O Acre integrou, no início de novembro, uma das formações mais amplas já realizadas pelo Programa Quelônios da Amazônia, reunindo especialistas de nove estados para fortalecer o manejo ambiental em territórios indígenas. A capacitação ocorreu entre 29 de outubro e 7 de novembro no Tabuleiro de Monte Cristo, tradicional área de reprodução da tartaruga-da-amazônia no rio Tapajós, em Aveiro, no Pará. O encontro, promovido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em cooperação com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), buscou alinhar metodologias, aprimorar instrumentos de monitoramento e atualizar diretrizes técnicas que orientam o manejo de quelônios em toda a Amazônia.

A iniciativa está ancorada no Acordo de Cooperação Técnica nº 33/2020, firmado entre Funai e Ibama, que estabelece bases para ações conjuntas de conservação da biodiversidade, especialmente em terras indígenas. Representando a Funai, participaram os servidores Amanda Bartolomeu e André Tarapanoff, ambos da Coordenação de Conservação da Biodiversidade e Recuperação Ambiental, estrutura vinculada à Coordenação-Geral de Promoção Ambiental e à Diretoria de Gestão Ambiental.
Amanda destacou que a presença das comunidades indígenas nas atividades de manejo é mais do que uma colaboração: é o eixo que sustenta a gestão ambiental nesses territórios. Para muitas etnias, os quelônios ocupam um lugar simbólico e prático na cultura, na alimentação e na memória coletiva. O encontro no Tapajós, segundo ela, reafirmou a importância do diálogo contínuo entre os conhecimentos técnico-científicos e os saberes tradicionais, que há décadas orientam práticas sustentáveis de manejo.
Na avaliação de André Nogueira Júnior, coordenador substituto do Programa Quelônios da Amazônia, a formação marcou um ponto de inflexão. Foi a primeira vez que o rio Tapajós recebeu um curso reunindo técnicos das duas instituições de forma integrada, fortalecendo uma trajetória construída desde os anos 1970, quando o programa foi criado para conter o declínio populacional da tartaruga-da-amazônia, do tracajá e do pitiú. Ao longo de quase meio século, o PQA se tornou uma das estratégias de conservação mais consolidadas no território amazônico, combinando pesquisa, fiscalização e manejo conservacionista.

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O curso foi direcionado aos coordenadores estaduais do PQA dos nove estados que compõem a área de atuação do programa: Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá, Pará, Mato Grosso, Tocantins e Goiás. Também participaram servidores da Funai que acompanham iniciativas de manejo indígena. Segundo o técnico do Ibama Raphael Fonseca, o objetivo principal foi nivelar os procedimentos de campo, especialmente para novos coordenadores que passam a integrar a rede de trabalho. A atualização ocorre no momento em que o Acordo de Cooperação Técnica entre as instituições passa por processo de renovação, o que reforça a necessidade de padronizar diretrizes, registrar boas práticas e fortalecer a atuação conjunta.
Durante os dias de campo, os participantes realizaram atividades essenciais ao manejo de quelônios, como identificação e proteção de ninhos, biometria e marcação de fêmeas, mensuração de ovos e monitoramento de variáveis ecológicas. Cada estado apresentou seus resultados recentes, oferecendo um panorama abrangente das iniciativas em curso. A Funai, por sua vez, compartilhou um diagnóstico atualizado sobre experiências de manejo conduzidas por povos indígenas, que têm se tornado referência em conservação comunitária e protagonismo local.
O Acordo de Cooperação Técnica nº 33/2020 orienta ações de monitoramento, conservação, recuperação e uso sustentável dos recursos naturais em terras indígenas. Ele se articula diretamente com a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas, a PNGATI, que reconhece o papel estratégico das comunidades na proteção da biodiversidade e no enfrentamento das pressões ambientais. A partir dessa base legal e institucional, Funai e Ibama programam um novo ciclo de ações conjuntas, que inclui a elaboração de materiais informativos, novas formações e estratégias reforçadas de apoio ao manejo indígena.
Criado há 46 anos, o Programa Quelônios da Amazônia se consolidou como uma política pública de longo prazo voltada à conservação de espécies emblemáticas e à construção de modelos de sustentabilidade que conciliam inclusão social, valorização cultural e preservação dos ecossistemas. A capacitação em Aveiro reafirmou esse compromisso, aproximando equipes, harmonizando metodologias e fortalecendo o papel dos povos indígenas como guardiões fundamentais das paisagens amazônicas.















































