Na capital paraense, durante o evento COP30, a Sedap participou de uma sessão estratégica chamada “Desafios e oportunidades para conectar a ação climática e a biodiversidade na Amazônia, por meio de investimentos em soluções baseadas na natureza de propriedade local”, realizada no dia 11 de novembro, no Museu Paraense Emílio Goeldi. Essa iniciativa, parte do ciclo denominado Estação Amazônia Sempre, reuniu representantes de comunidades tradicionais, pesquisadores e governos para debater como transformar boas intenções em políticas públicas efetivas para a Amazônia.
O painel contou com participação de múltiplas vozes: o mediador André Miccolis, ligado ao CIFOR‑ICRAF; a quilombola e pesquisadora Márcia Carmo Souza (Quilombo de Itamoari); o indígena e pesquisador Wendel Tembé (TI Alto Rio Guamá/IFPA Castanhal); o representante da Sedap, engenheiro de pesca Tiago Catuxo; e o professor Thomas Mitschein, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
A diversidade de perfis é um primeiro indicativo da tentativa de a Sedap e seus parceiros integrarem diferentes saberes — comunitários, acadêmicos, governamentais — na formulação de políticas baseadas na natureza.
Territórios, natureza e governança
Durante o encontro, Tiago Catuxo destacou que “o grande desafio de fazer política pública baseada na natureza é entender a diversidade de ambientes, territórios e culturas do Estado. O importante desse processo é construir essas políticas com as comunidades, elas não podem ser criadas dentro de gabinetes e aí há a necessidade de você ir aos territórios.” Esse reconhecimento coloca a Sedap numa posição de escuta e colaboração — ainda que, como o próprio painel indica, o caminho para implementação seja desafiador.
De fato, para Márcia Carmo Souza, no Quilombo de Itamoari, a ação climática na Amazônia passa por lidar com ameaças concretas como agrotóxicos, garimpo ou secas prolongadas: “Hoje nós somos constantemente ameaçados por conta do uso dos agrotóxicos, das secas e também do garimpo que é uma ameaça constante. O nosso objetivo é buscar projetos que apoiem as boas práticas, sem prejudicar o meio ambiente.” Sua fala evidencia que políticas ambientais precisam estar atreladas a justiça territorial, reconhecimento cultural e autonomia dos povos.
Por sua vez, Wendel Tembé trouxe à discussão o papel prático da agrofloresta como solução de segurança alimentar, conservação e justiça ambiental: “Esse projeto de agrofloresta para nós é a solução, porque a gente vai diminuir queimadas, diminuir o envenenamento e vai colocar comida de boa qualidade no nosso prato. O rumo é esse, procurar iniciativas, parceiros e autoridades do exterior para que os recursos cheguem aos povos indígenas, negros e quilombolas.” Essa afirmação conecta diretamente a biodiversidade local à economia de baixo carbono e à soberania alimentar.
Soluções baseadas na natureza: o que são e por que importam
A expressão “soluções baseadas na natureza” designa intervenções que aliam conservação ou restauração de ecossistemas à mitigação e adaptação climática, ao mesmo tempo que promovem bem-estar humano e justiça social. No contexto amazônico, isso significa cuidar de florestas, rios, biodiversidade e comunidades de modo interligado.
A Sedap, por meio de seu envolvimento no painel e na programação da COP30, sinaliza que está aberta a incorporar esse tipo de política pública no Estado do Pará — considerando não apenas a pesca e agropecuária, mas também cadeias produtivas sustentáveis, bioeconomia, territórios tradicionais e governança participativa. De acordo com o portal institucional, a Sedap formula, planeja e coordena políticas de desenvolvimento agropecuário e pesqueiro no Pará.

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A estrutura de participação: compromissos e agenda
O evento faz parte de uma programação mais ampla da Sedap na COP30. Na agenda divulgada, a Sedap participará de pelo menos três outras sessões:
Dia 12, às 15h30 – Painel “O papel da Política de Territórios Sustentáveis na transição para baixas emissões” (Sala Seringueira, Green Zone, Pavilhão Pará)
Dia 19, às 15h45 – Painel “Indicações Geográficas: Proteção de Saberes Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável” (Câmara Setorial de Agricultura e Economia Verde, Green Zone)
Dia 20, das 17h15 às 18h30 – Painel “Agricultura – Descarbonização e Agricultura de Baixo Carbono na Amazônia Legal”; seguido, das 18h45 às 19h45, de “Agricultura – Cadeias Produtivas e Sustentabilidade: Políticas Públicas para a Bioeconomia Amazônica”.
Essa multiplicidade de temas revela o escopo da atuação: do território à cadeia produtiva, da cultura à governança, da ciência à ação social.
Reflexão analítica: desafios e caminhos
O painel evidencia três grandes desafios para que políticas baseadas na natureza avancem de forma concreta na Amazônia:
Diversidade territorial – A Amazônia paraense não é uniforme. Territórios indígenas, quilombolas, ribeirinhos, assentados agrícolas e florestas convivem em mosaico. Fazer política pública “única” não funciona. Tal como Catuxo assinalou, é preciso “ir aos territórios”.
Integração de saberes – A inclusão dos saberes indígenas e tradicionais não é retórica: é central. Wendel Tembé e Márcia Souza mostraram que saberes locais, agroflorestas, práticas de conservação comunitária trazem eficácia, legitimidade e impacto. Ciência e tradição precisam se conectar.
Financiamento e governança – Projetos de Nature-Based Solutions requerem recursos, cadeias produtivas, mercado, infraestrutura, e sobretudo participação social. O painel apontou que muitos recursos ainda não chegam ou não fluem de forma justa para os que vivem nos territórios.
As políticas públicas, nesse cenário, devem caminhar no sentido de articular todos esses vetores — território, cultura, economia, ambiente — e não tratá-los de modo separado. Essa lógica sistêmica e intersetorial era justamente parte da mensagem central do painel organizado pela Sedap. Em síntese, “territórios sustentáveis” não são apenas reservas ou áreas de preservação, mas ambientes vivos de produção, cultura, clima e mudança.
Além disso, por se integrar à COP30 e à programação de alto nível em Belém, o evento fortalece a articulação entre o local e o global: a Amazônia deixa de ser cenário remoto e passa a ser laboratório de políticas climáticas. A Sedap, com essa participação, posiciona-se como elo entre governo estadual, comunidades e agenda internacional.
Com o painel “Estação Amazônia Sempre”, a Sedap reafirma que a construção de políticas de natureza não é tarefa de gabinete, mas de campo. Territórios, povos e ecossistemas precisam estar no centro da ação climática. O desafio é grande — mas a oportunidade também: a Amazônia pode se tornar referência mundial em soluções integradas, baseadas na natureza e orientadas para justiça e sustentabilidade.





































