Em um dos momentos mais simbólicos da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, o Governo do Brasil apresentou ao mundo a Iniciativa Global pela Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima, uma coalizão internacional que busca enfrentar o avanço da desinformação ambiental e fortalecer o acesso a informações baseadas em ciência.

A iniciativa, lançada originalmente em 2024 durante o G20 no Rio de Janeiro, foi desenvolvida em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e agora ganha força política com a adesão de 11 países: Brasil, Canadá, Chile, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Espanha, Suécia, Uruguai e Holanda.
Durante o evento de alto nível, o grupo divulgou uma declaração conjunta, reafirmando o compromisso global de garantir a integridade das informações sobre o clima e de proteger o espaço público contra a manipulação, o negacionismo e as ameaças à liberdade de imprensa.
O combate à desinformação como ação climática
“Esta é a primeira COP que traz a integridade da informação como tópico da agenda de ação”, afirmou João Brant, secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom). “Ao trazer a integridade da informação para o processo de cooperação, aprendemos uns com os outros — tanto no campo da ação climática quanto no da comunicação — e unimos forças para agir com urgência.”
A Iniciativa Global reúne governos, organismos multilaterais, universidades, sociedade civil e empresas de tecnologia em torno de um objetivo comum: garantir que o debate público sobre o clima seja pautado por dados confiáveis, ciência e transparência. Para Brant, o enfrentamento à desinformação é um pilar essencial da governança climática moderna.
Cooperação e pluralidade como princípios
O embaixador Benoît Faraco, chefe da delegação da França e responsável pelas negociações sobre mudanças climáticas e energias descarbonizadas, destacou o caráter colaborativo da iniciativa. “Não há uma solução única para combater a desinformação climática. Precisamos agir em conjunto — governos, ONGs, cientistas e empresas — porque todos somos afetados por esse fenômeno. É uma luta coletiva, em sintonia com a presidência brasileira da COP30”, afirmou.
A declaração firmada pelos países reconhece que as ameaças à integridade da informação não se limitam à disseminação de conteúdos falsos. Elas também envolvem ataques à liberdade de imprensa, restrições à investigação jornalística e insegurança para profissionais da comunicação, fatores que comprometem a transparência e a credibilidade do debate ambiental.
A iniciativa propõe ainda criar mecanismos internacionais de cooperação e financiamento para apoiar projetos de comunicação climática e jornalismo científico, com foco em países em desenvolvimento.

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Informação como infraestrutura da democracia climática
Segundo Brant, o documento lançado em Belém é abrangente e pretende inspirar políticas públicas nacionais e regionais. “As condições de sustentabilidade para o jornalismo e a segurança de quem produz informação são fundamentais. A integridade da informação é parte da infraestrutura da democracia climática”, declarou.
No Brasil, o governo já vem testando modelos práticos dessa política. Brant citou uma chamada pública promovida com apoio do Fundo da Unesco, que recebeu 500 projetos, dos quais 10 foram selecionados para receber investimento de R$ 1 milhão. “Com esses projetos, mostramos aos investidores onde os recursos são aplicados, criando transparência e segurança para quem quer apoiar essa causa”, explicou.
Um marco para a COP30 e além dela
A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, destacou que essa é a primeira conferência do clima a reservar dois dias inteiros à discussão da integridade da informação — um sinal claro de que o tema se tornou parte essencial das negociações climáticas globais.
A expectativa do grupo é que a declaração sirva como base para ampliar a coalizão e estimular novas fontes de financiamento dedicadas à comunicação responsável sobre o clima. A proposta também reforça a conexão entre integridade da informação e implementação do Acordo de Paris, consolidando o papel da informação verificada como ferramenta de ação e justiça climática.
Com a liderança brasileira, a Iniciativa Global surge como uma resposta concreta ao desafio contemporâneo de proteger a verdade em tempos de crise climática. Afinal, como indicou o tom da COP30, sem informação confiável, não há política climática eficaz — nem futuro sustentável possível.








































