Durante a COP30 em Belém, a visita do ministro do clima da Noruega, Andreas Bjelland Eriksen, ao Pará consolidou uma parceria simbólica entre conservação ambiental, desenvolvimento econômico e pecuária sustentável. No Sítio Santana, em Inhangapi, Eriksen conheceu de perto o programa estadual de Pecuária Sustentável, uma iniciativa que une boas práticas de manejo, rastreabilidade e produção responsável para proteger a floresta amazônica enquanto gera renda para produtores rurais.

O programa, conduzido pela Agência de Defesa Agropecuária do Pará — Adepará, estimula pecuaristas a adotarem sistemas modernos, incluindo a identificação individual de bovinos por meio de brincos numerados com chip bluetooth. Esse método, conhecido como “brincagem”, foi demonstrado na propriedade de referência com cerca de 300 cabeças de gado, além de diversificação agrícola com açaí, criação de abelhas para produção de mel, entre outras atividades. Para Eriksen, foi uma oportunidade de ver na prática que é possível conciliar a produção de carne com a conservação da floresta.
Um dos pilares do programa é o Sistema Oficial de Rastreabilidade Bovídea do Pará (SRBIPA), que já identificou individualmente mais de 300 mil bovinos em 1.105 estabelecimentos pecuários de 80 municípios. Essa rastreabilidade permite ao produtor controlar vacinas, idade, origem e histórico sanitário do rebanho — fatores cruciais para garantir saúde animal, qualidade do produto e também transparência para o mercado. Segundo a Adepará, a partir de 1º de janeiro de 2026, toda movimentação de bovinos deverá ser acompanhada pela GTA (Guia de Transporte Animal) e pelo sistema de identificação; e até janeiro de 2027, todos os animais deverão ter identificação individual.
Para o secretário de Estado da Agricultura Familiar do Pará, Cássio Pereira, a iniciativa representa uma caminhada decisiva em direção a uma Amazônia “com a floresta em pé”. Ele reforça que o programa oferece aos pequenos, médios e grandes produtores ferramentas que aliem produtividade, segurança sanitária e responsabilidade ambiental. É uma visão econômica que abraça a preservação, transformando a pecuária em instrumento de sustentabilidade.

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O produtor rural Manoel Cid, que participou da visita com a comitiva norueguesa, destacou os benefícios práticos: com a identificação individual, ele pode gerenciar seu rebanho com mais precisão, saber a origem dos animais, e tomar decisões embasadas sobre compra, venda e vacinação. Ele ressaltou que essa rastreabilidade representa segurança para o negócio, mas também compromisso com a natureza — um incentivo poderoso para continuar investindo em práticas que respeitam o ecossistema.
A diretora de Defesa e Inspeção Animal da Adepará, Graziela Oliveira, reforça que o Pará tem um papel pioneiro e que essa parceria internacional é estratégica para ampliar o programa. Ela celebra a extensão do apoio da Noruega até 2035, o que significa um horizonte mais seguro para consolidar a pecuária sustentável no estado. Segundo ela, o desafio é grande: tornar a identificação universal, garantir a adesão de todos os produtores, e fortalecer a infraestrutura para dar conta dessa ambição.
Além disso, a presença da Noruega reafirma a importância de alianças globais para a conservação amazônica. Eriksen elogiou o modelo paraense e afirmou estar satisfeito ao ver “as coisas acontecendo” concretamente. Ao estender o contrato de cooperação até 2035, o país escandinavo reafirma seu compromisso com uma produção rural que respeite os limites ambientais e produza com qualidade.
Essa parceria também envolve outras organizações: a visita de campo incluiu representantes da SEAF (Secretaria de Estado da Agricultura Familiar), da The Nature Conservancy (TNC), da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Pará (FETRAF-PA), da NatCap e da IDH — instituições que colaboram para fortalecer o uso de tecnologia, gestão responsável e rastreabilidade como ferramentas para uma pecuária que produz, mas que também conserva.
Do ponto de vista regulatório, a exigência futura de rastreabilidade integral representa um salto de governança. Quando todos os bovinos em circulação tiverem identificação individual, será possível rastrear cada animal desde o nascimento até o destino final, criando uma cadeia mais transparente e sustentável. Para produtores, isso significa mais credibilidade comercial; para o Estado, maior controle sanitário; para o planeta, menos incentivo à expansão ilegal de pastagem sobre a floresta.
A perspectiva política e ambiental desse programa reflete um modelo de desenvolvimento tropical diferente: não se trata apenas de parar desmatamento, mas de transformar a pecuária numa ferramenta de conservação. O Pará, por meio da Adepará, está mostrando que é possível ter uma pecuária moderna, produtiva e responsável — uma pecuária que gera emprego, renda e vida na floresta.
Essa visita do ministro da Noruega à COP30 e seu interesse pelo programa paraense representam mais do que diplomacia: são um reconhecimento internacional da estratégia amazônica. E, mais do que isso, apontam para um futuro em que o agronegócio, a inovação tecnológica e a sustentabilidade ambiental não sejam forças antagônicas, mas parceiras no cuidado com um dos ecossistemas mais valiosos do planeta.







































