igualdade de gênero e ação climática, a ONU Mulheres propõe uma mudança de paradigma: não basta adaptar o planeta ao novo clima; é preciso reconstruir estruturas sociais e econômicas com equidade, solidariedade e justiça.

A COP30, realizada em Belém, marca um momento simbólico para o Brasil e para o mundo. No coração da Amazônia, onde a floresta e os direitos humanos se entrelaçam, o chamado é claro — sem as mulheres, não há futuro climático possível.