A COP30, conferência do clima da ONU que acontecerá em Belém do Pará, se propõe a ser um marco na história das negociações climáticas. Em vez de apenas mais uma rodada de debates técnicos, a conferência busca mobilizar uma verdadeira ação coletiva global, aproximando governos, sociedade civil, setor privado e juventude das decisões ambientais.
Essa nova abordagem foi detalhada em uma carta oficial divulgada nesta segunda-feira pelo presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago. No documento, ele destaca a necessidade de traduzir decisões técnicas, muitas vezes distantes da realidade cotidiana, em ações concretas e de impacto imediato.
A Virada de Jogo do Clima
Inspirando-se no espírito do futebol brasileiro, Corrêa do Lago compara a COP30 a um time que precisa “vencer de virada”. Segundo ele, a conferência precisa responder à crítica recorrente de que há mais de três décadas as negociações climáticas avançam lentamente, sem resultados efetivos.
“A urgência climática nos obriga a essa ideia do mutirão, uma palavra que todo brasileiro entende e que agora o mundo vai descobrir”, afirmou o embaixador. “Precisamos juntar não somente os países, mas também a sociedade, o setor privado e a juventude para reverter esse cenário.”
O Descompasso Entre Acordos e a Realidade
A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, prevista para se concretizar em janeiro, exemplifica um dos principais desafios enfrentados pelas COPs: a dificuldade de alinhar acordos internacionais às mudanças políticas e econômicas de cada país. Embora o governo federal americano abandone oficialmente o pacto, Corrêa do Lago destacou que uma grande parcela da economia do país, incluindo estados, cidades e empresas, continua comprometida com as metas climáticas.
Essa desconexão entre os compromissos formais dos países e as ações concretas de suas economias e sociedades exige que a COP30 amplie seu alcance para além das negociações diplomáticas tradicionais.
Mobilização Ampla e Inclusiva
A ideia central da presidência da COP30 é convocar uma coalizão global de atores diversos, garantindo que as ações climáticas não fiquem restritas às salas de negociação da ONU. Entre as estratégias propostas estão:
- Engajamento do Setor Privado: Estimular empresas e investidores a adotarem práticas sustentáveis e compromissos climáticos ambiciosos.
- Participação Ativa da Juventude: Incentivar a mobilização de jovens e organizações sociais para pressionar por mudanças concretas.
- Apoio a Estados e Cidades: Trabalhar diretamente com governos subnacionais para implementar políticas climáticas, mesmo em países cujos governos centrais reduzam seus compromissos.
- Aceleração de Financiamentos Climáticos: Buscar meios de ampliar o investimento em soluções de baixo carbono e mitigação dos efeitos da mudança climática.
O Papel do Brasil e a Liderança na COP30
A realização da COP30 no Brasil coloca o país no centro das discussões globais sobre o clima. O evento também representa uma oportunidade para o Brasil fortalecer seu papel como líder na agenda ambiental internacional.
Apesar dessa posição estratégica, o Brasil ainda precisa definir seu Campeão Climático de Alto Nível, cargo essencial para conectar as decisões da conferência aos setores que não fazem parte diretamente das negociações da UNFCCC.
Desafios
O desafio da presidência da COP30 será demonstrar que a conferência pode ser mais do que um evento diplomático, transformando-se em um motor de mudanças efetivas e urgentes. Para isso, o envolvimento da sociedade, do setor privado e dos governos locais será fundamental.
A menos de um ano do evento, a expectativa é que a COP30 em Belém não apenas estabeleça compromissos, mas que se torne um verdadeiro marco de ação climática global. O sucesso dessa “virada de jogo” dependerá da capacidade de engajar múltiplos atores e transformar negociações em resultados concretos para o planeta.
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