Crédito chega à base produtiva e fecha o ano com fôlego novo no Baixo Tocantins
No apagar das luzes de 2025, pescadores e piscicultores de Limoeiro do Ajuru, município do Baixo Tocantins, encerram o ano com um alívio raro: crédito rural liberado, projetos estruturados e perspectivas concretas de renda. Ao todo, cerca de R$ 950 mil começaram a ser liberados para 70 trabalhadores e trabalhadoras do setor pesqueiro e aquícola, viabilizando desde a continuidade da pesca artesanal até a implantação ou ampliação de sistemas de piscicultura adaptados à realidade local.

O recurso é fruto de uma articulação entre a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) e a Caixa Econômica Federal, por meio do Microcrédito Produtivo Orientado. O crédito alcança moradores da zona periurbana de Limoeiro do Ajuru e de seis comunidades ribeirinhas e rurais: Beiradão de Baixo, BR-422, Cupijó, Rio Anajás, Rio Japiim Grande e Rio Limoeiro, territórios onde a pesca e a produção de alimentos são mais do que atividades econômicas — são modos de vida.
Da pesca artesanal à piscicultura: diversificar para garantir renda e alimento
Os projetos financiados contemplam duas frentes centrais da economia local. De um lado, a pesca artesanal de espécies tradicionais como mapará e tainha, realizada nos rios Limoeiro, Pará e Tocantins, além de seus afluentes. De outro, a piscicultura, que vem se consolidando como alternativa estratégica para enfrentar períodos de restrição à pesca, especialmente durante o defeso.
O crédito permite o cultivo de espécies como tambaqui, tilápia e aracu em diferentes modelos produtivos: tanques escavados no solo ou tanques suspensos, construídos de acordo com as condições técnicas e financeiras de cada família. Em muitos casos, a piscicultura aparece integrada à criação de frango caipira, ampliando a diversificação produtiva, reduzindo riscos e fortalecendo a segurança alimentar.
Essa flexibilidade é um dos diferenciais do programa. Em vez de impor um modelo único, os projetos técnicos são desenhados sob medida, respeitando o conhecimento prévio dos produtores, o espaço disponível nas propriedades e o nível de investimento possível. Para algumas famílias, trata-se de aprimorar estruturas já existentes; para outras, de iniciar uma atividade totalmente nova.

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Assistência técnica como ponte entre o crédito e a realidade do produtor
O papel da Emater é central em todo o processo. A instituição atua desde a identificação das famílias aptas ao crédito até o acompanhamento contínuo dos sistemas produtivos, garantindo que o financiamento não se limite ao repasse de recursos, mas resulte em atividades sustentáveis e viáveis no longo prazo.
Segundo o chefe do escritório local da Emater em Limoeiro do Ajuru, o técnico em agropecuária e engenheiro agrônomo Edir Antônio Queiroz, cada projeto reflete a diversidade do território. Há tanques de alvenaria, estruturas com lona, formatos circulares ou retangulares, sistemas escavados ou suspensos. Essa multiplicidade não é vista como problema, mas como adaptação inteligente às condições locais.
Além da elaboração dos projetos produtivos, a Emater é responsável pela emissão do Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), pelas visitas técnicas de campo e pela orientação contínua aos produtores. Esse acompanhamento reduz riscos, aumenta a eficiência do investimento e fortalece a autonomia das famílias beneficiadas.
Microcrédito desburocratizado e inclusão produtiva no cotidiano ribeirinho
Outro aspecto que chama atenção é a forma como o crédito é operacionalizado. O Microcrédito Produtivo Orientado funciona de maneira totalmente digital, com contratação feita por aplicativo de celular, uso de biometria e prazos reduzidos. Em média, os contratos são assinados em até oito dias úteis, e os recursos podem ser liberados em até 30 dias.
A parceria entre a Emater e a Caixa Econômica Federal, por meio da Central de Atendimento ao Trabalhador e ao Vendedor Social (CactTVS), permitiu simplificar etapas que historicamente afastavam pequenos produtores do sistema financeiro. Para mulheres, o limite de crédito chega a R$ 15 mil; para homens, até R$ 12 mil — valores que, no contexto local, representam a diferença entre estagnação e possibilidade de crescimento.
O impacto vai além do aspecto econômico. Ao facilitar o acesso ao crédito orientado, o programa contribui para a permanência das famílias no território, reduz a vulnerabilidade social e fortalece cadeias produtivas tradicionais. Em regiões como o Baixo Tocantins, onde o calendário das águas define o ritmo da vida, iniciativas como essa ajudam a transformar períodos de escassez em oportunidades de reorganização produtiva.
Ao final de 2025, o que se observa em Limoeiro do Ajuru não é apenas a liberação de recursos, mas a construção de um caminho mais sólido para a pesca artesanal e a piscicultura familiar, com assistência técnica, crédito adequado e respeito às particularidades do território.














































