Belém volta a ser palco de decisões que podem redefinir o rumo da política climática global. Em uma reunião paralela à COP30, realizada ontem na capital paraense, Brasil, China e Reino Unido lideraram um encontro internacional sobre a redução de emissões de metano e outros gases de efeito estufa não-CO₂ — uma frente que especialistas consideram decisiva para manter o planeta dentro do limite de aquecimento de 1,5°C.

A cúpula contou ainda com representantes de Barbados, França e Alemanha, e teve o apoio da presidência da COP30. Também participaram organizações internacionais como a Climate and Clean Air Coalition (CCAC) e a Bloomberg Philanthropies, reforçando o caráter multilateral do debate.
A ministra Marina Silva e o secretário britânico Ed Miliband, responsável pela pasta de Segurança Energética e Net Zero, anunciaram o lançamento do Acelerador de Ação dos Países sobre Superpoluentes — uma iniciativa conjunta que busca apoiar 30 países em desenvolvimento na redução de emissões de metano e hidrofluorocarbonos (HFCs) até 2030.
A primeira etapa mobilizará US$ 150 milhões, com um investimento inicial de US$ 25 milhões destinado a um grupo de sete países — Brasil, Camboja, Indonésia, Cazaquistão, México, Nigéria e África do Sul. Em cada nação, serão criadas Unidades Nacionais de Superpoluentes, estruturas técnicas voltadas à coordenação de políticas públicas, inovação tecnológica e monitoramento contínuo das emissões.
“Gases de vida curta, como o metano, aquecem mais intensamente que o CO₂, mas permanecem menos tempo na atmosfera. Reduzi-los é a forma mais rápida e eficaz de frear o aquecimento global e diminuir a frequência de desastres climáticos”, afirmou Marina Silva, ao destacar que a mitigação desses poluentes pode ser decisiva para “ganhar tempo” na corrida pela descarbonização.

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O Reino Unido, por sua vez, apresentou um pacote de seis medidas para acelerar o corte das emissões de metano no setor de óleo e gás. O plano inclui monitoramento mais rigoroso, eliminação da queima rotineira até 2030, apoio técnico e financeiro a países de renda baixa e média, e o desenvolvimento de um mercado de intensidade de metano próximo de zero, que premiará empresas com desempenho ambiental mais limpo.
Para Ed Miliband, a agenda não se limita à retórica. “Reduzir o metano e outros gases de efeito estufa não-CO₂ é uma das maneiras mais rápidas de frear o aquecimento global e limpar o ar que respiramos. O Reino Unido tem orgulho de estar na COP30, trabalhando com parceiros internacionais para transformar ambição em ação concreta”, declarou.
A estratégia lançada em Belém reflete uma mudança de foco na diplomacia climática: enquanto o dióxido de carbono continua sendo o maior responsável pelo aquecimento, cientistas apontam que combater superpoluentes como metano, óxido nitroso e HFCs pode gerar ganhos imediatos. O metano, por exemplo, é 84 vezes mais potente que o CO₂ em termos de aquecimento nos primeiros 20 anos após sua emissão, mas se dissipa mais rapidamente. Essa diferença o torna um alvo crucial para políticas de curto prazo.
A reunião em Belém, segundo fontes da presidência da COP30, marca o início de uma agenda paralela voltada a soluções de implementação imediata. A proposta é que o Acelerador sirva como plataforma de colaboração técnica e financeira para países que precisam reduzir emissões sem comprometer seu desenvolvimento socioeconômico.
Ao final do encontro, representantes das seis nações presentes concordaram que os superpoluentes precisam ganhar centralidade nos próximos ciclos de negociação climática — não apenas como complemento, mas como eixo estratégico de ação. Para o Brasil, a iniciativa reforça seu papel de articulador do Sul Global e anfitrião de uma COP que se propõe a unir urgência científica, justiça climática e cooperação internacional.






































