Cientistas brasileiros descobrem bactéria que transforma plástico em bioplástico

Autor: Redação Revista Amazônia

Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros revelou uma descoberta promissora no combate à poluição por plásticos: uma bactéria capaz de degradar resíduos plásticos e convertê-los em bioplástico de alta qualidade. O trabalho, publicado na revista Science of The Total Environment, avança no entendimento das enzimas e vias bioquímicas envolvidas nesse processo, abrindo caminho para soluções sustentáveis diante de um dos maiores desafios ambientais da atualidade.

Poluições por plásticos

A poluição por plásticos é um problema global urgente. Segundo dados do banco Credit Suisse, divulgados pela revista Exame, cerca de 350 milhões de toneladas de plástico são descartadas anualmente, sendo 40% desse total composto por embalagens. Apesar dos esforços de reciclagem, apenas 15% dos resíduos plásticos são reaproveitados, enquanto 46% vão para aterros sanitários e 17% são incinerados. Além disso, a reciclagem tradicional não oferece uma solução definitiva, já que os plásticos reciclados costumam ter qualidade inferior e acabam sendo descartados novamente após o uso.

Screenshot 2025 01 30 152329

Diante desse cenário, a equipe liderada pelo pesquisador Fábio Squina, professor da Universidade de Sorocaba (Uniso), em colaboração com cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal do ABC (UFABC), decidiu explorar o potencial de microrganismos para degradar plásticos e produzir bioplásticos. A pesquisa focou em comunidades microbianas encontradas em solos contaminados por resíduos plásticos, como polietileno (PE) e tereftalato de polietileno (PET).

Bactéria degradadoras de polímeros

Por meio de análises metagenômicas, os pesquisadores identificaram novas espécies de bactérias e enzimas associadas à degradação de polímeros. Um dos destaques foi a descoberta de uma linhagem da bactéria Pseudomonas sp, denominada BR4, que não só decompõe o PET, mas também produz polihidroxibutirato (PHB), um bioplástico de alta qualidade. Quando enriquecido com unidades de hidroxivalerato (HV), o PHB ganha maior flexibilidade e resistência, tornando-se ideal para a fabricação de embalagens sustentáveis e até mesmo para aplicações biomédicas.

“Sequenciamos os genomas de 80 bactérias presentes nas comunidades microbianas e identificamos espécies já conhecidas, além de novas, associadas à degradação de polímeros plásticos. Avaliamos o potencial genético de cada uma para produzir enzimas capazes de quebrar esses materiais”, explicou Squina.

Screenshot 2025 01 30 152122

Interações entre bactérias

O estudo também mapeou as vias metabólicas e os transportadores envolvidos na degradação e assimilação dos polímeros. “As comunidades microbianas demonstraram uma capacidade impressionante de degradar plásticos por meio de interações cooperativas entre bactérias e vias bioquímicas especializadas”, destacou o pesquisador.

Financiado pela FAPESP por meio de 13 projetos, o trabalho evidenciou o potencial das abordagens ômicas (como metagenômica e metabolômica) para descobrir enzimas e microrganismos capazes de converter plásticos de origem fóssil em biopolímeros. Além disso, a pesquisa sugere que a plataforma desenvolvida pode ser adaptada para outros tipos de plásticos, ampliando seu impacto. “Estamos explorando formas de aprimorar bioquimicamente enzimas e microrganismos para degradar plásticos ainda mais resistentes que o PET”, adiantou Squina.

Outro aspecto promissor é a possibilidade de utilizar esses microrganismos para produzir outros compostos químicos com aplicações em setores como agricultura, cosméticos e indústria alimentícia. No entanto, o pesquisador ressalta que mais estudos são necessários para validar as descobertas em condições ambientais reais e otimizar o desempenho dos microrganismos.

Impacto global da poluição por plásticos

A urgência em encontrar soluções para a poluição por plásticos é evidente. Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alerta que o plástico representa 85% dos resíduos que chegam aos oceanos. Até 2040, o volume de plástico que flui para os mares pode quase triplicar, ameaçando ecossistemas marinhos e espécies como plânctons, moluscos, tartarugas, aves e mamíferos. Além disso, corais, manguezais e ervas marinhas correm o risco de serem sufocados por detritos plásticos, que impedem a passagem de oxigênio e luz.

Outro problema emergente é a contaminação por microplásticos, que já estão presentes no solo, na água e no ar, além de se acumularem em órgãos humanos. Enquanto os governos avançam lentamente na implementação de políticas para conter a crise, a comunidade científica tem se mobilizado para desenvolver tecnologias inovadoras.

Importância da pesquisa

O estudo brasileiro é um exemplo desse esforço, oferecendo uma abordagem biotecnológica que pode transformar resíduos plásticos em materiais sustentáveis e de alto valor agregado. “Além de reduzir a poluição, essa tecnologia pode gerar produtos úteis para diversas indústrias, contribuindo para uma economia mais circular”, concluiu Squina.

O artigo completo, intitulado Plastic-degrading microbial communities reveal novel microorganisms, pathways, and biocatalysts for polymer degradation and bioplastic production, está disponível em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0048969724050253?via%3Dihub.


Grupo de WhatsApp

Receba notícias diretamente no seu WhatsApp, sem a necessidade de procurar em vários sites ou aplicativos. Com o nosso grupo de WhatsApp, ficar informado nunca foi tão fácil!

Para se juntar ao nosso grupo, basta clicar aqui.

 

Canal de WhatsApp

Receba notícias diretamente no seu WhatsApp, sem a necessidade de procurar em vários sites ou aplicativos. Com o nosso canal de WhatsApp, ficar informado nunca foi tão fácil!

Para se juntar ao nosso Canal, basta clicar aqui.

Edição atual da Revista Amazônia

Assine para receber nossas noticia no seu e-mail

* indica obrigatório

Intuit Mailchimp