Cidades de São Paulo estão sendo contaminadas por agrotóxicos carregados pelas chuvas

Pesquisa da Unicamp detecta pesticidas em precipitações de chuvas que desaguam em municípios de São Paulo


Uma pesquisa recente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) trouxe à tona um alerta ambiental preocupante: as chuvas que caem sobre as cidades paulistas como Brotas, Campinas e até mesmo a capital do estado está contaminada por agrotóxicos.

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O estudo, publicado em revista científica internacional, evidencia os efeitos colaterais da atividade agrícola sobre o ciclo natural da água.

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Fonte: Abrasco

Compostos proibidos e persistentes no meio ambiente

Foram identificados 14 tipos diferentes de agrotóxicos, além de cinco substâncias derivadas. Entre os mais alarmantes está a atrazina, um herbicida que apareceu em 100% das amostras coletadas. Outro destaque é o carbendazim, fungicida já proibido no Brasil, que foi detectado em 88% das análises. O tebuthiuron, também herbicida, apareceu em três a cada quatro amostras.

Embora as concentrações não ultrapassem os limites máximos permitidos para a água potável, muitas dessas substâncias nem sequer possuem padrões de segurança definidos no país. A preocupação dos especialistas gira em torno dos efeitos cumulativos: mesmo em doses pequenas, a exposição contínua pode causar danos à saúde humana e ao equilíbrio dos ecossistemas aquáticos.

Agrotóxicos viajam com o vento e caem com as chuvas

Os pesquisadores explicam que os pesticidas usados nas plantações se volatilizam e são transportados pela atmosfera. Com a combinação de vento, temperatura e umidade, essas substâncias percorrem longas distâncias até se condensarem nas nuvens e retornarem ao solo com a chuva.

Em Brotas, por exemplo, o composto com maior concentração foi o herbicida 2,4-D, banido no Brasil desde 2023 por seus efeitos negativos comprovados na fertilidade humana. Outro agrotóxico preocupante encontrado foi o fipronil, presente em 67% das amostras. Apesar de liberado no Brasil, ele já é proibido em países como os Estados Unidos e os membros da União Europeia devido à sua alta toxicidade para abelhas e persistência no ambiente — sua meia-vida em água pode ultrapassar 220 dias.

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Fonte: Brasil de Fato

Uso da água da chuva acende sinal de alerta

Com o aumento das crises hídricas e a consequente utilização da água da chuva por comunidades para consumo, a presença desses compostos se torna ainda mais alarmante. Segundo os autores da pesquisa, é fundamental que haja a criação de estratégias eficazes de monitoramento e tratamento da água, baseadas no conhecimento científico já disponível.

Eles também reforçam a importância de políticas públicas que regulamentem de forma mais rigorosa o uso de agrotóxicos, além de investir em alternativas sustentáveis para o cultivo agrícola no Brasil.