Brasil alcança 30 mil cavernas com nova descoberta em MG


Uma descoberta recente em Minas Gerais marcou um momento histórico para o patrimônio natural subterrâneo do Brasil. Com o registro da Gruta do Pica-Pau, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, o país chegou oficialmente à marca de 30 mil cavernas registradas no sistema nacional de cadastro. O registro, realizado pelo ICMBio / Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav), representa um novo capítulo para a espeleologia brasileira — seja para a ciência, para a conservação ou para o reconhecimento da enorme riqueza subterrânea do território nacional.

Foto: Diego Bento

A nova caverna e o marco simbólico

A Gruta do Pica-Pau — localizada na Fazenda Cordisburgo 2, dentro do Peruaçu — foi anunciada como a cavidade de número 30 000 no Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas (CANIE). O ID simbólico traz mais do que um número: consolida décadas de levantamentos, pesquisas e esforços coordenados para mapear cavernas, grutas e abismos naturais em todas as regiões do Brasil. Para os gestores do parque, o registro da Pica-Pau evidencia a complexidade geológica e a importância científica do Peruaçu, reforçando seu papel como um dos grandes complexos espeleológicos do mundo.

A gruta foi originalmente cadastrada por uma empresa de consultoria ambiental — processo requerido como parte de um estudo para regularização fundiária, num acordo de compensação espeleológica firmado entre o ICMBio e a empresa Vale S.A.. Além de contribuir para o mapeamento e o conhecimento técnico, a contabilização formal garante que a nova cavidade passe a fazer parte dos instrumentos de proteção e monitoramento ambiental do País.

Espeleologia em ritmo acelerado

O salto recente não é um passo isolado. O sistema de cadastro de cavernas brasileiro, o CANIE, vêm registrando milhares de novas cavidades ao longo dos últimos anos. Entre 2023 e 2024, foram cadastradas 2.668 novas cavernas — um crescimento de 11,41% sobre 2022 — elevando o total para mais de 26 mil naquele momento. Segundo o próprio ICMBio/Cecav, o avanço se intensificou em 2025, com o registro recorde que alcança os 30 mil sítios subterrâneos.

Esse ritmo crescente demonstra que o Brasil ainda tem um enorme potencial subterrâneo inexplorado — estimativas das autoridades indicam que há muito mais territórios por sondar, catalogar e estudar. A expansão do número de cavernas registradas reflete não só o trabalho de espeleólogos e pesquisadores, mas também o fortalecimento da legislação, das políticas públicas e do compromisso com a conservação do patrimônio espeleológico.

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ICMBIO/divulgação

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Por que cavernas merecem atenção

Cavernas e grutas cumprem papel essencial na estrutura ecológica e hidrológica do país. Elas armazenam água subterrânea, regulam aquíferos, conservam formações geológicas raras e abrigam espécies muitas vezes endêmicas — organismos adaptados a ambientes escuros, instáveis e isolados. Muitos desses ecossistemas subterrâneos também funcionam como laboratórios naturais: por sua sensibilidade às mudanças ambientais, oferecem pistas sobre impactos da mudança climática, poluição e alterações no uso da terra. No Brasil, onde a biodiversidade subterrânea ainda é pouco conhecida, cada nova caverna catalogada representa uma peça importante no quebra-cabeça ambiental e científico.

Além disso, unidades de conservação como o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu acumulam valor histórico e cultural. No Peruaçu, convivem paisagens dramáticas — com cânions, matas, formações rochosas — e sítios arqueológicos com vestígios de ocupação humana milenar, incluindo pinturas rupestres que remontam há milhares de anos. Essa sobreposição de natureza, história e geologia classifica o parque como patrimônio natural e cultural de valor excepcional.

Caminhos futuros: pesquisa, proteção e visibilidade

O registro da trigésima milésima caverna nacional é menos um ponto final que um novo começo. A visibilidade conquistada com o marco pode impulsionar a ampliação de estudos sistemáticos, o investimento em espeleologia e a conscientização sobre a importância desse patrimônio escondido. O uso intensificado de ferramentas como o CANIE — o Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas — assegura que novos sítios sejam devidamente registrados, mapeados e monitorados, com dados técnicos e geoespaciais precisos.

Para além da ciência, há também o desafio da preservação: garantir que cavernas e grutas sejam protegidas contra degradação, exploração indevida e impactos de atividades humanas. A regularização fundiária, exigida em muitos casos por licenciamentos ambientais, precisa caminhar junto com monitoramento e gestão territorial.

O fato de a Gruta do Pica-Pau surgir em um contexto de termo de compensação ambiental ilustra esse dilema — mas também aponta uma solução: a integração entre pesquisa, licenciamento e conservação pode assegurar que o patrimônio subterrâneo seja reconhecido e preservado.

Por fim, o registro estimula o turismo de natureza, desde que manejado com responsabilidade. Parques como o do Peruaçu, com sua combinação de natureza, patrimônio arqueológico e potencial espeleológico, podem se tornar referências de turismo sustentável, valorizando o meio ambiente, a educação patrimonial e o desenvolvimento local.

O Brasil, com seus 30 mil registros, reafirma que o subsolo também é parte central da riqueza natural e cultural do país. Mais do que celebrar o marco, é hora de consolidar políticas de proteção, pesquisa e valorização — para que cada gruta catalogada represente também um compromisso com o futuro.