A chegada do voo inaugural ligando diretamente Rio de Janeiro e Macapá marcou mais do que a abertura de uma nova rota aérea. O pouso da aeronave, lotada com 186 passageiros e cerca de 30 empresários fluminenses, tornou-se símbolo de um movimento mais amplo: o Amapá busca ocupar um espaço central nas discussões nacionais sobre economia, turismo e, sobretudo, sobre o futuro da exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira.

O governador Clécio Luís recebeu a delegação no Aeroporto Internacional de Macapá com a convicção de que o estado vive um momento raro de visibilidade estratégica. E não é exagero. Com a sede da Petrobras localizada no Rio de Janeiro e os avanços recentes nos estudos sobre a viabilidade petrolífera da costa amapaense, a nova ligação aérea reduz distâncias – físicas e simbólicas – entre dois polos que, a partir de agora, tendem a operar cada vez mais conectados.
Segundo Clécio, essa aproximação vem sendo construída desde a participação do governo amapaense na OTC, um dos principais eventos globais da indústria de petróleo e gás. Ele afirma que o voo é “resultado direto das conversas e articulações realizadas”, reforçando que o estado quer ser visto como um território preparado, confiável e aberto a investimentos.
A operação foi viabilizada graças à política estadual de incentivos fiscais, que reduziu a alíquota do querosene de aviação de 18% para 3%. A decisão tornou o Amapá um destino atrativo para companhias aéreas e abriu espaço para o acordo com a GOL Linhas Aéreas – responsável por operar o novo trecho – que complementa a já consolidada rota diária para São Paulo, operada pela Latam Airlines.
O voo G3 1158 decolou do RIOgaleão às 8h30, fez escala em Belém, e aterrissou em Macapá com ocupação máxima. A expectativa é de que o fluxo se mantenha intenso até o fim de 2025, já que todos os assentos estão vendidos até 31 de dezembro. Para além da demanda turística, o perfil dos passageiros revela um segundo movimento: empresários, investidores e representantes do setor de óleo e gás enxergam o Amapá como território emergente em um debate que vem ganhando escala global.
No aeroporto, representantes do governo e da iniciativa privada se reuniram para discutir oportunidades ligadas à Margem Equatorial – área vista por especialistas como uma das fronteiras mais promissoras do mercado energético. Entre os presentes estavam o vice-governador Teles Jr., parlamentares estaduais e municipais, além de lideranças do empreendedorismo, como Josiel Alcolumbre, do Sebrae Amapá, e representantes do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás.

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Para Wandemberg Pitaluga, diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Amapá, a nova rota representa mais do que mobilidade. Ele afirma que o estado está se colocando diante do país e do mundo como um território preparado, com governança capaz de receber novos negócios. Pitaluga destaca também o papel do Rio de Janeiro como epicentro tecnológico, corporativo e logístico da indústria petrolífera, o que torna a conexão natural e estratégica.
Enquanto o debate nacional sobre a Margem Equatorial ganha força, o Amapá tenta se posicionar de maneira singular: quer atrair investimentos, mas sem abrir mão do discurso de preservação ambiental que marca sua reputação. A mensagem é clara: o estado busca combinar desenvolvimento econômico, turismo fortalecido e participação ativa nas discussões sobre transição energética e novas fronteiras do petróleo.
Com o novo voo diário, o trajeto Rio–Macapá passa a ser feito com escala em Belém em ambas as direções. No sentido inverso, o G3 1159 decola da capital amapaense às 15h10, pousando no Rio às 20h45. É um movimento que, aos olhos do governo estadual, consolida o Amapá como parte integrante da agenda de investimentos do país – e não mais como território periférico às grandes decisões econômicas.
A rota aérea é apenas um dos sinais de que o estado começa a ocupar o centro das conversas nacionais. E, se depender do governo, empresários e instituições envolvidas, esse será apenas o início de uma transformação mais profunda na forma como o Brasil enxerga o extremo Norte do país.

















































