Vigilância na floresta nacional do Amapá: Ibama e Sema-AP fortalecem manejo florestal sustentável


Uma significativa operação de fiscalização coordenada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na Floresta Nacional (Flona) do Amapá, localizada na região de Serra do Navio, reafirma o compromisso do Brasil com a gestão rigorosa e sustentável de seus recursos florestais. A vistoria, que contou com a participação crucial da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amapá (Sema-AP), insere-se nas diretrizes do Plano Nacional de Conservação da Biodiversidade (Planabio 2025) e tem como foco a checagem detalhada do cumprimento da legislação ambiental por parte da empresa concessionária responsável pelo Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS).

Foto: Fernando Augusto/Ibama

Esta ação de campo, que se estenderá por cerca de duas semanas, transcende a mera fiscalização, assumindo um papel de treinamento prático e intercâmbio de conhecimento entre as esferas federal e estadual. Analistas experientes do Ibama e da Sema-AP estão imersos na rotina da floresta, contando com o apoio logístico da empresa concessionária e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A presença de novos servidores do Ibama no campo é um ponto de destaque, proporcionando-lhes uma visão imediata e prática da aplicação dos sistemas de controle, como o Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) e o Sistema do Documento de Origem Florestal (DOF).

O Rigor da Verificação em Campo

O Plano de Manejo Florestal Sustentável em questão envolve a exploração controlada de recursos madeireiros dentro de uma área pertencente à União, concedida mediante autorização do Ibama. Para garantir que a atividade de exploração seja de fato sustentável e cause o mínimo de impacto, a equipe de vistoria se debruça sobre uma extensa lista de 140 verificadores. Estes itens funcionam como um checklist ambiental e operacional, cuja observância é obrigatória pela concessionária.

A checagem minuciosa abrange desde as técnicas utilizadas na extração da madeira, visando métodos menos danosos ao ecossistema, até aspectos cruciais de segurança e sinalização das vias de circulação de maquinário e veículos no interior da Flona. O não cumprimento ou a desconformidade com o estabelecido no Plano Operacional Anual (POA) pode resultar em notificações para correções imediatas ou, em casos mais graves, na interrupção de atividades específicas até que as incorreções sejam sanadas..

2025-11-18-tronco-com-identificacao-em-patio-do-plano-de-manejo-400x267 Vigilância na floresta nacional do Amapá: Ibama e Sema-AP fortalecem manejo florestal sustentável
Foto: Fernando Augusto/Ibama

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Rastreabilidade e Técnicas de Baixo Impacto

O trabalho de campo exige que os analistas se desloquem em viaturas 4×4, adentrando as estradas e alcançando os pátios de estocagem de madeira – áreas de tamanhos controlados, cuja abertura é previamente autorizada. Igualmente fiscalizadas são as trilhas de arraste, caminhos por onde máquinas adaptadas (como os skidders) transportam as toras até os pátios. O princípio orientador é a criação dessas estruturas com o menor dano possível à cobertura florestal circundante.

A derrubada de árvores, que podem atingir mais de 20 metros de altura, deve seguir protocolos estritos de segurança e mitigação de danos ambientais. Imediatamente após o corte, o tronco é identificado, apanhado e levado ao pátio. No pátio, as toras são organizadas e recebem identificação, facilitando o controle tanto pela empresa quanto pelas instituições públicas.

O cerne do manejo sustentável reside na rastreabilidade total da madeira. Cada árvore autorizada a ser extraída faz parte de um inventário florestal pré-aprovado. Essa identificação deve ser mantida em todas as etapas do processo: na árvore em pé (placa no tronco), na árvore cortada (identificação no toco e em cada seção do tronco), nas toras no pátio, e durante o transporte para o beneficiamento. Este ciclo de identificação alimenta os sistemas federais de controle do Ibama, como o Sinaflor e o DOF, assegurando a origem legal do produto, um requisito vital, especialmente no transporte interestadual.

O Ciclo de Sustentabilidade e Conservação

O manejo florestal sustentável se distingue radicalmente do desmatamento ilegal e do corte raso desordenado, que causam degradação muitas vezes irreversível. No PMFS, a extração é guiada por estudos prévios e normas ambientais que limitam rigorosamente a quantidade e a frequência da colheita. A cada ano, a concessionária só pode explorar uma única Unidade de Produção Anual (UPA). O plano de manejo, que engloba diversas UPAs, exige que a autorização de exploração seja renovada anualmente através de um POA.

São definidas as espécies que podem ser extraídas – via de regra, aquelas que são abundantes na natureza – e até mesmo a extração dessas espécies é limitada. Espécies protegidas ou ameaçadas de extinção são, sob qualquer hipótese, intocáveis. As normas estabelecem um período de 25 a 35 anos para que uma UPA possa ser explorada novamente, garantindo tempo suficiente para que a floresta se recomponha.

A presença de dois analistas da Sema-AP, que gerenciam planos de manejo estaduais, na vistoria do Ibama é um excelente exemplo de cooperação técnica dentro do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Como explica Aldine Luiza Pereira, analista ambiental recém-empossada do Ibama no Amapá, ver na prática a checagem de verificadores, a rastreabilidade da tora, o arraste e a derruba é crucial para complementar o conhecimento adquirido via auditoria de dados no escritório.

Ao final desta missão, o relatório técnico produzido servirá de base para aprimoramentos no PMFS vistoriado. Esta atividade, portanto, possui um caráter instrutivo e corretivo, visando não apenas punir, mas garantir a melhoria contínua da gestão florestal sustentável na Amazônia Legal, essenciais para a conservação de ecossistemas insubstituíveis.