A Amazônia volta ao centro da cooperação científica internacional com um novo investimento da Sociedade Max Planck, uma das instituições de pesquisa mais respeitadas da Alemanha. Até 2030, a organização aplicará 17 milhões de euros — o equivalente a cerca de R$ 106 milhões — em projetos de monitoramento climático e estudos atmosféricos realizados em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

O anúncio, feito pelo presidente da entidade, Patrick Cramer, reafirma o papel da ciência como aliada estratégica nas decisões políticas sobre o clima, sobretudo diante da COP30, que será sediada em Belém (PA) em novembro de 2025.
O principal foco do novo investimento é o Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO), um projeto conjunto entre o INPA e a Sociedade Max Planck. Localizado no coração da floresta, o observatório mantém uma torre de 325 metros — uma das mais altas estruturas científicas do hemisfério sul — que coleta dados sobre gases de efeito estufa, partículas atmosféricas e fluxos de carbono.
A floresta como laboratório vivo
Nos últimos dez anos, o ATTO tem revelado aspectos inéditos da interação entre a floresta e a atmosfera. Pesquisadores descobriram, por exemplo, que moléculas orgânicas emitidas pela vegetação amazônica alcançam altitudes muito maiores do que se imaginava, influenciando diretamente na formação de nuvens e chuvas. Essa dinâmica ajuda a entender como o bioma regula o clima regional e global — e reforça a Amazônia como um dos principais sumidouros de carbono do planeta.
Para Cramer, esses resultados representam mais do que avanços científicos: são peças fundamentais para a formulação de políticas climáticas globais. “A ciência não substitui a política, mas fornece os fatos que a tornam possível”, afirmou o pesquisador, ao destacar que dados robustos e acessíveis devem orientar os compromissos assumidos em conferências como a COP30.

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Riscos e desafios no coração da floresta
Apesar de seu papel essencial, a Amazônia vive sob forte pressão. O aumento das secas e cheias extremas, o avanço do desmatamento e o impacto das mudanças climáticas globais têm alterado o equilíbrio ecológico da região.
De acordo com as análises conduzidas pela equipe do ATTO, esses fenômenos já afetam o ciclo hidrológico, a fertilidade do solo e até o comportamento das espécies vegetais e animais.
A floresta, que tradicionalmente funciona como uma imensa bomba d’água natural — devolvendo umidade à atmosfera e mantendo o regime de chuvas —, começa a apresentar sinais de estresse. “Vemos riscos crescentes para o papel da Amazônia como reguladora climática”, explica Cramer. “É urgente proteger não apenas a floresta, mas também as pessoas que dela dependem.”
Ciência como ponte entre países
A cooperação entre Brasil e Alemanha na área ambiental remonta a décadas e se consolidou em torno de projetos como o ATTO, financiado de forma conjunta por agências de pesquisa e ministérios dos dois países.
Com o novo aporte, a Sociedade Max Planck pretende expandir sua atuação na América Latina, fortalecendo a rede de pesquisa climática e criando dois novos Centros Max Planck até 2026. Esses polos devem reunir jovens cientistas brasileiros e europeus em torno de temas como biodiversidade, biogeoquímica e modelagem atmosférica.
Segundo Cramer, o ambiente de colaboração científica criado nos últimos anos é um dos mais promissores do mundo. “Temos confiança na parceria com o Brasil e queremos ampliá-la. A Amazônia é um patrimônio da humanidade e também um laboratório fundamental para o futuro do planeta”, afirmou.
O papel do Brasil no avanço científico
Para o diretor alemão, o Brasil vive um momento de renovação institucional e otimismo, com o governo federal demonstrando disposição para retomar investimentos em ciência e tecnologia. A aposta é de que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), o CNPq e outras agências brasileiras possam se integrar ainda mais aos esforços internacionais.
“A excelência científica floresce quando os melhores pesquisadores têm liberdade para explorar suas ideias”, destaca Cramer. “Esse é o caminho para descobertas transformadoras e para uma cooperação que beneficie o planeta inteiro.”
Com a COP30 se aproximando, a nova fase do projeto ATTO simboliza não apenas uma aliança entre laboratórios, mas um compromisso entre nações: transformar conhecimento em ação concreta para enfrentar a crise climática e proteger o maior bioma tropical do mundo.







































