Alemanha injeta 1bi e reacende força da COP30 em Belém


O nono dia da COP30 marcou uma inflexão importante nas negociações climáticas em Belém. Em meio ao impasse diplomático sobre adaptação, transição energética e o futuro dos combustíveis fósseis, um anúncio vindo da Europa provocou movimento imediato entre delegações e observadores. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, confirmou que o governo da Alemanha assegurou um aporte de 1 bilhão de euros ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa liderada pelo Brasil para remunerar países que mantêm suas florestas em pé.

Bruno Peres/Agência Brasil

O gesto alemão, aguardado desde a passagem do chanceler Friedrich Merz por Belém, reforça a ideia de que o TFFF começa a se consolidar como um dos novos pilares do financiamento climático global. Em declarações à imprensa ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina avaliou que a confiança alemã valida o desenho do fundo, que combina recursos públicos e privados para estimular a conservação das grandes florestas tropicais.

Com o anúncio, os compromissos já declarados ao TFFF ultrapassam a marca de US$ 6,5 bilhões. A ambição, porém, é bem maior: o plano prevê captar US$ 25 bilhões apenas de governos investidores, funcionando como catalisador para atrair capital privado e alcançar um volume total de US$ 125 bilhões destinados exclusivamente à proteção florestal. O mecanismo busca preencher um vazio histórico das políticas climáticas, que sempre destinaram muito mais recursos à redução de emissões em setores industriais do que à manutenção de ecossistemas essenciais.

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Bruno Peres/Agência Brasil

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Enquanto isso, Lula dedicou o dia a conversas paralelas e bilaterais com delegações estrangeiras, numa tentativa de destravar três frentes consideradas vitais para o resultado final da COP30: o acordo de adaptação climática, o capítulo sobre transição justa e, sobretudo, o mapa do caminho para reduzir gradualmente o consumo de combustíveis fósseis — responsáveis diretos pela maior parcela das emissões que impulsionam o aquecimento global.

O presidente, que já havia participado da abertura da conferência em 10 de novembro, retornou a Belém com o objetivo explícito de aproximar posições e criar condições políticas para a construção de consensos. Para Marina, a presença constante de Lula demonstra o peso que o governo brasileiro atribui ao tema. Ela destacou que a intervenção direta do presidente dá lastro político às propostas brasileiras e reforça o compromisso histórico com a proteção dos mais vulneráveis.

Em sua fala à imprensa, Lula reforçou a necessidade de mostrar ao mundo que a redução das emissões não é um gesto simbólico, mas uma decisão concreta que cada país deve tomar de acordo com suas condições. Sem falar em imposições nem prazos mandatórios, o presidente argumentou que a credibilidade da democracia e do multilateralismo depende da capacidade dos governos de responder às expectativas da população e agir diante da crise climática.

O presidente lamentou que, por décadas, o debate ambiental tenha sido tratado como assunto de nicho — restrito a especialistas, intelectuais e ambientalistas. Para ele, a emergência climática já é parte do cotidiano das sociedades e exige mudanças efetivas na forma como os países mais ricos cooperam com as nações em desenvolvimento. Lula voltou a defender a conversão de dívidas em investimentos ambientais e cobrou que empresas de energia e mineradoras contribuam mais para financiar a transição global.

A jornada presidencial em Belém foi intensa, mas breve. Ao final das reuniões, ele retornou a Brasília e se prepara para seguir a São Paulo antes de embarcar para a Cúpula do G20, na África do Sul, onde pretende reforçar o discurso de que a crise climática deve se tornar eixo central das políticas econômicas internacionais.

O anúncio alemão, somado ao esforço diplomático brasileiro, indica que o desfecho da COP30 ainda está em aberto. Mas revela também um movimento crescente: a percepção de que proteger florestas tropicais não é apenas uma pauta ambiental, e sim uma estratégia global para garantir estabilidade climática, segurança hídrica e condições mínimas para o desenvolvimento humano nas próximas décadas.